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A irreverente Caruaru
Por Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
27/05/2010 | 07:00
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No recém-lançado documentário "Depois de Ontem, Antes de Amanhã", Josenilda, Lucivânia e Daniel mostram como suas vidas se transformam durante as festas de São João da cidade de Araçoiaba, no interior pernambucano. E não é mesmo preciso ser forrozeiro de carteirinha para se deixar contagiar pelo ritmo da zabumba, do triângulo e da sanfona. Ainda mais se o destino for a cobiçada Caruaru, também em Pernambuco, cuja programação começa amanhã com shows de Forró Quentão, Targino Gondim, Elba Ramalho e Território Nordestino.

A maratona de atrações, que segue até 29 de junho, contará ainda com os repertórios de Alceu Valença (dia 5), Dominguinhos (6), Gilberto Gil (12), Chiclete com Banana (19), Zé Ramalho (20), Calcinha Preta (28) e do chamado Maior Baião do Mundo, que reunirá em um mesmo palco os astros da MPB Zélia Duncan, Lenine, Paulinho Moska, Luiza Possi, Ortinho e Júnior Barreto.

Quase todos os dias, a cidade promete bater um recorde. E haja ingredientes para fabricar os maiores chocolate quente, pipoca, pamonha, bolo de milho, pé-de-moleque, cuscuz, canjica, arroz doce e quentão do mundo.

E se perde para Campina Grande em público, Caruaru também ganha no quesito irreverência. As quadrilhas mais parecem uma versão fora de época dos bem-humorados carnavais de Olinda. A gaydrilha (dia 19, às 16h), por exemplo, atrai cerca de 15 mil pessoas às ruas para conferir o desfile de homens trajados com roupas femininas. As mulheres partem para a revanche na Sapadrilha (dia 23, às 16h). De inocente só mesmo a Brinkdrilha (dia 12, às 14h), destinada às crianças.

Mas o cortejo mais tradicional fica por conta dos bacamarteiros. Vestidos com uniforme azul, alparcatas e chapéu de couro, eles percorrem a cidade empunhando seus bacamartes - antiga arma de fogo, de cano curto e largo - e dão tiros de pólvora ao som de xaxados executados por uma orquestra de pífanos. Um costume que garante traços únicos aos festejos de Pernambuco.

Outra tradição é a Noite da Cidade Ardente, quando toda a população acende uma fogueira na frente de sua casa, na véspera do Dia de São João. Assim como na sergipana Estância, a cidade, a propósito, parece ter fixação especial pelo fogo: além de pular a fogueira, os fogueteiros promovem um imenso espetáculo pirotécnico pelas ruas e fazem questão de não economizar nos fogos de artifício.

O quartel general dos festejos se concentra no Parque de Eventos Luiz Lua Gonzaga, onde a Vila do Forró imita um típico vilarejo do interior, com casinhas coloridas, igreja, delegacia, teatro de mamulengos e mais de 200 barracas animadas por quadrilhas, violeiros e repentistas.

Bahia se curva a São João

Enquanto Campina Grande e Caruaru disputam o título de maior São João do planeta, Salvador luta para mostrar que nem só de Carnaval e axé vive sua gente. Neste ano, o governo da Bahia investiu R$ 11 milhões nos festejos juninos de mais de 400 municípios. Em especial, nas cidades consideradas portões de entrada da Bahia, como Salvador, Ilhéus, Porto Seguro, Bom Jesus da Lapa e Lençóis, na região da Chapada Diamantina.

A ideia é recorrer a Santo Antônio, São João e São Pedro para promover o milagre da multiplicação de turistas em um dos meses de menor ocupação hoteleira.

E os investimentos dos últimos anos já começam a surtir efeito. Em 2008, uma grande operadora de turismo comercializou 19 mil pacotes para o São João da Bahia, contra 12 mil do ano anterior. Ano passado, a ocupação hoteleira, que normalmente fica entre 15% e 50%, atingiu pico de 70% em um dos fins de semana do evento.

Na capital, Salvador, o arrasta-pé começa no dia 11, em palco montado na Praça Castro Alves. Até o dia 26, grandes forrozeiros passarão pelo local, como Dominguinhos, Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Trio Nordestino e o conterrâneo Adelmário Coelho.

No interior, que recebe cerca de 400 mil visitantes de Salvador no período de 22 a 26 de junho, a festa revela suas mais autênticas raízes com os sabores da roça aguçando os sentidos e a criatividade do sertanejo.

O resultado é muita diversão e saldo positivo aos cofres públicos municipais. Só as cidades de Senhor do Bonfim, Cruz das Almas e Amargosa faturam juntas R$ 20 milhões por conta de suas tradicionais comemorações juninas, sempre fartas em comidas, bandeirinhas coloridas, simpatias, brincadeiras e gente que leva a sério o compromisso de se vestir a caráter para pular a fogueira e arrastar o pé até que as chinelas de couro arrebentem.




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