Cultura & Lazer Titulo
Clara Nunes, vida de guerreira
Por
03/10/2007 | 07:09
Compartilhar notícia


Nas festas de Natal e ano-novo de 1982, meses antes de ser internada na Clínica São Vicente, na zona sul carioca, para uma cirurgia de retirada de varizes, a cantora Clara Nunes disse a seu marido, o compositor Paulo César Pinheiro: “Pois é, nunca mais vou ver isso aqui.” Ela se referia à terra onde nascera, Caetanópolis, em Minas Gerais, e que visitava todo fim de ano para rever os parentes. Intuitiva e mediúnica, Clara Nunes era o sincretismo em pessoa: católica, kardecista e umbandista.

Sentia as energias espirituais no ambiente onde estivesse, como pressentiu o fim próximo. Ela se valia das religiões para lidar com a fragilidade emocional, embora tivesse incrível capacidade de auto-superação.

Esse perfil multifacetado, às vezes contraditório, é descrito no recém-lançado livro Clara Nunes – Guerreira da Utopia (R$ 49,90, 320 págs., Ediouro), do jornalista Vagner Fernandes, que dedica dois capítulos à internação de Clara e à sua polêmica morte, em 2 de abril de 1983, 28 dias após a operação malsucedida.

Fernandes foi o primeiro a fazer em quase 25 anos uma entrevista longa com o angiologista Antonio Vieira de Mello, que operou Clara Nunes e que a pedido do biógrafo solicitou o desarquivamento da sindicância do Conselho Regional de Medicina do Rio sobre a morte da cantora.

“Surgiram várias especulações sobre a internação da Clara, desde aborto e inseminação artificial até surra dada pelo Paulo César Pinheiro”, diz Fernandes. “Ela morreu porque teve um choque anafilático, reação alérgica a uma substância que até hoje não se sabe qual é”, continua.

Não poderia ser inseminação artificial, porque Clara se submetera em 1979 a uma histerectomia (remoção do útero), após três abortos espontâneos.

Por nutrir obsessão pela maternidade, a impossibilidade de ser mãe causou a Clara Nunes fortes abalos emocionais, superados por uma postura mais ativa na defesa da música nacional e pela entrega absoluta à carreira artística, que chegou ao auge nos anos 70, quando se envolve com o samba e se torna a primeira cantora brasileira a vender mais de 100 mil cópias.

Quebrava-se o tabu segundo o qual mulheres não vendiam disco. “As pessoas da nossa geração desconhecem a história da Clara. A idéia que têm dela é a da mulher linda vestida de branco, com um repertório que remete à umbanda. Na biografia, trago à tona o lado humano de uma vida pontuada por dissabores. A admiração pela mulher que descobri atrás das roupas brancas se aprofundou”, diz o autor.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;