Cursar o Ensino Superior em instituição pública, sonho antigo e até então difícil de ser alcançado, passou a ser realidade na vida do estudante Douglas Santos, 17 anos, na semana passada, quando o jovem morador de Diadema conferiu seu nome na lista de aprovados do SiSU (Sistema de Seleção Unificada) para o ingresso no curso de Moda da UFC (Universidade Federal do Ceará). 

Em meio à felicidade da conquista, apreensão relacionada aos custos educacionais martelava na cabeça do integrante de família simples e estudante da rede pública de ensino durante toda a vida. Embora não haja gastos com mensalidades, as despesas com estadia, alimentação e transporte são inevitáveis. Diante do problema e a partir do incentivo dos amigos, a alternativa foi criar vaquinha virtual com o objetivo de arrecadar verba para se manter no novo lar. 

“Quando saiu o resultado (do vestibular), a galera do cursinho popular apareceu de prontidão para me ajudar. E foi deles que surgiu a ideia, inspirada numa outra aluna que também fez vaquinha para ir para o Paraná estudar”, revela Santos, que foi humilde no valor solicitado para doação: R$ 800. “O dinheiro arrecado é, principalmente, para pagar a passagem e o aluguel, até eu conseguir vaga em moradia universitária”, destaca. Até o momento, a ação arrecadou R$ 30 e tem R$ 140 em boletos pendentes para serem pagos por doadores.

O ex-aluno da EE Diadema destaca com orgulho o pioneirismo e protagonismo da unidade de ensino frente às demais escolas do Estado em 2015 em razão da ocupação estudantil contra a reorganização da rede de ensino anunciada pelo governo do Estado durante 42 dias. Na época, o jovem cursava o 2º ano do Ensino Médio, no entanto, não titubeou em participar do movimento de busca pelos direitos dos estudantes e melhoria da Educação.

Embora a superação da escolaridade dos pais – a mãe concluiu o primeiro ciclo do Ensino Fundamental e o pai apostou no Ensino Técnico – não fosse meta, o jovem buscou ajuda do Cursinho Popular da Rede Emancipa, que tem unidade em Diadema, para contrariar as estatísticas e conseguir vaga no seleto grupo de universitários que cursam unidades públicas no País. “Fui atrás de todas as federais que tinham o curso de Moda. E quando vi a UFC, em Fortaleza, perto da praia e no polo de moda do Nordeste, não pensei duas vezes”, diz Santos, que começou a desenhar ainda criança. “Chegava até a riscar as paredes de vez em quando. Conforme fui crescendo, fui aperfeiçoando aos poucos e nunca desisti do meu sonho”, revela.