"A reunião de Genebra constitui o início de uma nova agenda internacional", afirmou Jean-Michel Blanquer, diretor do Instituto Francês de Altos Estudos da América Latina (Isheal), que destacou a presença de Annan ao lado de três dirigentes que se haviam oposto à guerra no Iraque sem o aval da ONU.
"É uma reunião de países emblemáticos que querem dizer juntos a mesma coisa sob o auspício da ONU", explicou o analista. "Busca-se indubitavelmente dar um contexto multilateral à ajuda ao desenvolvimento", frisou.
"Em um contexto de pós-guerra no Iraque, o objetivo é demonstrar ao mesmo tempo o renascimento do multilateralismo e lhe dar credibilidade" com uma reunião dedicada à fome e não à segurança, acrescentou Blanquer.
O próprio Lula antecipou que essa "importante reunião pode culminar com um processo mais forte e eficiente para outras reuniões", numa alusão à cúpula sobre o desenvolvimento convocada por Annan semana passada em Davos (Suíça) para o mês de junho em Nova York.
O secretário-geral da ONU havia declarado no Fórum Econômico Mundial que "era hora de reequilibrar a agenda internacional" e lamentou que a guerra no Iraque e a luta antiterrorista desviaram "nos últimos anos nossa atenção" dos problemas da fome e da pobreza.
Há um ano, na mesma tribuna de Davos, em plena crise diplomática entre partidários e adversários da guerra contra o Iraque, Lula disse que a luta contra a pobreza tinha que ser prioritária e apresentou sua idéia de criar um fundo mundial contra a fome.
Seis meses depois, o presidente brasileiro foi ao G8 de Evian (leste da França), 40 km de Genebra, em busca de apoio à sua proposta e sugeriu então a possibilidade de que esse fundo fosse financiado por uma taxa sobre a venda de armas.
Embora o G-8 não tenha dedicado uma linha à idéia de Lula em seu comunicado final, Chirac se mostrou interessado e decidiu ir ao encontro de Genebra para examinar "como lutar melhor contra a fome no mundo", em companhia de Annan, Lula e Lagos.
Segundo Blanquer, a presença de Lagos "não é inocente". "Representa a América Latina que funciona com um governo com preocupações sociais", explicou. De seu ponto de vista, é um apoio para Lula na reunião.
Tampouco é inocente a presença de Chirac, que liderou no Conselho de Segurança a oposição à guerra contra o governo de Saddam Hussein e assumiu o papel de grande defensor do multilateralismo.
O ministro francês das relações exteriores, Dominique de Villepin, visitará precisamente Brasil, Chile e Argentina no início de fevereiro.
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