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Simão recomeça a sua história em Buriti Bravo, no Maranhão

Em entrevista por telefone, ex-morador de rua se diz feliz ao lado da família e cães; ele reencontrará o pai

Por Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
31/08/2015 | 07:07
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Arquivo pessoal


Todas as manhãs, Simão Pinheiro da Costa, 43 anos, arruma a sua cama, brinca com os seus cachorros e vai até a casa dos tios tomar café. A rotina é bem diferente de quando ele morava nas ruas de Santo André e precisava acordar bem cedo para sair do local que dormia desprotegido, sem rumo com seu carrinho, usado para colocar materiais recicláveis, e os três cães.

De volta à Buriti Bravo, no Maranhão (sua cidade natal), há uma semana, a vida do ex-morador de sua já se transformou, conforme contou por telefone à equipe do Diário. Porém, apesar de reencontrar os tios e primos, Simão não contava com uma surpresa. O pai, com quem não conversa desde criança quer vê-lo.

Simão foi criado pelos avós e não tem nenhuma lembrança da mãe, que fugiu quando ele ainda era um bebê. O pai também se mudou da cidade e manteve outra família, perdendo o contato com o ex-morador de rua. “Eu não tenho nenhuma raiva dele, mas achava que não queria me ver até porque tem outra família. O meu primo que ligou para o meu pai e disse que eu estava de volta e ele falou que quer muito me ver. Foi difícil segurar a emoção”, contou Simão.

O pai se chama Firmino Pinheiro da Costa mora na cidade de Imperatriz, também no Maranhão, longe cerca de 500 quilômetros de Buriti Bravo. Ele deve reencontrar o filho que não vê há cerca de 40 anos ainda nesta semana. “Estou muito feliz. Nunca pensei que ia conseguir ver o meu pai de novo. Quero dar um abraço bem forte nele”, disse Simão, emocionado.

O Diário acompanha a história do ex-morador de rua desde março. Simão estava há 26 anos longe da família, desde que veio para São Paulo para trabalhar na loja de discos do primo.

Simão experimentou a desilusão e a frustração de perder um emprego e a namorada. Desde então, passou a morar nas ruas e chegou a ficar viciado em crack. Em Santo André, ele recolhia material reciclável e também ajudava outros moradores de rua, sempre ao lado de seus companheiros de quatro patas: Negão, Marrom e Neguita. “Eu não me lembrava de como era dormir em uma cama e ter a minha própria casa. Ganhei uma TV e um fogão, ou seja, agora consigo assistir aos jogos e cozinhar, algo que eu não podia fazer nas ruas. O único problema aqui na família é que todo mundo é palmeirense”, brinca o corinthiano fanático.

Além disso, Simão adotou uma nova integrante para a família. A cadela Caçula estava rondando a casa da família e o ex-morador de rua não pensou duas vezes. “Espaço aqui tem de monte. A Neguita adora o quintal e agora ela tem mais uma amiga. Eles gostam muito de correr aqui porque tem muito espaço.”

Ele se orgulha em destacar que em seu quintal há pé de manga, acerola e caju. Além disso, as refeições são feitas com toda a família na casa do tio, que fica ao lado.

Atualmente se concentra em fazer pequenos reparos na residência que ele mora e pertencia aos avós. Foram dois quartos e a cozinha, que já estão arrumados, do total de mais de cinco cômodos. Ele, que é apaixonado pelo frio, tinha medo de não ter uma geladeira no local e agora tem até um freezer. “Se tem uma coisa que eu sinto saudades daí, além dos meus amigos, é do frio. Eu amava essa temperatura, só não gostava de dormir na rua”, afirmou.

O ex-morador de rua também se lembra com carinho da amiga Norma Elaine Pezzolo, 61, que o ajudava com refeições e encabeçou a campanha para arrecadar fundos para o seu retorno. “Sinto falta dela e nunca vou poder agradecer o que ela fez comigo. Isso também graças ao Diário, que fez com que os meus parentes me reencontrassem.”

Simão parou de fumar, o que fazia para se esquentar. Ele está pronto para começar mais um capítulo da sua vida, junto com a família.


Tirar CNH e voltar a estudar fazem parte dos planos futuros

Simão já recebeu duas propostas de emprego. Ele, que já tinha começado a fazer reparos em casa, inicialmente pensou em trabalhar com o primo, como ajudante de pedreiro. Porém, como um tio tem um armazém, ele decidiu ajudar nas entregas.

O ex-morador de rua começa a trabalhar na próxima semana com uma bicicleta. Porém, os planos de Simão são maiores.

Inicialmente, ele quer tirar a CNH (Carteira Nacional de Habilitação) para se especializar no trabalho. “Quero fazer entregas para mais longe, então o ideal é que eu tenha um carro. Como o pessoal aqui tem bastante, me dá uma vontade de dirigir, mas ainda não posso”, contou.

Quando receber o primeiro salário, Simão também quer comprar um celular para conversar com a amiga Norma e até mesmo com o pai. Essa é a única coisa que ele pensa em comprar, já que o ex-morador de rua afirma que está satisfeito com as coisas que tem.

A volta aos estudos ficou para o ano que vem. Simão já conhece a escola onde vai continuar o 6º ano do Ensino Fundamental por meio da EJA (Educação de Jovens e Adultos) e se diz ansioso. “Eu gosto muito de ler, mas não consigo fazer isso direito. Quando eu voltar aos estudos vou ser capaz de ter uma qualificação melhor.”

Mais para frente, Simão também quer visitar Santo André. Ele afirma que já falou com os parentes e que isso deve acontecer daqui dois anos. “Eu amo muito a cidade e tenho certeza de que todos vão gostar daí e das pessoas. Quero voltar e dar um abraço em todo mundo, mas hoje, graça a Deus, o meu lugar é aqui e estou muito feliz com a vida.” 




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