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Sem incentivo, bicicletário opera abaixo da capacidade

Maior espaço da América Latina, em Mauá, sofre com a falta de ciclovias e de políticas públicas

Bia Moço
Especial para o Diário
26/12/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Instalando em 2001 para atender a demanda de pessoas que deixavam suas bicicletas nas proximidades da Estação Mauá da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), o bicicletário da cidade se tornou o maior da América Latina, com 2.000 vagas. Embora ofereça estrutura diferenciada, com banheiros e oficina, por exemplo, o espaço é subutilizado – opera com 25% da sua capacidade. Isso porque, conforme usuários do modal, faltam políticas públicas que incentivem a prática, como ciclovias e a garantia de segurança durante o deslocamento.

O bicicletário de Mauá se propõe a ser mais do que apenas local usado por ciclistas para guardar as ‘magrelas’, já que oferece desde banheiros feminino e masculino, café, até serviços de empréstimo e conserto de bikes. Apoios jurídico, contábil e de assistência social também estão disponíveis. A administração do espaço fica por conta da Ascobike (Associação dos Condutores de Bicicleta de Mauá). Outro diferencial é a existência de vagas especiais para mulheres, idosos e crianças, onde a bicicleta é acomodada horizontalmente.

Conforme o fundador do equipamento e presidente da Ascobike, Adilson Alcântara, conhecido como Adilson Ferroviário por ser funcionário da CPTM há 35 anos, ciclistas podem optar entre pagar diária de R$ 3 ou se associar e arcar com mensalidade de R$ 25. O local funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano.

Adilson Ferroviário se recorda do início do projeto, quando atuava na estação ferroviária de Mauá. Naquela época, segundo ele, diversos trabalhadores deixavam suas bicicletas amarradas nas cercas da parada de trem, o que atrapalhava a operação da ferrovia. “Tentei, por várias vezes, junto à CPTM que fosse providenciado local para guardar as bicicletas, mas sempre se esquivavam, alegando que não tinha como garantir a segurança dos equipamentos. Se fossem roubadas, eu teria de pagar”, diz.

Em contrapartida, Adilson Ferroviário lembra que os usuários que deixavam as bikes nas proximidades da estação sofriam com a insegurança. “Na maioria das vezes o dono voltava e encontrava a bike sem peças, como bancos e rodas. Foi então que me reuni com alguns amigos e criamos a Ascobike, associação sem fins lucrativos”, ressalta. O grupo apresentou o projeto do bicicletário para a CPTM e, após assumir toda a responsabilidade sobre a segurança das bicicletas, a companhia ceder terreno para a construção do local.

A ideia mauaense prosperou e, a partir do sucesso, o exemplo foi adotado pelo governo estadual, que passou a construir bicicletários nas novas estações da CPTM e Metrô. Passados 16 anos, o cenário é bem diferente, lamenta a diretora financeira da Ascobike, Tania Regina da Silva. “Essa queda se dá porque o governo municipal anterior (gestão Donisete Braga, PT) acabou com os poucos quilômetros de ciclovias que havia construído. O governo atual (Atila Jacomussi, PSB) também não tem mostrado preocupação com os trabalhadores que usam bicicletas na cidade”, ressalta.

Questionada sobre os investimentos para incentivar a prática, a Prefeitura de Mauá informou que a ampliação da rede cicloviária do município integra planejamento da administração. Conforme a administração, o plano de mobilidade urbana da cidade prevê mais espaços destinados aos ciclistas, no entanto, os projetos ainda estão em fase de estudo. A execução das melhorias não tem prazo para sair do papel.

Usuários destacam benefícios da bike para saúde, bolso e meio ambiente

A bicicleta é um dos modais mais rápidos, econômicos e ecologicamente corretos que existem. Usuários ouvidos pela equipe do Diário destacam que a opção pela ‘magrela’ leva em conta as inúmeras vantagens em detrimento de desvantagem ainda existente: a insegurança.

Carlos Edgar Ferreira de Albuquerque, 19 anos, pedala cerca de dez minutos diariamente para chegar ao bicicletário de Mauá. Ele revela que a praticidade foi o que o levou a trocar o ônibus pela bike. “Trabalho no Centro e não compensa esperar condução. Está sempre lotado, demora para chegar, para no trânsito. Assim venho rápido e ainda economizo.”

Não foi diferente com Romário Maria, 21, que, em busca de economia, trocou o meio de transporte utilizado. Há um mês comprou sua bicicleta, já com o intuito de usar a Ascobike e guardar dinheiro. “Além da economia, ganhei tempo. Antes tinha de sair de casa às 4h15, hoje saio uma hora e meia mais tarde, e em dez

minutos chego no bicicletário.”

Maria acredita que sua opção colabora com o meio ambiente e com a saúde, uma vez que ao pedalar duas vezes por dia – ida e volta – pratica exercício físico. “O problema é que é muito perigoso andar de bicicleta aqui em Mauá. Tenho de passar pelo meio dos carros, me arriscar. Acho que isso impede as pessoas de procurarem um meio mais sustentável.”




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