Economia Titulo Crédito
Endividamento atinge
44,5% do orçamento

Percentual divulgado pelo BC é considerado alto por
especialistas e pode gerar estímulo ao desemprego

Por Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
25/08/2013 | 07:05
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Divulgação


As suas dívidas podem estimular um aumento na taxa de desemprego do País. A afirmação parece citação de um romance, inviável para a realidade e ao mesmo tempo forte o suficiente para emocionar o leitor. Porém, é a pura verdade.

Segundo o último dado divulgado pelo BC (Banco Central), o endividamento das famílias com o Sistema Financeiro Nacional estava em 44,52% do orçamento. “Isso sem contar o comprometimento com as administradoras de cartão de crédito, que teoricamente não são consideradas instituições financeiras e não precisam prestar contas ao BC”, pontuou o professor de Economia e Finanças do Insper Otto Nogami.

Na prática, alguns consumidores estão em uma enrascada financeira e outros, não, tendo em vista que se trata de um resultado médio de endividamento. Mas a verdade é que, descontadas as dívidas financeiras, sobram apenas por volta de 55% do rendimento para as famílias brasileiras sobreviver.

O crédito no País é um dos mais caros do mundo e o risco de se envolver em uma bola de neve de juros é maior no Brasil, o que reforça a imagem de que o endividamento é considerado um verdadeiro risco para a economia.

Os países com sistemas financeiros desenvolvidos, como o Brasil, possuem indicadores de juros básicos. Por aqui, ele é denominado como Selic, que atualmente está em 8,5% ao ano. Na teoria, o dinheiro tem no mínimo esse custo aos brasileiros. Mas existem muitos outros fatores que compõem as taxas que chegam aos consumidores. Entre eles, o custo aos bancos, o lucro e os tributos. E, no fim das contas, os percentuais chegam bem mais altos na ponta.

Exemplo disso é o crédito consignado vinculado ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Segundo o último balanço do BC, o menor custo de uma instituição para esta operação era de 22,06% ao ano, ou seja, mais que o dobro da Selic. E esse tipo de empréstimo, por ter desconto em folha de pagamento, dá maior segurança aos bancos e é o mais barato que eles oferecem para consumo.

A título de comparação, nos Estados Unidos, a taxa básica de juros em novembro de 2012 – pela informação comparada de países mais recente disponível no site do BC – era de 0,25% ao ano. Na Inglaterra, é um pouco mais alta, de 0,5% ao ano. No Canadá, 1%. No Japão, 0,1%. No mesmo período, a Selic estava em 7,25%.

Outro ponto que sustenta a ideia de que o percentual de endividamento está acentuado é a cultura financeira dos brasileiros de pouca poupança. “Isso não acontece nos Estados Unidos, por exemplo. Lá, é a previdência privada que é a poupança. E eles são bastante endividados com o sistema financeiro, porque o custo do crédito é muito baixo; financiamentos imobiliários chegam a prazos de 50 anos, por exemplo, e dificilmente eles se enrolam. Mas se acontecer, vão resgatar o dinheiro da previdência para liquidar as dívidas”, explica Nogami.

Custo alto do crédito e falta de cultura de poupança diminuem a disposição das pessoas em consumir. E é aí que começa o caminho do perigo.

“Na medida em que as famílias vão aumentando o endividamento, que tem custo alto, elas têm menos facilidade para assumir novas dívidas. Isso prejudica a situação comercial”, explicou o professor de Economia da Universidade Metodista de São Paulo Sandro Maskio.

EFEITO DOMINÓ

Quando os consumidores apertam o freio nas compras, os resultados do comércio também diminuem. Maskio cita o último registro do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para exemplificar esse processo de resfriamento no consumo.

Segundo o instituto, em junho, as vendas do varejo aumentaram 1,7% em relação ao mesmo período de 2012. E este foi o pior resultado para o mês desde 2003. Em relação ao acumulado no primeiro semestre, houve incremento de 3%, menor patamar desde 2005 para o período.

Como consequência da redução nas vendas, o próximo passo é uma queda no faturamento dos fabricantes e, consequentemente, na produção – ou seja, impacto na indústria.

Se toda essa trajetória se concretizar, a tendência é que a pressão inflacionária diminua, o que por um lado é bom para o consumidor, que ganha mais poder de compra. Por outro, também é esperado um aumento na taxa de desemprego, já que as empresas não terão receita suficiente para manter os trabalhadores.

Maskio avalia que a dinâmica econômica do País está previsível e, infelizmente, o cenário para o futuro não é dos melhores, uma vez que o governo federal estimulou muito o consumo e, como consequência, houve o aumento do endividamento. 




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