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Faculdade investiga apnéia e insônia
Por Marco Borba
Do Diário do Grande ABC
23/04/2006 | 07:41
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A Faculdade de Medicina da Fundação do ABC, em Santo André, coloca em funcionamento a partir da próxima semana o Laboratório do Sono, espaço destinado a diagnósticos das principais doenças respiratórias do sono, como apnéia, insônia e a chamada síndrome das pernas inquietas. O laboratório - duas salas que simulam quartos residenciais - foi montado no Anexo 3 da instituição e vai atender inicialmente apenas pacientes da rede particular e de convênios, com encaminhamento médico que comprove a necessidade dos exames. Atenderá ainda pacientes de protocolos de pesquisa da faculdade.

De acordo com a neurologista especializada em doenças do sono e coordenadora do laboratório, Rosa Hasan, a faculdade também tem planos de atender pacientes com indicação de exames feitos pela rede pública. "Mas ainda estudamos de que forma será a remuneração, pois são exames de alto custo. Pode ser por meio do SUS (Sistema Único de Saúde), que hoje cobre esses exames."

O laboratório da Faculdade de Medicina vai cobrar cerca de R$ 600 pelos exames. "O valor é mais baixo do que em outros locais, que chegam a cobrar R$ 1 mil ou mais", compara Rosa Hasan.

Nos exames de diagnóstico, são utilizados equipamentos (polígrafos) capazes de registrar, gravar e analisar informações como freqüência cardíaca, oxigenação do sangue, esforço respiratório e movimentação dos músculos facial, das pernas e dos olhos.

Segundo a neurologista, a apnéia é uma das principais doenças respiratórias do sono e atinge cerca de 5% da população mundial. O problema é causado por alterações anatômicas das vias respiratórias, como estreitamento de faringe e flacidez das amígdalas. Essas pausas fazem com que o sono seja de má qualidade e fragmentado, causando alterações na oxigenação sangüínea, o que pode afetar o sistema cardiovascular e elevar o risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral), infarto e hipertensão arterial.

Outros dois incômodos, aponta Rosa Hasan, prejudicam o sono: a insônia e a síndrome das pernas inquietas. A primeira atinge especialmente idosos e mulheres. A outra caracteriza-se por dormência nas pernas. "É um distúrbio no sistema nervoso, que pode ser causado por anemia. É mais comum em gestantes", explica a médica.

Segundo Rosa Hasan, o exame é que vai indicar qual o tratamento adequado para cada caso. "A apnéia pode ser resolvida com cirurgia ou o uso, durante o sono, de uma máscara nasal acoplada a um aparelho respiratório que leva o ar para a faringe."

Mapeamento - O laboratório do sono vai funcionar de domingo a sexta-feira, das 20h às 8h. O paciente chegará cerca de uma hora antes do horário em que costuma dormir para que tenha os sensores instalados no corpo. A pessoa deverá dormir por pelo menos seis horas e será monitorada por câmeras de vídeo, microfones e os sensores.

Após o mapeamento, será emitido laudo técnico com as informações obtidas e definido o diagnóstico preciso do problema. Foram investidos cerca de R$ 120 mil na aquisição de equipamentos e montagem das salas.

No Estado, as referências em exames são o Laboratório do Sono do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas - atende a 20 pessoas por semana, em dois leitos, o Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e o Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos.

Saiba mais

O que é apnéia do sono?
Problema respiratório que ocorre enquanto dormimos. É caracterizada por interrupções breves e repetidas da respiração, com duração de pelo menos dez segundos, numa freqüência maior que cinco episódios por hora de sono.

Existe mais de um tipo de apnéia?
Há dois tipos. A central, bem menos comum, caracteriza-se pelo cérebro que deixa de enviar ordem aos músculos do tórax responsáveis pela respiração. A faringe fica aberta, mas o tórax não se move. A outra, a apnéia obstrutiva, caracteriza-se pela faringe obstruída, apesar do movimento do tórax. Essa é mais freqüente e mais grave. Na maioria dos casos, está associada com ronco alto e contínuo durante o sono.

O que causa a apnéia obstrutiva?
Na maioria das vezes, é conseqüência de um estreitamento da faringe. Esse estreitamento pode ocorrer por relaxamento da musculatura ao redor da faringe durante o sono profundo (o que ocorre por conta do uso de álcool, sedativos, obesidade, alterações do esqueleto facial - pessoas com queixo e maxilar pequenos). O decúbito dorsal (dormir de barriga para cima) também pode facilitar o estreitamento da faringe em algumas pessoas.

Quais os principais sinais da doença?
Ronco alto e freqüente, engasgos e sufocação durante o sono, sonolência durante o dia, cansaço ao acordar, dor de cabeça ao acordar, dificuldade de memória, dificuldade de concentração, irritação e depressão, obesidade, pressão alta e impotência sexual.

Quais as conseqüências da doença?
Aumento do risco de problemas cardíacos, pressão arterial, batimento cardíaco irregular e infarto.

É possível tratá-la?
O tratamento ideal depende do grau de apnéia verificada pelo exame do sono (polissonografia). Nenhum tratamento medicamentoso é eficaz para a apnéia.

Dicas:
- Pessoas acima do peso ideal são aconselhadas a emagrecer.
- Dormir de lado pode ajudar.
- Evitar uso de álcool e medicamentos sedativos.
- Uso, durante o sono, de uma máscara nasal acoplada a um aparelho respiratório que leva o ar para a faringe.
- Uso de aparelhos odontológicos podem ser indicados, sempre com prévia avaliação médica.
- Tratamento cirúrgico específico: para corrigir a obstrução da faringe ou nasal. Também está prevista cirurgia de estética facial para correção óssea do maxilar ou da mandíbula.

Como é feito o exame?
São instalados sensores em diversas partes do corpo do paciente, que durante o sono registram, gravam e analisam informações como freqüência cardíaca, oxigenação sangüínea, esforço respiratório e movimentação de músculos faciais e das pernas.

Atendimento
O Laboratório do Sono está instalado no Anexo 3 da Faculdade de Medicina do ABC (avenida Príncipe de Gales, 821, Santo André). Para ser atendido, o paciente deve ter encaminhamento médico que comprove a necessidade dos exames.




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