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Tribunal de Justiça Desportiva e CBF enfrentam crise velada
Por Do Diário do Grande ABC
10/10/1999 | 15:18
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As últimas decisoes do Tribunal de Justiça Desportiva (TJD) têm contrariado alguns clubes e, por extensao, a direçao da Confederaçao Brasileira de Futebol (CBF), em especial o vice-presidente Alfredo Nunes, que deixou claro durante a semana suas divergências com o órgao, embora afimasse que nao se recusaria a seguir as determinaçoes da Justiça esportiva. "Eu vou cumpri-las, apesar de pensar de outra forma", disse. A reaçao de Alfredo nao é isolada na CBF e uma crise velada começa a se desvendar na relaçao entre o tribunal e a entidade.

Outros dirigentes da CBF têm criticado algumas medidas do tribunal e nao gostaram da suspensao imposta pelo TJD ao presidente da Comissao de Arbitros da CBF, Armando Marques. Um deles, com bom trânsito no Departamento Jurídico, comentou que foi uma incoerência da Comissao Disciplinar do TJD punir o Vasco com a perda de mando de campo de apenas um jogo por causa dos incidentes na partida contra o Paraná, dia 19, em Sao Januário, e aplicar o dobro da pena ao Fluminense em decorrência da invasao de campo de tricolores logo na estréia do time na Série C, contra o Vila Nova-MG, em Nova Lima.

"A CBF nunca interferiu e nao vai interferir nas decisoes do tribunal", assegurou Alfredo. A Lei Pelé estabelece que o TJD seja composto por sete auditores: três indicados pela Ordem de Advogados do Brasil (OAB), outros três por associaçoes ou sindicatos de clubes, árbitros e jogadores e o último pela CBF. Em assembléia, eles têm autonomia para escolher o presidente do tribunal, cujo mandato é de quatro anos. Essa estrutura começou a funcionar em 1998. Na ocasiao, seu presidente acabou sendo o nome indicado pela direçao da CBF: Luis Zveiter. Ele deixou depois o cargo, por problemas particulares, e o passou ao irmao Sérgio Zveiter.

Um dos impasses entre o TJD e a CBF está na decisao do tribunal de que o clube punido com perda de mando de campo tenha de jogar em outro Estado. Para Alfredo, a pena deveria resultar na transferência da partida para outra cidade. "O CBDF (Código Brasileiro Disciplinar de Futebol) é claro, a pena tem de ser cumprida em outro Estado", observou Sérgio.

Por causa de um tumulto generalizado no jogo Atlético-MG x Vitória, em 15 de setembro, o clube mineiro foi punido, preventivamente, com a perda do mando de campo por duas partidas. O Departamento Técnico da CBF, na quinta-feira, distribuiu nota, assinada por Alfredo, assegurando que o Atlético-MG já cumprira a pena nos jogos com Santos e Flamengo, transferidos do Independência para o Mineirao. No mesmo dia, no entanto, Sérgio disse que o Atlético-MG teria de disputar duas partidas fora de Minas Gerais.

Alfredo mais uma vez nao gostou da decisao. "Nao vejo choque de interpretaçoes; eu nao tenho de interpretar nada", prosseguiu. Na sexta-feira, Sérgio "esclareceu" que a medida só valeria para os clubes que ainda nao tivessem cumprido a pena. Desta forma, Vasco e Atlético-MG ficaram isentos da puniçao.

Para acirrar a relaçao da CBF com o TJD, alguns clubes começam a pressionar a direçao da entidade, com críticas a Sérgio. O Vasco reclamou muito quando seu jogo com o Sao Paulo, em 29 de setembro, passou de Sao Januário para o Maracana. Mas seus dirigentes calaram diante da decisao da Comissao Disciplinar do TJD de ter impedido que o clube perdesse o ponto do empate com o Paraná, como determina o artigo 299 do CBDF. O Paraná recorreu da decisao e o caso vai ser julgado em instância final pelo TJD. O presidente do clube, Dilso Rossi, referiu-se ao tribunal como um "grande circo" e protestou à direçao da CBF. Recebeu o apoio de Coritiba e Atlético-PR.

O Atlético-MG, por intermédio de seu Departamento Jurídico, considerou uma arbitrariedade do TJD a negativa de um efeito suspensivo solicitado pelo clube no tribunal para garantir a presença do jogador Galván na rodada do fim de semana. Ele sofreu suspensao preventiva de 30 dias por causa do envolvimento nos distúrbios da partida contra o Vitória, e depois recebeu suspensao de quatro jogos no julgamento da Comissao Disciplinar.

Essa situaçao pode, a curto prazo, criar um problema político para o presidente Ricardo Teixeira, reeleito na CBF em julho com o voto das federaçoes e dos clubes da Primeira Divisao.




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