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Grande ABC tem 1,7 leito de internação por 1.000 habitantes

Proporção é menor do que a recomendada pela OMS, de três a cinco vagas nos hospitais

Por Aline Melo
23/07/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


O Grande ABC registrou em dez anos uma queda de 3,13% no número de leitos de internação, passando de 4.942 em junho de 2008 para 4.787 em junho de 2018. Considerando apenas as vagas do SUS (Sistema Único de Saúde), a redução foi de 1,94%, de 2.308 para 2.263. Os dados são do DataSUS, sistema de informações do Ministério da Saúde. De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a proporção de leitos de internação deve ser de três a cinco para cada 1.000 habitantes. Na região, que conta com cerca de 2,7 milhões de habitantes, conforme informações do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a relação é de 1,7 a cada 1.000 habitantes.

Entre as cidades, apenas Ribeirão Pires e São Bernardo apresentaram queda no número de leitos no período analisado. Em São Bernardo, a redução foi de 791 leitos em 2008 para 593 em 2018. A administração municipal informou que o recuo refere-se às vagas de atendimentos psicológicos, das unidades do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), em razão de modificação na política do município.

“A internação nas unidades foi substituída por programas de interação familiar para garantir, na maioria dos casos, a ressocialização. Um planejamento que surtiu êxito, garantindo restabelecimento da maioria dos pacientes”, explicou, em nota, a Prefeitura.

O Paço destacou que tem ampliado os leitos hospitalares com a retomada das obras de construção do Hospital de Urgência, que vai contar com mais 250 vagas na rede pública.

Em Ribeirão Pires, a redução foi de 165 em 2008 para 50 em 2018. A Prefeitura retomou as obras do complexo hospitalar no mês passado após receber repasse de R$ 3 milhões do governo estadual. Iniciado em 2008 e paralisado em 2013, o equipamento vai contar com 123 leitos. A administração municipal não comentou a redução nos últimos dez anos.

CIRURGIAS ELETIVAS - O conselheiro do Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo), Desiré Carlos Callegari, ponderou que a situação do Grande ABC, de redução nas vagas para internação, é também uma realidade nacional. “A mudança no perfil de atendimento psiquiátrico, com o fim das internações, se reflete nesses números, assim como os problemas financeiros que os sistemas públicos e privados vêm enfrentando”, avaliou.

“A medicina suplementar fechou alguns hospitais na região, e isso sobrecarregou o sistema público”, completou. O conselheiro afirmou que o resultado final dessa situação é o aumento nas filas de cirurgias eletivas. “Com poucos leitos, a maioria destinada a urgência e emergência, os procedimentos eletivos vão sendo adiados.”

A dona de casa Maria Áurea Guimarães, 60 anos, moradora do Jardim Alvorada, em Santo André, vivencia essa demora para realizar cirurgia na vesícula. A munícipe recebeu em 2015 o diagnóstico de pedra na vesícula e, desde então, aguarda pelo procedimento cirúrgico. “Já fiz alguns exames, que chegaram a vencer, realizei outros, e nada de me chamarem para a cirurgia”, relatou. Ela também aguarda a realização de ultrassonografia.

“A Saúde sofre muito com baixa qualidade, redução de leitos e aumento da demanda. A crise financeira aumenta o número de desempregados, diminui o número de beneficiários de planos de saúde e a demanda só aumenta”, destacou Callegari. “Além da questão dos leitos, setores chaves, como a oncologia, vão carecendo de recursos para os tratamentos.” 

Especialista defende investimentos em atenção básica

A redução do número de leitos de internação no Grande ABC em 3,13% ao longo dos últimos dez anos, na avaliação da professora responsável pela disciplina de Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina do ABC, Vânia Barbosa do Nascimento, não é uma informação tão alarmante, se vista isoladamente. Para ela, é fundamental investir em atenção básica como forma de promover a saúde e prevenção de doenças.

“Existem dados que indicam que 25% das internações poderiam ser evitadas, com melhor acompanhamento de pacientes diabéticos e hipertensos, por exemplo”, citou a especialista. “Ações de prevenção de doenças e de acidentes de trânsito, além da promoção de hábitos saudáveis, colaboram para menor número de internações”, citou a docente.

“As ocorrências de emergência e os acidentes lotam os leitos de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e PS (Prontos-Socorros). Esses pacientes, por sua vez, muitas vezes seguem ocupando esses leitos à espera de vaga para internação em hospitais.”

REGIONALIZAÇÃO - A professora destacou a necessidade de regionalização das ações de Saúde. “Vivemos uma situação onde claramente os leitos disponíveis não dão conta da demanda, e as cidades sozinhas não conseguem enfrentar esse problema. Precisamos investir na regionalização dos atendimentos”, afirmou.

“Até mesmo a central de regulação (Cross – Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde), que hoje é metropolitana e atende a todos os municípios, era interessante que houvesse uma apenas para o Grande ABC”, completou.

O Consórcio Intermunicipal discute com o governo do Estado a criação de um Cross específico para as setes cidades da região. Segundo o colegiado, “o grupo de gestores e técnicos das cidades consorciadas segue se reunindo na entidade regional para rever a atual regulação dos procedimentos de Saúde, visando melhorar o atendimento à população”.




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