Cultura & Lazer Titulo Literatura
Fliporto tenta traçar paralelos entre culturas
09/11/2009 | 07:07
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O português José Luis Peixoto foi um dos destaques da 5ª Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas, a Fliporto, que terminou ontem. Engrossou o coro de 42 vozes de nove países que discutiu e enobreceu a escrita ibero-americana durante quatro dias. Um fórum de discussões que buscou aproximar culturas semelhantes na origem, mas distantes na prática. Peixoto lançou, durante a feira, Uma Casa na Escuridão (Record, 288 págs., R$ 42,90), seu segundo romance, publicado em 2002. "Trata-se de uma obra que ainda hoje difere dos meus demais romances, graças ao uso da violência e das situações desumanas", contou ele, lembrando que alguns leitores confessaram ter interrompido a leitura na metade, por causa das descrições cruas e brutas.

"Fui influenciado pelo atentado terrorista que aconteceu no ano anterior, em 2001, quando caíram as duas torres gêmeas, em Nova York", conta o escritor, então surpreso com a falta de limites da maldade humana. "Também me inspirei nos trágicos acontecimentos de Serra Leoa, onde as pessoas tinham seus membros facilmente decepados." A imagem, forte, percorre a parte final do livro, povoada por seres violados em seu cotidiano. "Tive uma intenção social ao escrever, pois há uma noção da guerra que percorre a trama e mostra como as pessoas se anulam quando há algum conflito."

A carga era tão pesada que Peixoto escreveu simultaneamente um livro de poesia, A Casa, A Escuridão. Quando conversou com o público, na sexta, José Luis Peixoto destacou que a linguagem é um eficiente canal de comunicação entre interiores humanos. Brincou também que a grafia de algumas palavras deveriam ser mudadas, para facilitar a comunicação.

A brincadeira com a forma de se visualizar as palavras torna-se mais séria na obra do músico, cantor e compositor Arnaldo Antunes, que fez palestra no sábado, além de um pocket show à noite. Seu primeiro livro de poesia, por exemplo, OU E, é um álbum de poemas visuais. "A poesia mais evidente é aquela que mostra a sua construção", disse ele, que vê na caligrafia uma espécie de entonação gráfica. Daí sua admiração pelo trabalho dos poetas concretos, especialmente de Décio Pignatari e dos irmãos Haroldo e Augusto de Campos. "Ali está matéria a ser trabalhada manualmente."

Arnaldo tratou também de uma velha questão, a que coloca em xeque a letra das canções: seria poesia? Para ele, a chave está na adequação do texto da linha melódica da música. "É por isso que temos, às vezes, textos maravilhosos em canções fracas e vice-versa." O ex-líder dos Titãs destacou também os novos caminhos surgidos com a evolução dos meios digitais - agora, segundo ele, é possível criar da forma tradicional, ou seja, colocando no papel (ou, no caso, no computador) as ideias que vão surgindo, mas buscando uma integração com outros sentidos humanos. Assim, uma poesia é tanto visual como também auditiva. É tal integração que move o trabalho de novos poetas, como Ramon Mello, que conversou com o público na sexta, substituindo Heloisa Buarque de Hollanda ausente por conta de uma pneumonia. Em seu primeiro livro, Vinis Mofados (Língua Geral), Mello apresenta a palavra que, tanto dita como silenciada, mantém forte vínculo com a cantada. Ele, como vários outros, vem buscando sentido para os novos meios de expressão oferecidos pela tecnologia, dando-lhes alma e sentido humano.




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