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Número de mortos em conflitos na Índia já chega a 550
Das Agências
04/03/2002 | 11:10
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Os enfrentamentos inter-religiosos da semana passada, cujo balanço chega a quase 550 mortos, colocaram em questão a unidade política e social do país, estimam os observadores. No estado ocidental de Gujarat, ensangüentado por quatro dias de lutas nas ruas entre hindus e muçulmanos, não foram assinalados novos choques.

Agora a segurança depende em grande medida dos efetivos do exército mobilizados desde sexta-feira nas localidades de Gujarat onde se produziram rebeliões, a partir do momento em que foi evidente a falta de vontade e capacidade da polícia para impedir o banho de sangue.

"O Estado se encarrega da segurança de cada cidadão, seja qual for sua religião e a comunidade a qual pertence", destacou domingo o ministro do Interior, L. K. Advani, durante um giro de inspeção em Gujarat. Mas numerosos são os observadores que agora pensam que os distintos poderes públicos, tanto de Gujarat como de Nova Délhi, foram incapazes de assumir esta responsabilidade.

"A semana passada foi um dos períodos mais violentos que o país já enfrentou, durante o qual a Índia não teve capacidade de preservar um de seus bens mais preciosos: sua unidade, que repousa na harmonia entre as comunidades", destaca o editorial do Indian Express.

Segundo os responsáveis da polícia de Ahmedabad, a capital econômica de Gujarat, 486 pessoas morreram em toda a província durante as rebeliões que seguiram ao incêndio, quarta-feira passada, de um trem que levava extremistas hindus, que deixou 58 mortos. A maioria das vítimas é ao que parece muçulmana.

"Tudo o que tínhamos em nossas casas, bens, dinheiro, tudo desapareceu", afirma Rehmat Bibi, que agora vive ao lado de centenas de famílias muçulmanas, na mesquita de Ahmedabad, atualmente sob vigilância.

Bibi e sua família tiveram sorte e escaparam vivos do assalto lançado contra seu distrito residencial por um milhão de hindus que durante cinco horas mataram, pilharam e queimaram. A mulher afirma que a polícia não fez nada para deter os atacantes, que apenas se dispersaram quando chegou o exército.

"Agora não temos para onde ir", explica a mulher. "E inclusive se tivéssemos casa, quem garantiria nossa segurança? O exército não vai ficar aqui para sempre", lamenta.

Um toque de recolher foi imposto esta segunda-feira em diversos bairros de Ahmedabad, assim como em outras cidades de Gujarat, mas as autoridades locais indicam que a medida poderá ser revogada se a situação continuar calma.

Se esta onda de violência em grande medida foi restrita a Gujarat, suas conseqüências irão longe. É por isso que o primeiro-ministro, Atal Behari Vajpayee, admitiu que se tratava de uma "vergonha" nacional que manchou a imagem de toda nação.

A violência religiosa em Gujarat e outras regiões da Índia poderia continuar nas próximas duas horas, devido à questão religiosa de Ayodhya, que o governo trata de apaziguar.

Os passageiros que morreram no incêndio do trem que voltava de Ayodhya, onde os extremistas hindus haviam decidido lançar a construção de um templo, a partir de 15 de março, sobre as ruínas de uma mesquita do século XVI destruída em dezembro de 1992 por fanáticos hindus.




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