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Oferta de crédito cresce com cenário favorável
Do Diário do Grande ABC
19/02/2000 | 15:25
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O mercado brasileiro de crédito começa a dar os primeiros passos no sentido da recuperaçao. Os balanços dos bancos divulgados nas últimas semanas mostram a tendência, revelando a estratégia de cada um para a retomada do crédito de forma mais acentuada, acompanhando o crescimento da economia. Somente o Itaú e o Unibanco, que juntos tiveram lucro líquido de R$ 2,3 bilhoes no ano passado, querem emprestar 30% a mais em relaçao a 1999.

Estudo do Banco Bilbao Vizcaya (BBV) prevê que o crédito bancário total no país, descontada a inflaçao, deverá crescer 10 84% neste ano, principalmente devido ao impulso dos empréstimos à pessoa física, com alta prevista de 21,68%, e ao setor privado, com aumento de 13,22%.

A previsao do banco Bozano, Simonsen é bastante semelhante: alta de 11,5% para o crédito bancário. O crédito aos setores público e rural será o único que tenderá a diminuir no período.

A melhora da economia, porém, nao é o único fator a levar ao reaquecimento do crédito no país. A queda da taxa de juros também é determinante nesse processo. No ano passado, houve um esforço nesse sentido com a reduçao da taxa básica da economia (Selic) de 45% ao ano para 19%. Em 2000, o movimento continua, embora de forma mais modesta. O mercado financeiro trabalha com uma taxa média para este ano em torno dos 17%. Em 1999, a média ficou em 25%.

Além da própria queda da taxa básica, a reduçao do spread bancário (diferença entre o custo de captaçao e os juros cobrados nos empréstimos), decorrente de reduçao de tributos e da competiçao entre as instituiçoes, entre outros fatores, conta na reduçao do custo dos empréstimos bancários, estimulando a demanda por crédito, que, por fim, também terá papel decisivo para a economia voltar a crescer.

Apesar dessa clara tendência, o aumento do crédito na economia brasileira nao chegará aos níveis alcançados na época do Real neste ano. O peso do crédito total em relaçao ao Produto Interno Bruto (PIB) deve alcançar 31,6% em 2001, segundo previsao do BBV. No auge do Plano Real, na passagem de 1995 para 1996, o peso do crédito era de 31,2%.

Certamente, a pior marca no desempenho do crédito dos últimos anos ocorreu depois da crise russa, em agosto de 1998, quando o volume caiu para 26% em relaçao ao total do PIB. "Há uma recuperaçao das expectativas e os dados referentes ao PIB do último semestre sao inequívocos," diz Octávio de Barros, economista-chefe do BBV. Mas o país ainda está no meio do caminho.

Entre os fatores que podem limitar a oferta do crédito, no caso das pessoas físicas, está o elevado índice de inadimplência. Na primeira quinzena de fevereiro, o índice de inadimplência registrou queda de 9,1% em relaçao a fevereiro do ano passado, mas ainda está em níveis altos e vai segurar um pouco os empréstimos neste ano. A taxa nos novos créditos será de 4%, reduzindo o índice geral de endividamento de 8,8% para 8 0% até o fim do ano.

Empresas - A outra ponta do mercado de crédito, as empresas, também já está utilizando várias fontes de recursos para fazer frente aos investimentos necessários e nao apenas o crédito bancário. Captaçoes domésticas (debêntures e notas promissórias) e lançamento de açoes estao crescendo.

"As empresas estao voltando a acessar o mercado de capitais e as primeiras a fazê-lo sao as do setor de infra-estrutura", diz Dany Rappaport, economista-sênior do Banco Santander. Os setores de telecomunicaçoes e de energia elétrica estao entre os grande tomadores de recursos neste ano.

Muitas dessas empresas estao recorrendo às emissoes de papéis de renda fixa, em vez de buscar o mercado internacional. "No mercado interno o dinheiro também está competitivo", acrescenta.

O diretor de Gestao de Recursos do banco AGF-Braseg, Kazuhiro Miyamoto, observa que "muitas empresas foram obrigadas a aceitar os juros do mercado interno quando o externo se fechou ao país, tanto em 'project finance' (modalidade de financiamento de projetos de infra-estrutura) quanto em dívida", diz Miyamoto.

Agora, com o preço mais competitivo, o número de emissoes privadas domésticas vai aumentar, podendo até dobrar em relaçao ao ano passado, especialmente no caso de emissoes de debêntures. O ânimo das bolsas estimula o lançamento de debêntures conversíveis em açoes.

A oscilaçao do dólar também inibe captaçoes externas, que devem ser limitadas aos grandes grupos econômicos e financeiros e aos exportadores.

Mas ainda assim, o mercado externo também continuará sendo uma importante fonte de financiamento das empresas. Ainda que a oferta de crédito cresça como prevêem os bancos, os números nao serao suficientemente elevados para exercer influência sobre a inflaçao. Na opiniao dos economistas, a evoluçao do crédito é necessária e compatível com a alta de 3% a 4% prevista para o PIB este ano.




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