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'Armação Ilimitada': lá se vão 20 anos
Flávia Swerts
Da TV Press
15/05/2005 | 16:00
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Há 20 anos, surgia de uma simples conversa entre dois amigos o embrião de um dos programas mais inovadores da TV brasileira. Armação Ilimitada foi criado pelos atores-surfistas Kadu Moliterno e André de Biasi, que entre 17 de maio de 1985 e 8 de dezembro de 1988 interpretaram Juba e Lula, dois amigos que moravam juntos e tinham uma firma de prestação de serviços. Dentre suas atividades principais estavam o mergulho, as competições esportivas e o trabalho como dublês em filmes. O seriado misturava esportes, romance e aventura e era exibido uma vez por mês, nas noites de sexta-feira. "Na época, a TV não dava espaço para os jovens. O que mais me marca é saber que o programa surgiu da minha cabeça e da do Kadu", diz André.

Mas, da concepção até o seriado ir ao ar, mais de um ano se passou. A dupla tentou emplacar o projeto na Globo algumas vezes, mas sem êxito. Até que um belo dia, Daniel Filho, na época diretor artístico da emissora, resolveu fazer um programa voltado para os jovens com uma linguagem inovadora e decidiu apostar na idéia de Kadu e André. Para colocar o seriado em prática, Daniel chamou os escritores Euclydes Marinho e Antônio Calmon, o produtor musical Nelson Motta e a atriz Patrícya Travassos. Os quatro sugeriram o nome de Guel Arraes (recém-chegado da França, onde morou por 11 anos) para a direção. Como foi um grande sucesso, é mais do que natural que o programa tenha deixado muitas recordações. Um dos mais saudosistas é Calmon. "As deliciosas reuniões na casa do Euclydes são inesquecíveis. Todos vivíamos um clima de excepcional criatividade. Éramos felizes e não sabíamos", afirma.

Além das aventuras de Juba e Lula, o seriado também mostrava um relacionamento nada convencional. A dupla dividia a mesma mulher: Zelda Scott, vivida por Andréa Beltrão, uma estagiária do jornal Correio do Crepúsculo, formando, assim, um triângulo amoroso mais ou menos bem resolvido. "Mostrar, nos anos 80, dois caras casados com a mesma mulher em um programa no horário nobre era bem inovador", diz André. O órfão Bacana, interpretado por Jonas Torres, completava a família para lá de moderna. Com o final do seriado, Jonas, que tinha apenas 15 anos, praticamente sumiu da TV. Ele fez apenas algumas pontas, a última delas, em 1998, em Malhação. Armação Ilimitada abordava ainda a divertida relação entre Zelda e seu chefe, papel de Francisco Milani. "O meu carinho não é tanto com o personagem, mas sim com o programa, que foi um divisor de águas na TV. Foi muito prazeroso participar daquela experiência", diz Milani.

Não há dúvidas de que Armação Ilimitada realmente representou uma revolução na TV brasileira. O programa inovou tanto no texto quanto nas imagens. O seriado esbanjava influências das histórias em quadrinhos e exibia balões ilustrados com textos, símbolos ou caracteres cifrados mostrando o pensamento dos personagens. A edição das imagens, feita por João Paulo de Carvalho, era bastante ágil e usava uma linguagem similar à dos videoclipes. Outro detalhe interessante era o tom surreal conferido a algumas cenas. Zelda e seu chefe, por exemplo, apareciam caricaturados de acordo com o clima da relação. Eles podiam aparecer em uma praia com sombra e água fresca ou em uma tempestade em alto-mar. "Os textos eram cheios de citações cinematográficas e com um humor inesperado e irreverente. No aspecto visual, o Guel e o João Paulo realizavam nossos delírios mais delirantes", lembra Calmon.

Não é à toa que o programa foi escolhido pela Globo para ser reexibido no canal a cabo Multishow em comemoração aos 40 anos, ao lado de TV Pirata e de algumas séries, como Anos Rebeldes. Ao ser perguntado sobre o motivo do sucesso, Kadu tem a resposta na ponta da língua: "É a química de aventura, muita ação e humor. A Armação é garantia de divertimento e boas gargalhadas".




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