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PCC assume favelas de Sto.André; diminui morte por disputa de 'boca'
Por Gabriel Batista
Do Diário do Grande ABC
09/04/2006 | 07:53
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O domínio da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) em praticamente todos os pontos de venda de drogas em Santo André fez cair os homicídios na cidade. Um levantamento feito pelo chefe de investigação da Delegacia de Homicídios de Santo André, Ramiro Diniz Júnior, conclui que a hegemonia da quadrilha afastou traficantes rivais e cessou conflitos pelo controle das favelas. Com isso, o número de assassinatos na cidade diminuiu de 202 casos em 2003 para 93 em 2005. Apesar da trégua, o tráfico ainda é a principal causa de execuções no município.

Ramiro Diniz realizou a pesquisa sobre os homicídios para orientar o planejamento da polícia na cidade. Ele levou em conta as informações dos últimos três anos. No estudo, verificou-se que 38% dos assassinatos em Santo André ocorrem na área do 6ºDP. Mais de um terço do total. Os bairros recordistas são o Jardim Santo André e o Jardim Santa Cristina. Mas a matança é freqüente também em locais como o Sítio dos Vianas, Jardim Irene e Cata Preta. Em 2003, a região do 6º DP detinha 45% das mortes.

"Tínhamos informações de que havia uma disputa entre traficantes. Na região do Jardim Santo André, por exemplo, o PCC deu um ultimato para um grupo de criminosos caseiros sair de lá. Mas eles se negaram a abandonar o bairro. Isso originou uma seqüência de mortes. Agora, predomina esse pessoal do PCC", diz Ramiro Diniz.
  
A área que ocupa o segundo lugar na concentração de homicídios é a do 3º DP, com 22% dos 444 homicídios que ocorreram em Santo André nos últimos três anos. Nessa região da cidade, o tráfico se encontra estabelecido principalmente no Jardim Cristiane, Cidade São Jorge e favela do Cigano.

O 1º DP do município, fixado no Centro, bairro Casa Branca e Jardim Bom Pastor, detém a região com a menor parcela de execuções, com 5,6% do total.

O delegado seccional de Santo André, Luiz Alberto de Souza Ferreira, afirma que a polícia está identificando os criminosos que atuam nas áreas mais críticas com o objetivo de tirá-los de circulação. "Isso não ocorre da noite para o dia. Estamos formulando um banco de dados sobre esses traficantes e continuaremos aplicando ações repressivas nesses locais", diz o seccional.
  
Há motivos para o tráfico se fortalecer nos pontos de exclusão social. De acordo com o chefe de investigação, Ramiro Diniz, fatores como concentração de favelas e as divisas entre cidades facilitam a instalação do crime organizado. "Os traficantes se aproveitam da pobreza dos moradores para agradá-los com remédios e cestas básicas. Com isso, impõem sua lei, e algumas pessoas pagam com a vida. Já as áreas de divisa servem de rota de fuga em uma eventual emergência", diz.
  
A conclusão do levantamento da polícia é tida como coerente pela pesquisadora Luzia Fátima Baierl, coordenadora do Núcleo de Violência da Faculdade de Serviço Social da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). Luzia realizou uma pesquisa sobre medo social no Jardim Santo André entre 2001 e 2002. Ela conta que, na época, o bairro era dividido por até quatro pedaços, dominados por quadrilhas diferentes. "O maior problema era mesmo a briga entre os grupos. Uma grande quantidade de homicídios ocorria por causa desses conflitos", diz a pesquisadora.
  
A facção PCC foi criada em 1993, na Casa de Custódia de Taubaté, com o objetivo de melhorar as condições de vida dos presos. O grupo cresceu e, em 2001, ganhou projeção ao organizar 29 rebeliões simultâneas em todo o Estado. Hoje, o PCC domina o tráfico de drogas na Grande São Paulo e outras regiões do Estado.




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