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Cores por todos os lados

Grafiteiro de São Bernardo, Robson
Melancia pede respeito ao seu ofício

Miriam Gimenes
13/02/2017 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


 O filme Minha Mãe é Uma Peça – 2, protagonizado por Dona Hermínia (Paulo Gustavo), já levou 8,8 milhões de espectadores aos cinemas. Alcançou a marca de maior renda de um filme nacional – com R$ 117.295.416 acumulados em venda de ingressos – e ultrapassou Os Dez Mandamentos, até então dono do recorde. É sucesso absoluto e conquistou fãs de todas as idades.

Entre eles está o grafiteiro de São Bernardo Robson Melancia, 42 anos, que finalizou semana passada, em uma praça no bairro do Taboão, a caricatura da personagem. “Assisti aos dois filmes e, em várias cenas, consegui enxergar minha mãe”, confessa. Sua mãe, Marlene, faleceu vítima de um AVC (Acidente Vascular Cerebral) há cinco anos e, junto com o seu pai, Laércio, foi grande incentivadora da arte do filho.

Robson nasceu em São Paulo e, com 13 anos, veio para o Grande ABC. O pai desenhava muito bem, pintava quadros, fazia desenho em carro, o que na época o marginalizava. “Acabei pegando gosto, tanto que sou funileiro e pintor de profissão. Comecei a pintar com pincel, aerógrafo. Há três anos só que comecei a usar o spray.”

Ele estava em uma festa de Dia das Crianças e o organizador pediu para que criasse um desenho usando spray. “Fiz e ficou uma droga, porque não conhecia a lata. Ele me deu as dele e comecei a treinar.” Uma vez aperfeiçoada a técnica, Robson espalhou sua arte por algumas ruas de São Bernardo, a maioria na Zona Leste de São Paulo e até no Interior do Estado.

E o sucesso foi tanto que uma delas, a de uma menina com traços delicados, que tem os cabelos compostos por uma primavera, viralizou nas redes sociais. Em algumas postagens, foi usada para criticar a atitude do prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), que apagou os grafites da 23 de maio. “Estava passando em uma cidade chamada Dois Córregos, vi o muro em branco e visualizei o desenho. Voltei lá, expliquei minha proposta para dona da casa, que achou sensacional. Ficou uma arte viva, que vai modificando com o tempo.”

Para ele, hoje há uma inversão de valores, inclusive pela classe política, em relação à arte. “Não acho que eles (políticos) não olhem por esses locais (que precisam de revitalização). Talvez não enxerguem com os meus olhos. Acho que um pouco mais de cor já ajuda bastante o ambiente. Por que o poste é branco se ele pode ser colorido?”, questiona.

E essa, para ele, é a função da arte, principalmente a de rua. “Ela é tudo aquilo que tira o cotidiano, que muda a sua rotina. E isso só acrescenta ao nosso dia a dia.” Seu sonho é ter respeito não só dos políticos, como da população. “Infelizmente, ainda hoje estamos pintando no muro e, da mesma forma que alguém passa, buzina e agradece o nosso trabalho, tem gente que grita: ‘Vai trabalhar, vagabundo’. É complicado. Seria legal ter reconhecimento.” Mais respeito à arte, por favor.




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