Setecidades Titulo São Bernardo
Comerciante em
BMW mata motoboy

A vítima voltava do trabalho quando foi arrastada por veículo
na Via Anchieta; ele fazia bico de segurança em uma pizzaria

Luiz Gomes
Rafael Ribeiro
30/04/2013 | 07:00
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O motoboy José Francelino Júnior, 41 anos, morreu na madrugada de ontem após ser atropelado e arrastado por aproximadamente 800 metros por um BMW 125i M Sport laranja. O acidente aconteceu na altura do km 15 da Rodovia Anchieta, sentido Capital, em São Bernardo.

Morador do Parque Regina, na Zona Sul da Capital, Júnior voltava para casa de moto após mais uma noite de trabalho. Aos fins de semana e feriados, ele fazia bico de segurança em uma pizzaria na região central de São Bernardo. Durante a semana, era motoboy.

"José sempre esteve com a gente, era muito presente. Sustentava a casa de dois cômodos onde a família vive. Às vezes, chegavam até a passar necessidades. Sinceramente não sei o que será deles agora", disse o cunhado da vítima, que preferiu não se identificar.

As dificuldades que serão enfrentadas daqui para frente eram as menores das preocupações de Lucas Vinicius Mariano, 18, o mais velho dos quatro filhos de Júnior. Abalado, o jovem conseguia apenas pedir para que justiça fosse feita.

"Quem atropelou meu pai tem de ser preso. Ele tem de pagar por nos tirar quem sempre serviu de bom exemplo. Meu pai era meu orgulho. Nunca deixou de cumprir com suas obrigações. Era muito responsável", completou Mariano.

O jovem e outros familiares só descobriram que Júnior morreu ao chegarem à delegacia. Até então, tinham sido avisados por telefone que o motoboy sofrera grave acidente e que deveriam ir a São Bernardo para saber mais detalhes do ocorrido.

O motorista do veículo foi identificado pelos policiais civis do 2º DP (Rudge Ramos) do município, onde o caso foi registrado e será investigado, como o comerciante Fabrício Albino de Campos Moura, 34.

Seu irmão, o também comerciante Flávio Antônio de Campos Moura, 37, compareceu à delegacia acompanhado de advogado e tentou assumir a autoria do crime.

"Ele tentou proteger o irmão mais novo. Mas conversei com ele e expliquei que isso não era a melhor coisa a ser feita", disse o delegado titular do 2º DP, Roberto Bueno Menezes.

Flávio, então, contou sua versão da história. Segundo ele, Fabrício estava em um bar na Avenida Kennedy, onde consumiu pelo menos duas latas de cerveja, e seguia em alta velocidade pela via após ser abordado por dois homens que teriam tentado roubar o BMW.

Assustado com o impacto da batida, Fabrício decidiu não parar e quando o fez, ligou para o irmão pedindo ajuda ao ver o motoboy morto. Flávio, que estaria próximo em um Palio, deu carona para o familiar.

Segundo a versão do comerciante à polícia, o irmão fugiu com medo de ser linchado. O paradeiro de Fabrício ainda é desconhecido e o advogado da família negociava com a polícia a sua rendição.

Modelo mais recente da marca BMW, o 125i M Sport foi lançado em março e está avaliado em R$ 155 mil. O veículo do acidente ainda estava sem placas e pertence a Flávio. À polícia, ele disse que adquiriu o carro há cerca de 15 dias.

REPERCUSSÃO

O caso de São Bernardo foi o segundo envolvendo motociclistas que morreram após serem brutalmente atropelados no trânsito da Grande São Paulo.

Na manhã do dia 20, o carteiro Gedilson José Silva, 40, morreu após ser atropelado por um Palio Weekend na Avenida Deputado Cantídio Sampaio, no Jardim Damasceno, na Zona Norte da Capital.

Segundo testemunhas, o carro estava na contramão quando atingiu a vítima, que teve a perna esquerda decepada. O membro ficou preso no para-choque do Palio, e o motorista fugiu sem prestar socorro.

Em março, David Santos Sousa, 21 anos, perdeu o braço direito após ser atropelado na Avenida Paulista pelo estudante de psicologia Alex Kosloff Siwek, da mesma idade, enquanto seguia para o trabalho de bicicleta.

O autor, que estava alcoolizado, chegou a ser preso, mas responde o processo em liberdade, ficou com o membro decepado e depois o jogou em um rio na Zona Sul da Capital.

Advogado cobra pena mais dura para embriaguez ao volante

Aplicação de punições mais duras contra motoristas que provocam acidentes após consumo de bebidas alcoólicas é uma das soluções apontadas para diminuir o número de casos de embriaguez ao volante. A opinião é do advogado Marcos Pantaleão, que já integrou a comissão de Direito Viário da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil). Para o especialista, em caso de comprovação da presença de álcool no sangue do condutor, deve ser criado agravante aos crimes de homicídio ou lesão corporal.

Hoje, o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) estabelece pena de dois a quatro anos de prisão para quem cometer homicídio culposo - sem intenção de matar - por acidente de trânsito. Para lesão corporal culposa a pena é de seis meses a dois anos de reclusão.

"Os legisladores não têm interesse em aumentar esse rigor. Em 2008, quando se fortaleceu o debate sobre a Lei Seca, foi revogado o aumento de pena para quem provocasse acidente sob efeito de bebida alcoólica", comenta Pantaleão. O jurista se refere ao inciso 5º do artigo 302 do CTB, que aumentava a punição de um terço à metade no caso citado. Se o item fosse incluído novamente, diz o advogado, seria encerrada a discussão sobre dolo eventual - que ocorre quando o motorista, mesmo que sem intenção, assume o risco de matar.

O especialista indica também a necessidade de aumento no tempo máximo de detenção. "Teria de ser, no mínimo, quatro anos e um dia. Isso porque a autoridade policial não pode arbitrar fiança quando a pena for superior a quatro anos. Nessa situação, quem decide isso é o juiz, e o motorista ficará preso mesmo que por alguns dias, diminuindo a sensação de impunidade.

Em dezembro, a presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou modificações que endureceram a Lei Seca. O etilômetro deixou de ser o único meio para comprovar o teor de álcool no sangue. Dessa forma, passam a ser aceitas provas testemunhais, além de vídeos e exames clínicos. Quem for flagrado com concentração de até seis decigramas de álcool por litro de sangue ou cujos métodos de acusação comprovem a embriaguez paga multa, que subiu de R$ 957,70 para R$ 1.915,40. Acima disso, a pena é de prisão de seis meses a três anos.

RISCOS

O médico Dirceu Rodrigues Alves, diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, alerta que o álcool aumenta de três a quatro vezes o risco de acidentes. "A bebida prejudica  atenção, raciocínio, reflexos e visão." 
Segundo Rodrigues Alves, entre 12% e 17% dos motoristas têm algum grau de dependência alcoólica. "Esses condutores não deixam de beber, mesmo que saibam que irão dirigir em seguida." Outro agravante, segundo o médico, é a perda do senso crítico. "A pessoa, quando faz uso da bebida, comete excessos e não percebe, além de achar que está em plenas condições de dirigir."




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