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Aids: doença recua; preconceito, não
Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
30/11/2003 | 19:42
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Os casos de Aids diminuíram nos últimos anos no Grande ABC, e os avanços na medicina já garantem uma sobrevida maior aos portadores do vírus. No entanto, os soropositivos ainda não superaram a barreira do preconceito e da exclusão social. Para eles, as dificuldades vão da disputa por uma vaga no mercado de trabalho até a perda de amizades. Esse será um dos principais temas discutidos nesta segunda-feira no Simpósio DST/Aids do Grande ABC, em Mauá.

Na ótica dos portadores de Aids, muita gente ainda desconhece os meios de transmissão da doença e evita qualquer tipo de contato. “Somos submetidos a situações constrangedoras por conta disso”, afirma Marcos Nogueira, 37 anos, portador do vírus há sete anos. O último embaraço pelo qual passou ocorreu em um bar de São Bernardo, de onde uma pessoa tentou expulsá-lo por causa da doença.

“Esse tipo de coisa não pode acontecer. Acaba com a autoestima do portador”, diz Maria José Basaglia, coordenadora do programa DST/Aids de Mauá e responsável pelo Simpósio do Grande ABC.

Outro problema é o desemprego. A debilidade física é um dos principais fatores que afastam o portador de Aids de sua carreira. Nogueira trabalhava como inspetor de qualidade de uma empresa multinacional. “Ganhava um bom salário, que me permitia alguns luxos”, afirmou. Quando a doença se manifestou, ele não coseguiu mais se manter na função.

Em dificuldade financeira, Nogueira perdeu a casa onde morava. Hoje vive em um abrigo mantido por uma ONG de São Bernardo, a Amor à Vida. A única renda é obtida com bicos de eletricista. Mesmo assim, não consegue ganhar mais do que R$ 200 por mês.

Já Isabel, que não quis ter o sobrenome revelado, abandonou o emprego como doméstica para se dedicar à costura. “É um serviço mais ameno. Não tenho força para fazer um trabalho pesado”, afirmou. Assim como Nogueira, sua renda caiu drasticamente.

Para Adriana, que também prefere omitir o sobrenome, a alternativa para fugir do preconceito foi esconder que tem a doença. “Só as pessoas mais próximas sabem.” Com 23 anos, ela faz parte da nova geração contaminada pelo vírus. A transmissão se deu no fim do ano passado em uma relação sexual. “Não usei camisinha. Na hora, nem pensei nisso”, afirmou.

O descuido também acarretou uma gravidez indesejada. Adriana descobriu ser portadora quando fez seu primeiro exame pré-natal. “Entrei em depressão. Sempre ouvi falar da Aids, mas achei que isso fosse algo muito distante. Não conhecia ninguém que tinha a doença.” Hoje, ela se diz restabelecida do choque. Seu filho não é soropositivo. Adriana foi submetida a um tratamento durante a gravidez.

“As chances desses tratamentos surtirem efeito chegam a 99%. Para isso, a doença deve ser detectada o quanto antes”, afirmou o coordenador do programa DST/Aids de São Bernardo, Carlos Alberto de Oliveira.




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