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Grupo Capa celebra a resistência

Companhia de Mauá faz 25 anos e comemora com apresentações no Teatro Municipal da cidade

Por Sara Saar
Especial para o Diário
20/04/2009 | 07:00
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Para chegar até aqui, foi um suado trabalho de resistência. Agora, para celebrar 25 anos de existência, o Grupo Capa, de Mauá, apresenta na quarta-feira e no dia 20, sempre às 20h, a comédia Ah Se o Anacleto Soubesse. A montagem, que também homenageia o circo-teatro - linguagem que remete às origens artísticas de seu fundador, Paulo Cardoso - será exibida no Teatro Municipal da cidade, com ingressos a R$ 10.

Anacleto é um dos 53 espetáculos que Paulo Cardoso dirigiu ao longo desses 25 anos. E apesar da celebração, a montagem é levada ao palco em um momento em que a companhia quase agoniza.

Não sucumbe porque às vezes conta com apoio cultural do comércio local e de pequenas empresas. E porque ainda espera obter subvenção municipal e outros patrocínios.

Cardoso resiste a ter de enfrentar o pior. Tanto que planeja subir aos palcos sozinho com o monólogo Amor e Ódio - escrito por ele - que traz passagens do grupo e fragmentos de alguns pensadores do teatro. "Não estou encontrando, como profissional, uma forma de sobreviver dignamente. Artistas não vivem de lágrimas, mas pagam contas. Eu tenho muito medo do grupo não resistir ainda neste ano", desabafa.

"Entra governo, sai governo, você continua à margem. Eu sempre sonhei em desenvolver um trabalho cultural mais amplo na cidade e acredito que Mauá tem o dever de reconhecer o trabalho de seus artistas", afirma.

Embora entenda que o enorme rombo nos cofres da Prefeitura hoje praticamente inviabilize qualquer projeto mais ousado, Cardoso acredita que Mauá tem saída para Cultura. Ele admite que gostaria de um dia comandar a Secretaria de Cultura da cidade. E tem na ponta da língua sua plataforma: expandir oficinas culturais, cujo alunos formariam público e também criariam mais companhias. Isso, basicamente, já movimentaria a agenda local.

Origens - O primeiro elenco do Grupo Capa se formou a partir de 1984, quando Cardoso colocou anúncios em jornais sobre curso de teatro ministrado por ele. Os ensaios aconteciam na antiga Biblioteca Municipal, onde hoje é o prédio da Faculdade Fama, e em salas cedidas por partidos políticos.

Segundo o diretor, o grupo passou por muitos obstáculos durante e após o regime militar. "As primeiras peças, Bomba de Riso e Consultório Maluco, sofreram censura federal por conta de palavras, palavrões e pernas de fora. Cortamos algumas cenas no improviso para ter censura livre, mas não adiantou. A primeira teve censura de 12 anos e a segunda, de 16", recorda.

"Havia muitos conflitos, a ponto de o espetáculo ser proibido, de terminar peça com carro da polícia na porta, de eu ir para delegacia", afirma. Uma montagem proibida foi Chuvas e Sorrisos, que falava sobre uma cidade abandonada.

A companhia também viveu momentos gratificantes. Entre os melhores, está a produção do espetáculo O Céu Uniu Dois Corações. Segundo Cardoso, a peça bateu recordes de apresentações do Capa, viajou todo o Estado de São Paulo e ficou em cartaz durante três anos.

O grupo ainda venceu duas vezes a etapa regional do Mapa Cultural Paulista com Diário de Adolescente (1997) e Greve dos Sexos (2000). (supervisão de Gislaine Gutierre)

Volta aos tempos áureos do circo

Os bons momentos do circo estão de volta. Pelo menos na peça Ah Se o Anacleto Soubesse, que o Grupo Capa apresenta em comemoração aos 25 anos de estrada.

A comédia escrita por Paulo Orlando em 1931 - com texto e figurino adaptados para os anos 1970 - conta a história de Anacleto, chefe de família que é escravo da mulher, mas sonha cair na farra com o melhor amigo Tobias depois de ouvir suas histórias sobre escapadas à noite.

Um plano realiza esse desejo, mas o estopim da confusão é o flagrante que os dois casualmente dão na mulher de Anacleto. Eles a escutam dizer que gostaria de ser casada com um homem audacioso, forte e dominador.

"Até aquele momento, ela dominava Anacleto e, dali em diante, ele é quem manda. Tudo se inverte", conta o diretor, que também interpreta o personagem Tobias.

Segundo Cardoso, a proposta do espetáculo é prestar homenagem às comédias do circo-teatro brasileiro, gênero que tinha o objetivo de provocar riso, apenas. "O circo é um tipo de arte que resiste ao tempo sem nunca envelhecer", afirma.

A inspiração para o diretor, neste trabalho, é sua própria história de vida. Cardoso começou carreira aos 8 anos no circo-teatro da família, em Marialva, no Paraná. Ele se apresentava sempre na parte da comédia ou do dramalhão que vinha após os números musicais

No final dos anos 1970, houve a decadência do circo com a marginalização e a falta de verbas. "Em toda cidade, éramos vistos como ladrões e questionados pela polícia", conta.

Quando se mudou para São Paulo, aos 17 anos, passou de artista a servente de pedreiro. Mas não tardou a voltar às suas origens artísticas. Decidido a dar aulas de teatro, buscou diversos cursos profissionalizantes. De 1989 a 2006, trabalhou como diretor do Núcleo de Artes Cênicas do Sesi.

Ao avaliar sua trajetória, hoje, Cardoso não sabe se faria tudo de novo, mas afirma que a motivação para seguir em frente sempre foram os bons frutos colhidos ao longo da jornada.

O elenco de Anacleto é formado por Paulo Cardoso, Rafael Moreira, Vivian Fiorio, Carlos Beah, David Cardoso, Ataliba Neto, Karina Camargo, Elayne Lopez, Fernando Silva, Sandra Cardoso, Lourdes Bastos e Lucilene Bartelt.

Ah Se o Anacleto Soubesse - Circo-teatro. Amanhã e dia 20 de maio, às 20h. No Teatro Municipal de Mauá - Av. Gabriel de Marques, 353. Tel.: 4555-0086. Ingr.: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)




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