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Burocracia 'afasta' peixes da Represa Billings
Samir Siviero
Do Diário do Grande ABC
20/09/2003 | 19:39
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  Uma área da Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae) destinada à criação de peixes aguarda um acordo entre a empresa e a Subprefeitura do Riacho Grande há quase dois anos. Abandonado, o terreno com três tanques de 600 m² cada e 12 de 20 m² cada está inativo. No local onde as carpas e tilápias se reproduziam, o mato avança. A área fica à beira da estrada Velha, na entrada do Riacho Grande, em São Bernardo.

O subprefeito Donizeti Ribeiro de Macedo afirma que cansou de tanto tentar contato com a Emae e há um ano não recebe mais informações sobre o processo. Já a Emae informou que o processo está parado por falta de um responsável técnico, que teria de ser disponibilizado por quem assumisse a área, localizada em manancial.

Segundo Macedo, os tanques não são utilizados há mais de 20 anos, e com isso a represa sofre com a falta de peixes. “Na década de 70 o tanque funcionava a pleno vapor, mas a partir da década de 80 começou a ser desativado. Desde 1999, resolvemos reativar esses tanques e procuramos a Emae. Mas agora voltamos à estaca zero.”

As negociações entre a subprefeitura e a Emae chegaram a evoluir, segundo Macedo. “Alguns empresários da região haviam se comprometido a nos ajudar, a população faria um mutirão e a Prefeitura de São Bernardo se comprometeu a recuperar a parte elétrica, hidráulica e estrutural dos tanques. Mas depois que procuramos o Instituto da Pesca de São Paulo, pensando que eles fossem nos ajudar, eles apenas colocaram empecilhos. As conversas congelaram e não conseguimos mais retorno da Emae.”

Nos tanques seriam colocados filhotes de peixes que, depois de atingirem tamanho ideal, são jogados na represa. Na negociação com a Emae, a subprefeitura pegaria a área emprestada e ficaria responsável pela administração do local. A expectativa era que os criadouros começassem a produzir em janeiro do ano passado. A assessoria de imprensa da Emae informou que os interessados não conseguiram um agente técnico responsável pela manutenção e, por essa razão, o processo parou.

Quem mais sofre com a falta de peixes na represa são os pescadores. Eles contam que, atualmente, para a pesca render, têm de pegar seus barcos e ir para o meio da represa. Pescar nas margens da represa já não surte os mesmos efeitos do passado. “Antigamente, a gente vinha na beira da represa e pegava umas tilápias de 500 g. Hoje em dia, se pegar de 200 g já é muito”, disse o aposentado Manoel Basílio, 58 anos.

Na área próxima ao Riacho Grande, além do assoreamento da represa, que diminuiu os locais propícios para a pesca, o abandono do tanque de criação da Emae também contribui para a escassez dos peixes nas margens do reservatório. “Eu me lembro que quando o tanque funcionava era mais fácil pegar tilápias perto do Riacho Grande. Agora, a gente tem de pegar barco e ir para o meio da represa ou então ficar aqui na beira mesmo, só para passar o tempo”, disse o aposentado José Maria Nunes, 68 anos.

Entre os locais que sofreram com a falta de peixes está a Colônia dos Pescadores, na divisa entre Santo André e São Bernardo. No local onde moravam pessoas que viviam da pesca, restam apenas algumas casas e um quiosque, administrado pelo aposentado Abelardo de Sá Vieira Filho, 49 anos. “Meu sogro e meu tio viveram da pesca aqui. Minha família também chegou a viver com o que a gente ganhava com um bar e vendendo iscas para os pescadores. Agora, com a represa assoreada e a falta de peixes nas margens, ficou difícil.”




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