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Luta por moradia ocupa outra área em Sto.André

Invasão que começou há dois anos já abriga 300 famílias e espera cerca de 280 até a próxima semana

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
06/07/2018 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 Ocupação em terreno particular de 44 mil m² na Rua Alberto Zirlis, altura do número 615, na divisa dos bairros Lutécia e Suíça, em Santo André, começou a se formar há cerca de dois anos e hoje já abriga aproximadamente 300 famílias. Número que aumenta a cada dia e previsão de que até o fim da próxima semana mais 280 estejam alojadas na área, parte retirada anteontem de ocupação no bairro Bom Pastor, também em Santo André.

Para que o bairro possa se expandir e abrigar novos moradores é preciso desmatar a área, inclusive com queimadas, o que chamou a atenção de vizinhos e levou o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) e viaturas da GCM (Guarda Civil Municipal) e da Polícia Militar ao local, ontem, para vistoriar e mapear a dimensão do desmatamento causado com a construção irregular de barracos, feitos com madeirite e lona.

De acordo com o Semasa, a dimensão do desmatamento abrange área de aproximadamente 20 mil m². Durante a vistoria, foram detectadas cerca de 600 árvores suprimidas. Por ser terreno particular, o órgão só pode atuar na questão do dano ambiental. Neste caso, o proprietário será autuado pelo número de árvores suprimidas, além de ter que assinar termo de compromisso ambiental para reparação do prejuízo causado.

Segundo os invasores, o movimento independente de ocupação, ainda sem nome definido, surgiu da necessidade de cortar custos com aluguel e buscar área para construir moradia própria. 

Coordenadores da ocupação, que não quiseram se identificar, disseram que o proprietário do terreno devia IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) e doou o espaço. “A Prefeitura prometeu construir habitação, mas nada foi feito. Aí entramos em acordo com o dono para invadir metade do local. Depois ele sumiu, mas conversamos com engenheiro e advogado dele, que tomavam conta do terreno. Vamos invadir todo o espaço.”

Embora em dezembro a Prefeitura de Santo André tenha anunciado ter como meta diminuir o deficit habitacional – estimado em 32 mil imóveis – com entrega de 3.066 unidades até o fim de 2019, os ocupantes da área ressaltam que são assalariados que não têm oportunidade de conquistar casa própria.

Desempregada, Ana Hanna, 23 anos, foi para o terreno há dois dias. Ela tem dois filhos pequenos – Davi, 3, e a caçula Ana Luiza, com apenas 5 meses. Ana relata que paga R$ 450 de aluguel na Vila Suíça, mas agora não tem recursos. “Saí do serviço para cuidar dos meus filhos e não consigo mais pagar aluguel. Não quero ter de voltar para a casa dos meus pais.”


Vizinhos não aceitam novo ‘bairro’ e cobram Prefeitura

 

Embora relatem sentir dó de quem passa necessidades, sobretudo as famílias que têm crianças, a população que cerca o novo núcleo habitacional não aceita o nascimento do bairro e cobra medidas da Prefeitura.

Além de reclamarem de barulho fora de hora e da bagunça, moradores acreditam que seja manobra para conseguir moradia gratuita por meio da administração. A fumaça das queimadas e desmatamento também incomodam a população, uma vez que o cheiro forte invade as casas, principalmente pela manhã.

Alguns moradores do entorno prometem entrar com petição judicial para que a administração remova os invasores do local.

“As pessoas que estão construindo nesse terreno não aparentam ser de baixa renda. Todos aí têm carro de última linha e, aos fins de semana, fazem churrasco e enche de gente com carrão”, relatou vizinha do terreno, que não quis se identificar.

Outro morador do entorno disse que as festas nos fins de semana têm fartura de comida e bebida. Também relatou sobre boato de que “a ocupação está virando negócio”, e que estão, inclusive, vendendo lotes por R$ 9.000. Os ocupantes negam a prática, e afirmam que o espaço é para ajudar quem não tem condição financeira, e não virar comércio ilegal.

Os invasores dizem ainda que sofrem preconceito e são menosprezados pela população, por serem pobres. A principal queixa é que “falam que aqui tem ladrões”, e que o aumento de roubos e furtos na área seria devido à ocupação. Os invasores lamentam que os vizinhos chamem a polícia e denunciem sem provas, e apelam para que haja aproximação.

Já os moradores afirmam que casas estão sendo invadidas e que pequenos furtos estão sendo registrados, como de botijões de gás, ferramentas, roupas e mantimentos. Problema com droga também é ressaltado pelos vizinhos. As informações foram confirmadas por policiais que faziam ronda na área.

Soldado da 2ª Cia do 41º Batalhão de Santo André disse que, na maioria das vezes, o registro do roubo é de ladrões que estão a pé e não utilizam arma, tampouco veículos. “Entram nas casas, levam coisas supérfluas e saem correndo em direção ao terreno. Isso fez com que a vizinhança suspeitasse dos invasores, mas nada foi comprovado.”

Para um dos líderes da ocupação, se os vizinhos entrarem no terreno e buscassem entender a realidade em que vivem, poderiam ajudar, seja com material de construção ou apoio moral.




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