Escultura de Agenor Francisco dos Santos que reproduz São Pedro foi tirada da USCS em 2006
Um pedaço da história de São Caetano perdeu guerra travada por 44 anos contra os cupins. Esculpida em madeira, a estátua de São Pedro, um dos símbolos da cidade e que ficou exposta no jardim da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) por 26 anos, precisou ser incinerada devido ao comprometimento estrutural em 2013. O lamentável destino da obra de arte chama a atenção para a necessidade preservação das produções artísticas como forma de manutenção da cultura.
Assinada pelo escultor Agenor Francisco dos Santos, a estátua nasceu em 1969, um ano após o artista baiano ter apresentado ao prefeito Walter Braido, que estava em sua primeira gestão, a ideia de presentear o papa Paulo VI com imagem representativa de São Pedro Apóstolo. Aceito o pedido, começou o trabalho para trazer um tronco de peroba, que media 12,20 metros de comprimento e 40 centímetros de diâmetro e pesava 31 toneladas, da cidade de Cianorte, no Paraná. A expedição, que contou com a ajuda de 16 homens, oito guinchos e três caminhões, demorou 12 dias entre ida e volta.
A chegada da tora à cidade foi um marco, lembra o sociólogo José Roberto Gianello. “Quando os caminhões chegaram foi uma festa em frente à Prefeitura da época (Avenida Goiás). Montaram um galpão lá para o Agenor trabalhar e a população podia ficar observando”. Conforme o morador de São Caetano, nem todos davam a devida importância à obra. “Tinha muita gente interessada, mas também tinha quem ridicularizava por não entender.”
Dez meses após o início dos trabalhos e com investimento de 30 mil cruzeiros, a estátua foi concluída e, com isso, começou também imbróglio sobre sua destinação. Isso porque houve recusa por parte do Vaticano em receber o item devido aos altos custos e dificuldade para transporte.
A estátua de São Pedro ficou exposta na Praça da Sé, na Capital, por alguns meses e, depois disso, foi levada ao setor de parques e jardins da prefeitura local, onde ficou esquecida. Começou ali a primeira fase de sua degradação, já que parte da estrutura ficou apodrecida.
Em 1975, com o retorno do prefeito Walter Braido ao poder em São Caetano, houve o resgate da peça, que passou por restauro pela primeira vez. “O Glenir (Domingo Glenir Santarnecchi) que era secretário de Comunicação na época, denunciou esse descaso e resolveram que era preciso resgatar a estátua”, explica a presidente da Fundação Pró-Memória de São Caetano, Sonia Maria Franco Xavier.
Sem local definido para a estátua, o diretor da USCS, Imes na época, Oscar Garbelotto, sugeriu ao prefeito que a peça fosse instalada no jardim da instituição. Foi lá que a estátua de São Pedro ganhou uma casa. Permaneceu no local por quase três décadas, tendo em vista que foi removida entre 1991 e 1996 por conta das obras da universidade. “Ela era uma espécie de símbolo de fé do morador de São Caetano”, considera Sonia.
Em 2006, devido a uma infestação de cupins, a estátua foi removida em definitivo do jardim da USCS. A ação foi respaldada pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) após análise indicar a praga e a possibilidade de queda. Conforme a universidade, após “inúmeras tentativas de recuperação”, foi constatado que o problema era irreversível e poderia afetar outras estruturas, o que culminou no processo de incineração.
“Fica o exemplo do descaso do poder público, que é atrasado. Poucos são os municípios que se interessam em preservar. As famílias dos artistas também deveriam reivindicar cuidado com as obras de arte”, destaca Gianello.
Falta consciência sobre a importância dos símbolos
Em 1996, a presidente da Fundação Pró-Memória de São Caetano, Sonia Maria Franco Xavier, lançou o livro Inventários dos Signos de Logradouros Públicos de São Caetano, com o intuito de identificar as referências patrimoniais na cidade e, com isso, ajudar na construção da memória municipal.
Segundo Sonia, uma das observações durante o trabalho de pesquisa para a obra foi a falta de consciência sobre a importância dos símbolos existentes. “As pessoas passam pelos objetos e não os enxergam. Elas precisam ser estimuladas a observar e, com isso, se tornarem espécie de guardiões da cultura”, considera.
A presidente da Fundação Pró-Memória afirma que o episódio envolvendo a Estátua de São Pedro e o descaso para sua conservação também chama a atenção para a necessidade de órgãos preocupados com manutenção e limpeza das obras de arte.
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