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Pandemia frustra planos dos amantes das festas juninas

Tradicional evento teve de ser cancelado para evitar aglomerações

Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
31/05/2020 | 00:01
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Claudinei Plaza/DGABC


Mesmo com o anúncio ontem da reabertura das igrejas católicas para as missas – <CF51>veja na página 4</CF> – as festas juninas não poderão ser realizadas. Desta vez, o cheiro de quentão, o gosto da maçã do amor e as danças típicas terão de ser reproduzidos dentro de casa. Tudo para evitar aglomerações e, assim, o contágio pelo novo coronavírus.

A festa ajuda a homenagear os dias de três santos da Igreja Católica: Antônio de Pádua e Lisboa (13), João Batista (24) e Pedro Apóstolo (29). Também por isso, o cancelamento causou comoção na comunidade que aguardava pelos festejos. “A orientação diocesana é não fazer nenhum tipo de evento com aglomeração. Vale para todo o (Grande ) ABC”, explica o padre Joel Nery, vigário da Episcopal para a Pastoral e pároco da Catedral Nossa Senhora do Carmo, em Santo André. Apesar de não haver quermesse, o padre afirma que as ações litúrgicas da Diocese seguem normalmente. “Com ou sem presença de público, as celebrações ocorrerão”, diz.

As festas fazem parte da rotina de várias pessoas que dedicam suas vidas em prol da igreja. Um dos mais chateados é o andreense Osires Segalla, 79 anos, que há meio século participa e colabora com a quermesse da Paróquia Santo Antônio, na Vila Guiomar, em Santo André, uma das mais conhecidas da região. Foi lá que ele casou com Maria Lúcia, 71, há mais de 50 anos. Segalla é responsável pela coordenação dos encarregados de cada barraca na quermesse e solta os fogos sempre às 6h de todo dia 13 de junho, quando se celebra Santo Antônio. “A igreja é muito querida por mim, ajudo com o maior prazer. Fico bastante triste por não ter a quermesse neste ano”. Sua mulher, responsável pela barraca da batata, também lamenta o fato de não haver a celebração nos moldes tradicionais. 

Nerci Salete Bertochi, 62, amiga do casal Segalla, participa da quermesse de Santo Antônio há 30 anos. Ela cuida da barraca dos lanches de pernil e, ao fim de cada festa, conta os meses pela próxima edição. “É dedicação, fé e gratidão”, comenta. “Trabalhamos com amor e devoção. Santo Antônio é um grande amigo”, explica.

Nerci entende o momento atual e a necessidade de a festa não ser realizada da forma tradicional, mas lamenta. “É uma tristeza muito grande no coração”, diz. Apesar de ter ficado chateada, ela acredita que tudo passará e a vida voltará ao normal. “Para o próximo ano a festa será grandiosa. As pessoas estão com tanta esperança no coração. Vai dar tudo certo”, frisa.

Paróquias adotam drive-thru como aliado

Nem tudo está perdido para quem espera ansiosamente por uma festa junina. Na Paróquia Santo Antônio (Largo São Francisco, 113), em Santo André, por exemplo, haverá a tradicional benção do pão e a venda do bolo do santo casamenteiro. Tudo será feito em sistema de <CF51>drive-thru</CF>, sem a necessidade de que a pessoa saia do veículo, conforme explica o frei Cláudio Moraes Messias.

As ações serão realizadas dia 13, quando se celebra Santo Antônio, das 8h às 18h. Quem levar pão terá o alimento abençoado de dentro do veículo por freis que estarão no local. Messias avisa que a igreja estará aberta, com controle de número de visitantes e todas as medidas de segurança necessárias para impor o distanciamento físico obrigatório.

Segundo o frei Messias, é oportunidade para recorrer a Santo Antônio para que ele “nos livre de tudo isso que está acontecendo. É o momento propício”, comenta. Messias pede ainda para que os devotos não se sintam tristes pelo fato de a festa não acontecer como sempre foi. “Vamos celebrá-lo de outras formas”, afirma.

Para quem for sem pão ao local, a paróquia fornecerá, já que está arrecadando pães para este fim. E a partir das 19h30 haverá celebração da missa com transmissão ao vivo pelo Facebook da paróquia (facebook.com/pqstoantonio).

De acordo com padre Joel Nery, da Catedral Nossa Senhora do Carmo, em Santo André, cada paróquia do Grande ABC decidirá como pode realizar algum tipo de evento, claro, respeitando o isolamento físico e todas as normas de combate ao novo coronavírus. A agenda pode ser conferida ao longo dos dias por meio do site www.diocesesa.org.br. A Diocese, que responde por todo o Grande ABC, contará também com festa junina temática na edição do Cantando a Esperança, no fim do mês de junho, em que padres se reúnem para live musical.

Na Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Rua Oriente, 455), em São Caetano, a programação junina também não passará em branco. Segundo o padre Luis Francisco, responsável pelo local e coordenador da região Pastoral São Caetano da Diocese de Santo André, haverá no próximo fim de semana, venda de fogazza e os interessados podem retirar por sistema drive-thru, no estacionamento do espaço. O evento acontecerá das 18h às 23h e a população contará com delivery também.

No fim de semana seguinte terá feijoada e nos dois últimos de junho os tradicionais lanches de pernil, linguiça e churrasco. Segundo padre Luis, frango com polenta, vinho quente e o conhecido ‘chá’ do padre também estarão disponíveis. Mais informações podem ser obtidas por meio da página facebook.com/nsaparecidascs.

Padre Luis explica que este é um momento conturbado, por causa da pandemia, e que nunca passou pela cabeça das pessoas que viveriam algo parecido. Diante disso, a igreja tenta se reinventar, seja com missas on-line e eventos se adaptando como podem, como o que farão com as quermesses agora.

Padres assumem que receita fará muita falta

Padre Joel Nery, da Catedral Nossa Senhora do Carmo, em Santo André, destaca que as quermesses tradicionais são uma fonte de fundos para diferentes atividades das paróquias ao longo do ano. 

“Para a manutenção física, do patrimônio, manutenção da evangelização e também para as ações beneficentes que promovemos. Nossas comunidades católicas não conseguem sobreviver com o dízimo apenas.”

Segundo padre Luis Francisco, a questão econômica está grave para todos, inclusive para a igreja. “Para nós, a quermesse é a festa das festas, a que mais se tem consumo”, comenta. Ele percebe, porém, que os fiéis fazem o que podem para ajudar. “O dízimo continua em torno de 80%”, diz, mesmo sem eventos presenciais. “As pessoas ligam e ajudam”, afirma.

Para Luis, o sentimento de solidariedade da população está mais do que forte. “As pessoas têm a responsabilidade de saber que a igreja não é do padre e, sim, de todos nós. Acho que depois disso (da pandemia), a sociedade vai ressurgir de forma diferenciada, mais humana”, encerra.

Frequentadoras lamentam, mas entendem motivos de não ter arraial

Rita de Cassia Grippa, 55 anos, de Santo André, frequenta festas juninas desde sempre. É uma de suas grandes paixões. Quando era estudante organizava ou ajudava nas danças, rifas e concursos. “Participei, por muitos anos, na igreja São José, no bairro Baeta Neves, em São Bernardo. Na adolescência era voluntária nas barracas. Depois passei a ir somente para degustar as delícias e jogar bingo”, diz.

De suas festas prediletas, cita a de São João. “Minha família comemora esta data por causa do meu avô. Ele se chamava João”, comenta. Rita lamenta o fato de, neste ano, não haver quermesse, por causa da pandemia. “Vou todos os anos. Não pulo nenhum”, frisa, mas entende a situação.

Assim como Rita, Cássia Souza, 47, de São Bernardo, é apaixonada pelas comemorações juninas. Vai desde pequena e, no ano passado, também não perdeu a oportunidade. De todas as celebrações juninas, para ela a mais especial é a de São Pedro. É que seu pai leva o mesmo nome do santo e nasceu no dia de sua comemoração. Fã de vinho quente, churrasco e maçã do amor, Cássia gosta da quermesse da igreja Matriz de sua cidade. Ela também se entristece pelo fato de não haver festa neste ano. “Vamos respeitar o isolamento físico”, discursa.

Além da festa na igreja, Cássia também tem costume de festejar em família e com a vizinhança. Como mora em uma rua sem saída, faziam fogueira e preparavam várias comidas típicas. “Esta festa foi feita durante quatro anos consecutivos e, infelizmente, por causa da violência, paramos, mas vinham muitas pessoas de fora para o nosso arraial que, até hoje, é comentado”, recorda.




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