``O novo prefeito terá poderes muito limitados devido à sua falta de poder real sobre as questoes fiscais', avalia o professor Mark Kleinman, especialistas da London School of Economics.

O prefeito administrará um orçamento anual de 3,5 bilhoes de libras (US$ 5,6 bilhoes), concedidos pelo governo central. Será responsável pela gestao diária do transporte e da política de investimentos públicos do capital, através de duas agências especializadas. O ministro do Interior continuará tendo poderes sobre a polícia, delegando apenas uma parte deles ao prefeito.

O próximo prefeito será o primeiro na história da Londres a ser eleito diretamente para um mandato de quatro anos. Tem uma base eleitoral individual notável, a mais importante do país: 5 milhoes de eleitores. Isso permitirá ter notoriedade e legitimidade para representar a cidade, apesar de ser apenas um ``intermediário' entre o poder central e os poderes locais. Londres, o primeiro mercado financeiro da Europa, está a um passo de eleger Ken Livingstone, ``o vermelho', como prefeito, numa eleiçao rica em paradoxos. A campanha pelo mandato eleitoral mais importante da Gra-Bretanha termina sem grandes surpresas em funçao do favoritismo de Livingstone.

Ken Livingstone: Segundo as últimas pesquisas, ``Ken, o vermelho', 54 anos, obteria 51% das intençoes de voto, uma cômoda vantagem de 34 pontos sobre seu adversário, o conservador Steven Norris.

A megalópole que abriga a City, templo do capitalismo mundial, onde mais de um milhao de pessoas trabalha nas finanças, causará uma revoluçao incrível ao optar por um homem conhecido por suas bravatas esquerdistas.

O atual deputado de Brent East (Noroeste de Londres) já advertiu que jamais receberá em sua capital uma reuniao da Organizaçao Mundial do Comércio e acha que o sistema financeiro mundial já fez mais vítimas do que Hitler.

Os eleitores, no entanto, nao se perturbam com suas declaraçoes e, em compensaçao, recordam que, quando liderava a municipalidade nos anos 80, Ken Livingstone foi quem reduziu em 32% o preço dos transportes públicos.

O voto em Livingstone parece de fato uma travessura à qual se permitem os londrinos, uma espécie de relax em uma vida de estresse e cansaço, explicam os sociólogos.

Também é uma brincadeira com os ``golden boys da City', que fazem os preços do mercado imobiliário subir a níveis extremos.

``Londres tem uma estrutura diferente de muitas cidades européias, com um centro relativamente rico, mas, no interior, tem bairros muito misturados e, às vezes, abertamente pobres', como o famoso East End e suas ruas que podem ser vistas a dois passos do centro muito rico, recordou Tony Travers, diretor de pesquisas da faculdade London School of Economics.

A eleiçao de Livingstone também representa um chamado de atençao ao primeiro-ministro Tony Blair, que fez todo o possível para impedir a vitória de um candidato à prefeitura, o qual considera um ``esquerdista irresponsável'.

``As pessoas desejam de alguma maneira punir Tony Blair por ter dado a impressao de querer controlar o desenvolvimento da eleiçao', analisou Martin Boon, diretor associado do Instituto de Pesquisas.

Paradoxalmente, segundo todas as pesquisas até a presente data, esta votaçao confirmará de forma maciça o próprio Blair durante as próximas eleiçoes legistlativas de 2002.

Trata-se de uma curiosa recompensa para um primeiro-ministro que deu à capital, pela primeira vez ao longo de sua história, o direito de eleger por voto direto seu prefeito.

Londres, com seus 7,2 milhoes de habitantes, dez vezes maior do que Paris, foi seduzida mais pela personalidade de Ken Livingstone do que por suas idéias, segundo os analistas.

Os programas dos candidatos sao pouco conhecidos e a campanha consistiu fundamentalmente em agradar as diversas ``tribos' de uma metrópole de 300 línguas. Dessa forma, alguns assistiram as festas indianas, outros bajularam os irlandeses ou cortejaram os influentes grupos homossexuais.

``Ken' tem vantagem sobre seus adversários por sua imagem rebelde e, sem maiores inibiçoes, se exibe ao lado de ``drag-queens', percorre a cidade em ônibus cor de púrpura, tocando música tecno e ofuscando por completo o candidato conservador Steven Norris e o trabalhista Franck Dobson.

História: Londres era dotada de uma espécie de conselho municipal, o Greater London Council (GLC), dissolvido pela primeira-ministra conservadora Margaret Thatcher em 1986, depois de um interminável confronto com o dirigente da cidade, Ken Livingstone.

O prefeito nao era eleito por voto direto. O GLC funcionava como uma super administraçao com 20 mil funcionários.

Desde a dissoluçao do GLC, a gestao de Londres era compartilhada entre o governo central e os conselhos locais da capital.