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Fogos de artifício exigem atenção e cuidado no manuseio

Em dez anos, 5.586 pessoas em todo o País foram internadas após acidentes com o material

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
28/12/2019 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Tradicionais nas festas de fim de ano, os fogos de artifício exigem cuidado e atenção no seu manuseio. Itens que acumulam grande quantidade de pólvora, os artefatos têm potencial para acidentes que podem ser graves. Em todo o País, segundo números do Datasus (banco de dados do Ministério da Saúde), 5.586 pessoas já foram internadas por esse motivo nos últimos dez anos. Na região, de janeiro de 2009 a outubro deste ano, 50 munícipes foram hospitalizados e não houve óbitos.

Os números podem, no entanto, esconder subnotificações. Incidentes com fogos de artifício que resultem em atendimento médico não têm a notificação feita de forma compulsória (obrigatória). A funcionária pública Renata Pereira, 26 anos, moradora de Santo André, estava passando a última virada de ano na casa de uma cunhada quando foi atingida por um foguete com vareta, mesmo estando dentro da garagem.

Renata relatou que estava em uma área descoberta e viu quando o artefato, que estava sendo solto na rua, apoiado em uma garrafa, percorreu um trajeto próximo ao chão, subiu, e caiu bem ao seu lado. “Estava prestando atenção e corri para não cair em cima de mim. Ainda assim, quando atingiu o solo, voaram estilhaços perto do meu ouvido e outros dois perto do nariz e no olho”, relembrou.

A moradora procurou atendimento médico, mas não consta qualquer incidente este ano na região de acordo com o Datasus. Outras duas pessoas se feriram levemente, mas não chegaram a procurar assistência médica. “Achei que meu tímpano tivesse estourado, porque não ouvia direito. Só melhorou depois de uns três dias”, completou.

As sequelas de um acidente em 2007 foram mais graves para o administrador Renê Wolf, 39, morador de São Bernardo, que perdeu a mão direita ao manipular um rojão conhecido como ‘treme-terra’. O artefato explodiu na sua mão e desde então foi preciso reaprender as atividades mais simples, como cortar um pão ou abotoar uma camisa. “Hoje já levo uma vida normal, mas não quero mais saber de fogos”, pontuou.

Os fogos de artifício podem causar lesões com lacerações, cortes e até amputações, como a que ocorreu com Wolf, alerta a SBCM (Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão). “São um espetáculo para os olhos, mas um grande perigo para as mãos”, explicou o presidente da instituição, Marcelo Rosa de Rezende. “Crianças devem ser mantidas afastadas e não ser incentivadas a manipular nenhum tipo de produto”, alertou. “Também no armazenamento, deve-se ter o mesmo cuidado que tomamos com armas de fogo”, concluiu. 

A exposição em excesso ao barulho dos fogos pode causar trauma acústico, lesão no ouvido interno que pode levar à perda da audição. Também pode ocasionar um zumbido permanente no ouvido, considerado sintoma de perda auditiva. A recomendação para evitar os problemas é o uso de protetor auricular e manter distância das explosões. “Esse cuidado é necessário para que os tímpanos ou qualquer outra parte do canal auditivo não sejam afetados”, explicou a otorrinolaringologista e professora da USP (Universidade de São Paulo) Tanit Ganz Sanchez.

Itens são vendidos de forma irregular

Os fogos de artifício têm sua venda controlada, mas não é difícil encontrar pessoas que o vendam irregularmente. Em 24 de setembro de 2009, a explosão de uma loja de pipas que fazia comércio ilegal dos artefatos destruiu um quarteirão inteiro e matou duas pessoas na Vila Pires, em Santo André. Ontem, a equipe de reportagem do Diário flagrou barraquinha informal ofertando os produtos na Estrada do Pedroso, área periférica da cidade.

Perito em incêndio e explosões, Carlos Henrique dos Santos alerta que os artefatos só devem ser comprados em comércios que contam com alvará de funcionamento junto ao Corpo de Bombeiros (responsável pela fiscalização da instalação do estabelecimento) e às prefeituras (que fiscalizam em caso de venda irregular). Não devem ser manipulados perto de crianças e as pessoas devem dar preferência para locais abertos e no nível do solo no momento do uso. Santos lembrou que os fogos também têm data de validade e que as chances de acidentes são maiores com aqueles que já estão vencidos.

Santo André informou que a fiscalização tem sido reforçada, mas que, até o momento, não encontrou nada irregular. A sanções são desde aprensão de mercadoria até interdição do estabelecimento.

São Bernardo informou que irregularidades podem resultar no fechamento do estabelecimento e que denúncias podem ser feitas pelo 0800-7708156 ou nos postos Atende Bem. São Caetano tem apenas um local autorizado a comercializar os artefatos. A sanção para venda ilegal é o fechamento da loja. Denúncias podem ser feitas na ouvidoria. Em Ribeirão, a comercialização irregular de fogos resulta em recolhimento dos produtos e aplicação de multa. As outras cidades não responderam até o fechamento desta edição.




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