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Passados cinco anos de tragédia, Edifício Senador segue fechado

Reforma que está sendo realizada no prédio
comercial tem previsão de término em 2019

Yara Ferraz
13/02/2017 | 07:00
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Ricardo Trida/DGABC


Cinco anos após desabamento parcial de sua estrutura, o Edifício Senador, localizado no Centro de São Bernardo, continua fechado. O local, que tinha previsão de reabrir ainda neste ano, só deverá ter suas salas reocupadas pelos inquilinos em 2019. O inquérito de investigação sobre a responsabilidade pela tragédia que matou duas pessoas foi arquivado. A demolição total e a retirada de todos os escombros do edifício foram finalizadas em 2014. O Diário foi até o local e conversou com trabalhadores da obra. Segundo eles, foram finalizados os reparos estruturais.

Uma das inquilinas que esperam o término da obra é a médica Mônica de Melo, 54 anos. Ela tinha um consultório no espaço desde 1994 e saiu do trabalho 15 minutos antes do desabamento. “Acredito que foi um milagre, até porque diariamente passavam 1.500 pessoas no prédio. A minha sala era a 52 e a que cedeu foi a 54. Parte de toda a estrutura foi danificada. Foi difícil voltar lá”, contou.

Os proprietários das 74 salas comerciais decidiram pela reforma em 2013. Em 2014, o valor da obra, pago em conjunto pelos moradores, teve orçamento fixado em R$ 12 milhões. Segundo Mônica, as lajes que separam os apartamentos já foram refeitas, assim como a parte estrutural. As obras hoje visam o acabamento. A parte externa do edifício também deve ser recuperada.

De acordo com a médica, a previsão da administração do condomínio, que realiza reuniões mensais, é a entrega do prédio em até dois anos. “Já investi cerca de R$ 200 mil, mas não tenho intenção de voltar para lá. Já me restabeleci em outro local”, contou.

Questionada, a Prefeitura afirmou que por se tratar de um edifício particular não tinha mais informações a respeito da obra. “O que foi apurado é que o alvará de número 1670/2014 está regularizado e vigente até 8 de dezembro de 2018. O edifício segue isolado”, informou em nota.

A reforma está sendo realizada pela Falcão Bauer, que também redigiu laudo em que apontou histórico de vazamentos e infiltrações como causas do desabamento. O Diário procurou a empresa para obter informações sobre o projeto, mas não houve retorno até o fechamento desta edição.

JUSTIÇA
O IC (Instituto de Criminalística) também apresentou laudo confirmando que a tragédia foi causada por problemas estruturais. O advogado do Edifício Senador, Leandro Piccino, afirmou que todas as ações judiciais tiveram decisão favorável ao condomínio. “Não havia como responsabilizar alguém, até porque uma vez ao ano um engenheiro civil ia verificar se estava tudo certo com o prédio. Temos esses três laudos. Toda a documentação estava correta, não tinha como prever o que ia acontecer”, afirmou.

Na época, o proprietário dos dois últimos andares chegou a ser questionado sobre reformas realizadas nos pavimentos. Para implantar uma discoteca, ele teria colocado grande quantidade de areia, pedra e bloco sobre a laje do 13º piso, no ponto onde ocorreu o desabamento. “O inquérito policial foi arquivado. Apesar de muita coisa que se falou, ninguém foi responsável”, completou o advogado de defesa.

Conforme o MP (Ministério Público), o inquérito que investigava o caso do desabamento foi arquivado em 2012. “Até então, nenhum fato novo chegou à promotoria. Somente desta forma o caso poderia ser investigado novamente. O arquivamento se deu após investigação, oitivas das partes e perícias”, afirmou o órgão.

A falta da responsabilidade é o principal empecilho para que as famílias das duas vítimas fatais da tragédia consigam indenização por danos morais na Justiça, iniciada em 2013.

 

Família relembra acidente diariamente
A família da pequena Júlia Moraes, de apenas 3 anos na época do acidente, não passa um dia sem se lembrar da menina. A filha única estava na companhia do pai na sala de espera de consultório médico enquanto a mãe recebia atendimento, quando o desabamento aconteceu.

O pai, José Fabrício Moraes, 42 anos, lembra entre lágrimas do momento mais triste de sua vida. Ele perdeu parte do movimento do braço devido ao desabamento da estrutura e, somado ao quadro de depressão, o metalúrgico foi afastado do trabalho. “A vida nossa parou desde o acidente e a gente continua estagnado. É revoltante que essa seja a Justiça para os mais pobres. O nosso sentimento é o de descaso.”

A mãe, Francisca Kelly Vieira de Oliveira, 36, buscou forças no trabalho para tentar superar a perda. Há dois anos, ela voltou a dar aulas para crianças do 2º ano do Ensino Fundamental, com idade que a filha teria hoje. “Inclusive, tem muitos amiguinhos dela que ainda tocam no assunto. Um deles me chama de ‘mãe da Julia’. Voltar a trabalhar foi uma decisão minha, espécie de terapia que escolhi para não ficar tomando remédios”, disse entre lágrimas.

O casal tenta ter mais filhos e reconstruir a família, porém, até agora não conseguiu. Ambos são frequentadores da Igreja Batista. “É muito difícil. Todos só se preocupam em restabelecer o prédio”, lamenta o pai. Além da criança, a enfermeira Patrícia Alves Farias de Lima, 26, também morreu no acidente. O pedido de ações das duas famílias foi negado inicialmente em 2014 pela Justiça e os dois processos tramitam em terceira instância.




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