Cultura & Lazer Titulo
Para Maysa
Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
28/06/2007 | 07:12
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Musa inconteste dos corações dilacerados e das almas sem par, a cantora Maysa (1936-1977) ganha mais uma homenagem digna de sua estatura artística. Reunião de medalhões da MPB, o CD Maysa – Essa Chama que Não Vai Passar (Biscoito Fino, R$ 29 em média) apresenta estandartes do repertório da musa do gênero dor-de-cotovelo.

Composto por 20 faixas, o disco traz Alcione cantando sem acompanhamento, na comovente introdução de Ouça, samba lacrimoso que sintetiza a turbulenta carreira da homenageada. Com suas empostação e dramaticidade peculiares, Ney Matogrosso confere ainda mais peso ao clássico Meu Mundo Caiu.

Inédita em disco, a valsa Nós teve melodia criada nos anos 1970, pelo maestro Júlio Medaglia, para um programa de TV. À época, o compositor era namorado de Maysa. De acordo com o excelente encarte do CD – repleto de imagens de arquivo e informações primorosas –, pouco tempo depois, a diva colocou letra na melodia, cantada somente uma vez, em uma atração televisiva, por Elizeth Cardoso.

A cantora Célia e o sanfoneiro Dominguinhos são responsáveis pela nova versão da música, pontuada por versos tristes como “vou-me embora, de encontro à tua vida. Me soltar pra que me faças tua ilha”.

Os excessos da vida boêmia e outras desventuras descritas na faixa Demais, composição de Tom Jobim e Aloysio de Oliveira, ganham tom lírico na voz de Alaíde Costa. Acompanhada por dedilhados de um discreto violão, ela fala de tumultos e romantismo visceral sem perder a ternura.

Outra performance brilhante fica por conta de Cauby Peixoto, que revisita a antológica Ne Me Quitte Pas (Jacques Brel). Segundo o próprio autor, entre as mais de 100 regravações da música, a melhor foi feita por Maysa, recentemente homenageada com o lançamento da biografia Maysa – Só Numa Multidão de Amores, do jornalista Lira Neto.

Além do francês, a cantora se destacou em outros idiomas, sobretudo o inglês. No disco, Edson Cordeiro regravou a canção I Love Paris, com delicioso balanço, surpreendente registro grave de voz e indisfarçável acento R&B. Também participam da homenagem Maria Bethânia, Olivia Hime, Zélia Duncan, Fernanda Porto, Carlos Navas, Cida Moreira, Arnaldo Antunes, Bibi Ferreira, Leila Pinheiro, Claudette Soares, Zeca Baleiro, Leny Andrade e Cláudya.

Outros lançamentos

Frank Sinatra – Performances vigorosas de um dos mais influentes artistas do século XX compõem a coletânea Songs From the Earth (EMI, R$ 34 em média). Já na abertura do disco, Sinatra dá show em sua interpretação da charmosa e irresistível I’ve Got You Under my Skin. Influência confessa de cantores românticos mundo afora, e referência improvável até para roqueiros como Bono Vox e Jim Morrison, Sinatra esbanjava domínio completo da técnica vocal (o controle que faz de sua respiração na dançante Cheek to Cheek é admirável). O disco conta ainda com uma versão nunca lançada de Nice ‘n’ Easy.

Feist – Em seu terceiro CD, The Reminder (Universal, R$ 25 em média), a multiinstrumentista canadense Leslie Feist passeia por diversas searas musicais, do folk ao pop com acento country. A moça detém bela extensão vocal, gosto melódico refinado e personalidade artística impressa no trabalho. Combinação oportuna entre sensibilidade e harmonia inspirada é a pungente So Sorry, canção capaz de comover a mais insensível das almas. Em I Feel it All, um dos destaques, a intérprete segue a cartilha do rock básico, pontuado por violões que sustentam uma harmonia linear e contagiante. Outros momentos felizes ficam por conta da divertida 1, 2, 3, 4, da melodia quase sussurrada de Brandy Alexander e da pungente The Limit to Your Love. Disco ideal para espantar o tédio em uma tarde de chuva.

Joyce e Toninho Horta – Gravado em 1995, e lançado apenas no Japão, o CD Tom Jobim: Sem Você – Joyce e Toninho Horta (Biscoito Fino, R$ 29 em média) chega ao mercado brasileiro. Tributo ao “maestro soberano”, morto um ano antes da produção do álbum, o disco reúne pérolas como Estrada do Sol (de Tom e Vinicius de Moraes) e Frevo de Orfeu (parceria do homenageado com Dolores Duran). Entre sambas e bossas, emoldurados pela intérprete e por Horta – mestre das inversões de acordes e das melodias improváveis – também se sobressaem Lígia, Dindi, Esse Teu Olhar/Só em Teus Braços.




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