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Gamemaníacos
Fabio Leite
Especial para o Diário
29/01/2006 | 09:28
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Debruçado sobre o console e com os dedos cheios de calos de tanto pressionarem o joystick, o estudante Flávio Rubin Arantes, 18 anos, vara a noite tentando cumprir uma difícil missão. Sem sair da sala de TV de sua casa, em Ribeirão Pires, o adolescente já roubou alguns carros, executou policiais e agora se prepara para exterminar uma gangue rival. Sem dó, nem piedade.

Também pela madrugada, o andreense Leonardo Dias, 14 anos, racha a cabeça pensando na melhor estratégia para vencer adversários conectados à rede em todo o país numa batalha épica. Nem um pouco distante, lá pelas tantas, o mauaense Rodrigo Serra Sampaio, 19 anos, vive um agente secreto que luta contra uma conspiração para salvar a filha de um presidente.

Simulações à parte, o fato é que o número de crianças e jovens que passam horas à frente das TVs e dos computadores cresce a cada dia. No Brasil, já rompeu a barreira dos 10 milhões. Chamados de gamemaníacos (pessoas fanáticas por games), eles vivenciam as aventuras de um mundo virtual cada vez mais próximo da realidade, com a evolução dos gráficos dos jogos. O objetivo principal é fechar o jogo, algo que pode demorar até três meses. “Os jogos de hoje são perfeitos, com gráficos muito bons e jogabilidade”, explica Rodrigo, que diz preferir jogos em primeira pessoa de ação e aventura. “Gosto de matar mesmo”, conta brincando.

De tão vislumbrado com os games, ele chega a esquecer do mundo quando está na frente do videogame, um Playstacion 2. “A hora que ligo o videogame não fala comigo que eu não escuto. Já briguei com a minha namorada por causa disso.” Game Over nem pensar. Somente quando são vencidos pelo cansaço, fato que custa a acontecer, ou a mando dos pais. “Uma vez minha mãe acordou para trabalhar e eu estava jogando ainda. Ela brigou comigo e mandou eu ir dormir”, lembra Rodrigo, que ficou jogando das 21h às 6h.

Grand Theft Auto, ou simplesmente GTA, Ragnarok ou Resident Evil 4 (jogos relatados acima), são alguns dos games preferidos, comprados, em sua maioria, nas feirinhas. “Com o dinheiro de um jogo original você compra quatro piratas”, conta Flávio. Na sala de TV é possível ver uma pilha de quase 40 DVDs de jogos para Xbox, videogame da Microsoft. “Esse é o nosso arsenalzinho”, diz. Junto ao aparato, ele guarda ainda uma inseparável lista de códigos que facilitam superar as fases. “Sem eles é mais difícil fechar”, explica.

A variedade e os estilos são tão grandes que é praticamente impossível enjoar-se. Quem não curte videogame vai para o PC. É o caso de Leonardo, que fica em média seis horas à frente do computador jogando. “É bem legal. Além de jogar você conversa com pessoas em todo o lugar do Brasil”, conta o garoto, que prefere jogar em casa a freqüentar lan houses, antigo point dos gamemaníacos.

Mas a briga maior, muitas vezes, não é com um adversário, nem com chefões e monstros dos games e sim pelo controle do console com o irmão. Na casa de Flávio essa disputa já foi bastante acirrada. “Quando meu pai comprou o videogame minha mãe tinha que fazer uma tabela com o horário que cada um ia jogar. Se não dava muita treta”, conta o irmão Vinícius, 14 anos.

Isso para os jogos individuais. Quando o assunto é futebol, por exemplo, o melhor é casa cheia. Os jovens chegam a promover torneios de Winning Eleven 9 (jogo de futebol com jogadores da atualidade) entre amigos que chegam a durar um fim de semana inteiro. Aliás, quando essa galera se reúne em qualquer outro lugar não tem como não falar de videogame. “Só falamos de três coisas: mulher, música e videogame”, diz Flávio.

Quando tudo começou – O primeiro videogame em todo o mundo surgiu em 1961, resultado de uma invenção de um grupo de estudantes norte-americanos. Denominado Spacewar!, o jogo ocupava míseros 2KB de um computador enorme e caro. Uma década depois, em 1975, nasceu a referência histórica de todos os videogames, o Atari, que reinou soberano no mercado até meados de 1980, com a chegada de games mais modernos como Megadrive, Mastersistem, Super Nintendo entre outros.




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