A história, com uma forcinha de Bin Laden, tem no 11 de setembro uma data de pesares. Três anos depois dos atentados ao World Trade Center e ao Pentágono, a data agora promete entrar para a história por motivo menos lúgubre, pelo menos para um séquito de brasileiros habituados a apertar o dedo no botão de volume do som toda vez que se insinuam certos acordes de nu metal. Será em 11 de setembro próximo, daqui a quase um mês, a primeira visita da banda norte-americana Linkin Park ao Brasil.

O sexteto formado na cidade de Santa Mônica (Califórnia) e ultrapopular entre os adolescentes desembarcará no Estádio do Morumbi, em São Paulo, onde fará o único show na América Latina de sua atual turnê, que já correu Europa e que acontece nos Estados Unidos exatamente agora, em Estados como Virgínia, Geórgia e Flórida, enquanto os fãs do Brasil juntam os trocos para não perder sua vaga no concerto.

Os ingressos começam a ser vendidos na terça em quatro pontos da capital. Pela assiduidade da banda em FMs, os bilhetes devem durar nos guichês tanto quanto quirela em galinheiro. Sobretudo porque, entre terça e o próximo dia 25, serão vendidos a preços promocionais, de R$ 30 a R$ 60 mais baratos em relação ao valor absoluto. A aquisição da entrada com desconto nesse período está condicionada à doação de no mínimo 1 kg de alimento não perecível por ingresso – os suprimentos arrecadados serão doados à campanha Fome Zero, do governo federal. A partir do dia 26, começam as vendas dos ingressos sem deságio e das meias-entradas para estudantes.

O show, que terá abertura da banda santista Charlie Brown Jr., inaugura o Chimera Music Festival, evento que nesta primeira edição reverberá entre roqueiros e rappers. Em 18 de setembro, uma semana após a performance dos nu-metaleiros, haverá a versão hip hop, cujo destaque é o rapper norte-americano 50 Cent, que estréia no Brasil. Na mesma noite em que se exibe o prodígio de Nova York, no Pacaembu, haverá apresentações de colegas brasileiros do rhythm and poetry (rap), como Marcelo D2, Negra Li, Rappin’ Hood e a banda O Rappa. Os ingressos para 18 de setembro também estarão disponíveis a partir de terça.

Novo metal, de novo – O Linkin Park habita a laje de um gênero batizado nu metal, representa o ápice mercadológico de uma espécie de heavy metal cujas peculiaridades se percebem em bandas como Limp Bizkit, Korn e Evanescence.

Foi um dos grupos que mais vendeu discos neste século – juntos, seus quatro álbuns já ultrapassaram 25 milhões de cópias vendidas em todo o mundo.

Nu metal é corruptela de new metal (novo metal, em inglês). Pretende completar a miscigenação sonora que anunciavam os anos 1990 com o grunge do Nirvana, o funk-metal do Faith No More e o rap-metal do Rage Against the Machine. A mestiçagem transparece na mistura de elementos do heavy metal (criação de músicos brancos) e do rap (dos negros), num som ruidoso, agressivo, forçosamente melódico e repetitivo – estas duas últimas considerações colocam em risco, junto aos apaixonados nu-metaleiros, quem critica o gênero.

Numa avaliação apressada sobre a evolução do rock, o nu metal seria o Homo sapiens do heavy metal enquanto Led Zeppelin e Black Sabbath seriam neandertais. Entretanto, é o metal se autoconsumindo, ruminando velhos modelos para regurgitar a gororoba pop – e, aqui, nu metal pende mais para anomalia que para evolução.

Seis integrantes gozam da majestade do Linkin Park no gênero: Chester Bennington nos vocais, Mike Shinoda como MC (vocalista com trejeitos de rapper), o guitarrista Brad Delson, o baterista Rob Bourdon, o baixista David Farrell (apelidado Phoenix) e o DJ Joseph Hahn. Formada em 1996, a banda tem somente dois discos de inéditas, Hybrid Theory (2001) e Meteora (2003), um gravado ao vivo, Live in Texas (2003), e um de remixes, Reanimation (2002).

Um sexteto que incrementa seu som com letras de cunho existencialista, numa espécie de masoquismo espiritual, como se os integrantes almejassem o título de jovens Werther do século XXI. Tal qual a personagem do escritor alemão Johann Goethe (1749-1832), escrevem (em música) um diário de sofrimentos e dúvidas insuportáveis.

São muitos os hits-mártires, como Somewhere I Belong, From the Inside, Crawling e In the End. Por exemplo, em One Step Closer: “Estou prestes a ruir/ Preciso de espaço para respirar”; ou em Easier to Run: “Ferimentos profundos que nunca se mostraram/ Nunca desaparecem”; ou ainda, em Numb: “Tudo o que desejo/ É ser mais como eu/ E menos como você”. Esse autoflagelo é em parte atribuído ao fato de o vocalista e letrista Chester ter supostamente sofrido abusos sexuais quando criança.

Fãs acamparão – Essas feridas monumentais granjeiam adoradores. No Brasil, onde 50 mil cópias valem um disco de ouro e onde Meteora teve mais de 150 mil unidades vendidas, não é diferente. “Comprarei o ingresso no dia 10 (terça) mesmo”, afirma Fernando Teixeira, de São Bernardo, baterista do Linkin Park Cover, banda atualmente em repouso por conta das obrigações estudantis dos integrantes.

Para o show, ele deve ir com uma trupe de amigos, colegas músicos e respectivas namoradas. “Vamos fazer rodízio. Chegaremos lá uns dois dias antes e vamos acampar, sempre nos revezando. Se já tiver alguém na porta do estádio, vamos mais cedo ainda”, diz o fã, que completará 23 anos no dia do show.

Embora bem-sucedido, o Linkin Park não é unanimidade. “Sei que os caras têm lá o estudo deles, que são até bons músicos. Mas não dá. É muito ruim, velho!”, afirma o tecladista Mitsuo Okagawa, 20 anos, de Santo André. Adepto de metal como o do Sepultura “das antigas” (leia-se fase Max Cavalera), não iria de jeito nenhum ao show de Linkin Park. Nem se pagassem? “Hum! Quanto?”, responde Okagawa, às gargalhadas.