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Mundo véio sem puliça
Carlos Brickmann
29/03/2015 | 07:00
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Café da manhã com pão fresquinho, manteiga, jornal. Já foi uma beleza! Hoje, o pãozinho subiu de preço, a manteiga sem pão pode dar ideias perigosas às autoridades (com sal é pior!), o jornal não tem notícias que não sejam de crimes.

Na primeira página, o escândalo da Receita. Nas páginas de Política, a CPI do Petrolão, a CPI dos SwissLeaks, o debate sobre recursos não-contabilizados ocultos nas contas do HSBC suíço. Nas páginas de Economia, empresas que demitem porque, acusadas no Petrolão, não recebem o que lhes é devido (e, ao lado, reportagem sobre a quebra iminente de alguma grande construtora, com muitas demissões). Nas páginas de Investimentos, o enorme deficit do Postalis, o fundo de pensão dos Correios, que acaba de ser jogado nas costas dos segurados. Discute-se a possibilidade de algo semelhante em outros fundos de estatais, e a possível escolha do presidente da Vale para a presidência do conselho da Petrobras – embora as duas empresas, uma privada, uma estatal, possam vir a ter interesses conflitantes. Nos artigos, uma pergunta: qual desses é o maior escândalo de corrupção no Brasil, algo que nunca dantes neste País tenha ocorrido?

Este colunista, que jamais apreciou notícias de crime, vai para o Esporte, para saber do Corinthians. Mas aí acha a empresa alemã que diz ter pago propina para obter contratos na Copa do Brasil. Na área de entretenimento, discute-se o aparelhamento do Ministério da Cultura pelo Fora do Eixo – aquele, do Pablo Capilé.

Há café da manhã que resista? Apesar de tudo, bom dia!

Questão de ranking
O Mensalão era o maior escândalo da história. Mas Mensalão é para os fracos: os malfeitos da Operação Lava Jato são muito maiores. E o escândalo da Receita dá quase duas operações Lava Jato no quesito ladroeira. Não esperem luz no fim do túnel: o cartel do Metrô fez com que o trem que vinha na contramão se atrasasse. E o trem-bala, o que estaria pronto na Copa de 2014, só vai acender os faróis no improvável dia em que Mercadante não quiser sair na foto.

Por que este nome?
Intrigante o nome Zelotes dado pela Polícia Federal à operação na Receita. Os zelotes eram um grupo de judeus cujo objetivo era “zelar pelas Leis de Deus”. Lideraram a rebelião judaica contra Roma entre os anos 66 e 70 depois de Cristo, por rejeitar um imperador pagão. Tito, filho do imperador Vespasiano, comandou as tropas romanas, que derrotaram os judeus, exilaram-nos, proibiram sua permanência na Judeia, destruíram o Segundo Templo de Jerusalém, arrasaram a cidade e mudaram seu nome para Aelia Capitolina. Um grupo de zelotes continuou a resistir na montanha fortificada de Massadá. Derrotados, os 960 sobreviventes preferiram o suicídio coletivo à rendição. Essa é a história, como narrada em A Guerra Judaica por Flávio Josefo, duro crítico dos zelotes, a quem responsabilizava pela deflagração de uma guerra que não podiam ganhar.
E que é que isso tem a ver com a ação da Polícia Federal na Receita? Estarão os federais considerando-se os verdadeiros, únicos e rígidos zeladores da Lei?

Definição definitiva
Do presidente nacional do PT, Rui Falcão, na terça-feira, em reunião com sindicalistas ligados ao partido, referindo-se à administração da presidente Dilma Rousseff: “É um governo de merda, mas é o meu governo”.
Rui Falcão não está sozinho. Há alguns meses, elogiando a professora Maria da Conceição Tavares por sua fidelidade partidária, o ex-presidente Lula lhe atribuiu a seguinte frase: “O PT é uma merda, mas é o meu partido. Ele não presta, mas é meu”. A professora estava presente ao encontro. Nada desmentiu.

Um por mês
Thomas Traumann, das Comunicações, é o terceiro ministro a cair em três meses do segundo governo de Dilma. O primeiro foi Marcelo Nery, da Secretaria de Assuntos Estratégicos; substituto, Roberto Mangabeira Unger. O segundo foi Cid Gomes, ministro da Educação; substituto, Renato Janine Ribeiro. E Traumann, o terceiro, será substituído pelo ex-deputado estadual e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, do PT paulista, tesoureiro da campanha de Dilma...

Faltou, Brecht!
Renan Calheiros e Eduardo Cunha, quem diria, conseguiram obrigar a presidente Dilma a cumprir a lei que ela já havia assinado, reduzindo a correção monetária das dívidas de Estados e Municípios com a União. Estão exigindo a redução do número de ministérios de 39 para 20. Querem reduzir ao menos uma parte dos cargos em comissão – aqueles em que o nomeado não precisa prestar concurso. Em Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, o secretário de Galileu, indignado pela submissão do chefe às ordens da Igreja Católica, proclama: “Pobre do povo que não tem heróis”. Galileu responde: “Pobre do povo que precisa de heróis”.
O grande escritor alemão não podia prever a situação do Brasil. Pobre do povo que, para ter heróis e louvá-los, precisa ter Renan Calheiros e Eduardo Cunha.

Erro essencial
Na coluna anterior, este jornalista errou feio: Clésio Andrade, da CNT, não é vice do petista Fernando Pimentel em Minas. O vice é Antônio Andrade.




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