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Gente demais, dinheiro demais

A história é da semana passada, mas vale a pena refletir um pouco sobre ela. Se dois deputados, sozinhos,

Carlos Brickmann
28/09/2011 | 00:00
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A história é da semana passada, mas vale a pena refletir um pouco sobre ela. Se dois deputados, sozinhos, fizeram o papel de 36 (e, segundo dizem, tudo dentro da lei), por que precisamos de 513 deputados e 81 senadores?

Em qualquer empresa, o excesso de gente é tão ruim quanto gente de menos. É preciso justificar o pessoal desnecessário, dando-lhe o que fazer e complicando as decisões. Na área pública, é um pouco mais simples: o pessoal em excesso assina o ponto e cai fora. De acordo com os livros de registro, 36 parlamentares estavam naquela reunião; mas só dois estavam lá de verdade. Os outros só assinaram e receberam uma bela quantia pelo trabalho de assinar.

Mas este é um caso especial, escandaloso. Pense no dia a dia. O prédio do Congresso já se multiplicou em vários prédios, para acomodar tantas Excelências. Metade dos deputados - 250, para arredondar - já seria gente demais; mesmo assim a economia em novos escritórios, novos edifícios, mobília, assessores, automóveis, gasolina, combustível para aviões, motoristas, secretárias, auxílio-moradia, auxílio-paletó, seguro-saúde dos bons, passagens aéreas, verbas para comitês nas bases eleitorais, seria imensa. Some-se a isso a redução do número de senadores, de três por Estado para, por exemplo, dois. O país ficaria menos democrático com 54 senadores e 250 deputados? Não, não ficaria menos democrático. A democracia sairia bem mais em conta.

E espetáculos ridículos como o de duas Excelências fazendo o papel de 36 deixariam de humilhar o eleitor.

A farsa e a tragédia

Já seria bastante ruim se Suas Excelências tivessem encenado o espetáculo da multiplicação de presenças para quebrar um galho. Mas foi pior: foi tudo planejado - tanto que a TV Câmara fechou as imagens apenas nos dois parlamentares, sem mostrar o plenário inteiramente vazio. Lá, nem a TV escapa!

Fumando espero

O mais esquisito dessa manobra criminosa para liberação do cigarro "em lugares específicos" é saber que o patrocinador de tudo é o Ministério da Saúde.

Cheirando espero

O antigo chefe do combate às drogas na Bolívia, general René Sanabria, foi condenado a 14 anos de prisão por um tribunal da Florida, EUA. Crime? Tráfico de cocaína. Sanabria foi preso em Miami, em flagrante. Ficará preso nos EUA.

Pague e não bufe

O empresário Luiz de Campos Salles recebeu em 20 de setembro uma cobrança da Receita Federal, para pagamento até o dia 30. A cobrança se refere a problemas que, segundo a Receita, ocorreram em maio de 2009. Tempo para buscar a documentação, essas coisas? Para que? E não há datas, antes do pagamento, para agendar uma reunião com funcionários da Receita.

Traduzindo em bom português, é pagar e não bufar. E, mais tarde, provando que tinha razão, aí quem sabe algum dia o dinheiro retorne - em precatórios, talvez?

E pague mais ainda

A concorrência pública para escolher a agência que cuidará da publicidade da Assembléia Legislativa do Rio já está em andamento, com dez concorrentes disputando a verba de R$ 11,4 milhões por ano. Irregularidade? Ao que se saiba até o momento, nenhuma. Mas uma pergunta precisa ser feita: para que uma Assembléia Legislativa precisa de publicidade? Disputa o mercado? Tem concorrentes?

Ou será apenas mais uma maneira de distribuir a outros o dinheiro do caro leitor?

Fala, ministra

Frase da ministra da Coordenação Política, Ideli Salvatti:
-"Não tenho caneta, mas tenho muita saliva".

Como disse o rei inglês Eduardo 3º, há 700 anos, "Honi soit qui mal y pense". Em tradução livre, a malícia não está no que se fala, mas no que se escuta.

Os segredos do todo-poderoso

O homem-forte do PT, José Dirceu, lança hoje em Brasília um livro compilando os artigos que, desde que deixou o Governo, publica em jornais e revistas. Objetivo, segundo o autor: contribuir para a discussão dos temas nacionais. A sessão de autógrafos será no restaurante Carpe Diem, a partir das 19h30.

Explicando bem

Lembra do espetacular anúncio da fabricação do Ipad no Brasil, pela mesma empresa de Taiwan que o produz na China? Não é bem assim. A Foxconn está disposta a vir ao Brasil, desde que ache um sócio brasileiro com "musculatura financeira". Alguém poderia explicar qual a vantagem da operação? A tecnologia do Ipad é da Apple, e a Foxconn apenas o produz conforme as normas americanas.

Se o dinheiro será do sócio brasileiro (e, claro, do BNDES), e a tecnologia é da Apple, qual o papel da Foxconn, exceto ficar com parte dos lucros?

Agora vai

O ministro dos Esportes, Orlando Silva, pede ao presidente da Câmara, deputado Marcos Maia, que crie uma comissão especial para acelerar a votação da Lei Geral da Copa.

Sem problemas: nos muitos anos em que acompanha o trabalho parlamentar, este colunista nunca viu uma comissão ser rejeitada.




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