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Grande ABC ainda tem 20 mil ligações de luz clandestinas

Número de ‘gatos’ é 55,56% menor do que o registrado em 2015; meta da AES Eletropaulo é regularizar 5.000 pontos em 2017

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
11/12/2016 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Levantamento da AES Eletropaulo de julho estima a existência de pelo menos 20 mil ligações clandestinas de energia elétrica nas sete cidades da região. Embora o número seja 55,56% menor do que o registrado pelo Diário em maio de 2015, quando havia 45 mil gatos de luz, a concessionária ainda enfrenta dificuldades para regularizar pontos irregulares no Grande ABC. Entre os desafios apontados para que o problema seja solucionado estão as áreas de preservação ambiental, onde é preciso autorização específica, e a necessidade de os trabalhos terem de caminhar junto com projetos de urbanização por parte das administrações municipais.

O cronograma da empresa para 2017 prevê a regularização de 5.000 pontos, o correspondente a 25% das ligações clandestinas de energia existentes. A previsão é contemplar as seguintes localidades: Areião, Montanhão, Jardim Represa e Poney Clube, em São Bernardo; Rua dos Mirandas, no bairro Inamar, em Diadema; bairros Jardim Santo André, Santa Terezinha e Sítio Cassaquera, em Santo André; além dos bairros São João, Jardim Ipê e Jardim Paranavaí, em Mauá. As melhorias integram o Programa Transformação de Consumidores em Clientes. Segundo a AES Eletropaulo, em 2016 foram regularizados 45 mil gatos de luz, em toda sua área de concessão, sendo 7.500 apenas no Grande ABC.

“O certo seria fornecer (a regularização) para todos os locais que têm problema e onde for área de preservação permanente arrumar um local para que as pessoas sejam transferidas. Mas o poder público não tem cacife para fazer isso”, critica o professor do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Universitário da FEI Francisco da Costa Saraiva Filho.

Uma das áreas localizadas em região de preservação ambiental é a Vila Moraes, em São Bernardo. O bairro é habitado por aproximadamente 500 famílias, sendo que as primeiras chegaram há 50 anos. O único tipo de infraestrutura com que o local conta é a ligação de água – que chegou em outubro. A luz que ilumina o interior das casas é irregular. O improviso traz transtornos, além de medo. “O transformador não suporta e a luz pifa direto. A sobrecarga de energia também queima muita coisa. Já troquei três geladeiras”, conta o montador de móveis Tarcisio Leonardo, 43 anos.

“Como a gente fica direto sem luz, já chegamos a ficar até três dias, tem que acender vela. E aí está o perigo. Cinco meses atrás, estava sem energia e um vizinho, que havia bebido, acendeu uma vela e dormiu. O barraco pegou fogo e, por sorte, uma vizinha viu a fumaça a tempo de tirá-lo de lá”, lembra a líder comunitária Monica Melchiades Leonardo, 45.

O pedreiro Edilson Moreira de Souza, 49, lamenta o fato de ter luz na clandestinidade. “Não é correto, a gente prefere pagar do que ter de graça, pois isso é um risco grave para a gente”, considera.

A regularização de energia elétrica do local, no entanto, não tem previsão de acontecer. A AES Eletropaulo diz que, por ser área de preservação permanente, é necessário que a Prefeitura de São Bernardo apresente o licenciamento ambiental. A concessionária “aguarda as liberações dos órgãos responsáveis para programar a regularização do espaço.”

A administração municipal informou que os moradores serão reassentados em empreendimento habitacional do projeto Minha Casa, Minha Vida na própria área de mananciais, no entanto, o tempo para que as unidades sejam viabilizadas ultrapassará 24 meses. “Para que os moradores aguardem o atendimento habitacional definitivo em melhores condições de segurança, o município autorizou a AES Eletropaulo a executar, a título precário, a rede provisória de energia elétrica, que será desfeita quando os moradores forem reassentados”, diz a Prefeitura. O Paço acrescenta ainda que a concessionária “até agora se recusa a fazer sua parte”.

“As alegações apresentadas (pela empresa) para não executar os serviços, nos termos autorizados, não têm respaldo legal, como já foi esclarecido pela Secretaria de Gestão Ambiental do município e pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo)”, conclui o Executivo.

Especialistas fazem alerta relacionado aos perigos da rede elétrica irregular


As ligações clandestinas de energia elétrica são uma ameaça para a população que convive com a situação.

“O risco de incêndio é enorme. As pessoas fazem o “gato” em um ponto da rede, um vai puxando do outro, sobrecarrega os primeiros, esquenta e pega fogo na fiação, que é muito precária”, explica o professor do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Universitário da FEI Francisco da Costa Saraiva Filho.

“Os riscos são de acidentes pessoais, até fatais, por acessar a rede energizada, durante a conexão indevida nos cabos elétricos energizados das concessionárias. Bastam em torno de 50 volts (como fonte de energia) para matar uma pessoa, e principalmente se ela estiver em condições de pele úmida,bastam alguns milionésimos de corrente elétrica que circula pelo corpo de uma pessoa ao tocar a fonte de energia”, fala o professor de Engenharia Elétrica da Universidade Mackenzie Edison Massao Motoki.

A cada ano, segundo a Abracopel (Associação Brasileira de Conscientização para os Perigos da Eletricidade), centenas de pessoas são atingidas por danos diretos ou indiretos das ligações clandestinas de eletricidade em todo o Brasil. 




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