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Coleção tenta atrair mais leitores brasileiros
Nelson Albuquerque
Do Diário do Grande ABC
25/01/2003 | 17:10
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Na época em que não havia cinema e muito menos televisão, a descrição tinha um valor inestimável. “O índio saltou sobre o arco, e abateu-a daí a alguns passos no meio da carreira; depois, apanhando o corpo do animal que ainda palpitava, arrancou a flecha, e veio deixar cair nos dentes da onça as gotas do sangue quente e fumegante” (trecho de O Guarani, 1857, de José de Alencar).

Esse é um dos anzóis utilizados pelos organizadores da coleção Novas Seletas (Nova Fronteira) para fisgar jovens leitores para os nomes clássicos da literatura brasileira. Três títulos, de perfil paradidático, estão disponíveis para estudantes ou leitores iniciantes: João Cabral de Melo Neto (128 págs.), Machado de Assis (184 págs.) e José de Alencar (144 págs.), ao preço de R$ 16 cada. A série é coordenada pela escritora Laura Sandroni.

Autores desse porte andam, hoje em dia, longe das salas de aula. Infelizmente, pois suas obras são capazes de surpreender diferentes gerações e até a mesma pessoa em suas releituras, por isso são clássicos, como lembra o escritor Gustavo Bernardo, responsável pela organização do livro sobre José de Alencar (1829-1877).

Bernardo fez um bom trabalho. Em sua apresentação (Este José de Alencar) e ensaio (A Estátua Viva), escreve um texto agradável e informativo. O garimpo para apresentar Alencar procurou abranger as várias atuações do escritor. Traz trechos de romance, peça de teatro e crônica, além da visão realista do primeiro romancista do país. “Estamos falando ‘apenas’ do Patriarca da Literatura Brasileira”.

Como em todos os títulos da coleção, conta com uma cronologia sobre a vida do escritor, uma bibliografia e uma seção dedicada à reflexão chamada Depois da Leitura. A diagramação descarta a nota de rodapé, colocando-a entremeada ao texto.

O livro sobre Machado de Assis (1839-1908), organizado pelo mestre em literatura brasileira Luiz Antonio Aguiar, é formado por crônicas, contos, poemas e trechos de romances. Para estimular os (possíveis) futuros leitores, Aguiar afirma que “existem diversos Machados”. E a mensagem é “quem sabe você vai ser daqueles que encontram um jeito todo seu de ler Machado”.

A seleção de romances optou pelas cinco últimas obras do autor: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908), as quais Aguiar considera “as mais criativas e polêmicas”. Machado foi um dos fundadores e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.

O título sobre João Cabral de Melo Neto (1920-1999) tem poesia organizada por Luiz Raul Machado e ensaio assinado por Carlito Azevedo. A proposta é mostrar um poeta que “desconfia do que vem fácil” e que “prefere que o poema seja uma conquista árdua do trabalho rigoroso da atenção, do raciocínio”.

Promete começar dos mais simples e chegar aos mais complexos. “O trem de ferro/ passa no campo/ entre telégrafos./ Sem poder fugir/ sem poder voar/ sem poder sonhar/ sem poder ser telégrafo”, diz um trecho de A Moça e o Trem.




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