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Cavaleiros de Granada
Por Carlos Brickmann
28/10/2020 | 00:12
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A reforma da Previdência definhou, as outras estão paradas, privatização é ainda um sonho, só o custeio da máquina do Estado consome praticamente todo o dinheiro que é possível arrecadar, estourar o teto dos gastos públicos é o sonho de toda a manada de chifrudos fura-tetos, o governo está dividido, a Covid já matou 160 mil brasileiros e o que se discute no País? Se o SUS deve incluir na distribuição de vacinas a Coronavac. Quais os problemas que o presidente Bolsonaro vê na Coronavac? Na verdade, nenhum, já que ainda se testa a vacina e até agora não houve problemas. Mas a vacina tem, aos olhos de Bolsonaro, dois grandes defeitos: o laboratório é chinês e trabalha em cooperação com o Butantan, subordinado ao governador Doria.

Trump mandou sabotar os chineses, Bolsonaro obedece; Bolsonaro manda sabotar Doria, seus subordinados obedecem. E daí? Daí, é perder tempo: mesmo se todas as vacinas em teste forem aprovadas, não serão suficientes. Iremos usar as chinesas, a inglesa, as norte-americanas, ou não haverá o suficiente. Se a chinesa funcionar, será usada. Se não funcionar, não poderá ser usada. É simples.

Isso não lembra o famoso poema de Cervantes, citado no título? Riscando os cavalos! Tinindo as esporas! Través das coxilhas! Saí de meus pagos em louca arrancada! — Para quê? — Para nada!

Na verdade, este poema não é de Cervantes, é de Ascenso Ferreira. Mas se até a discussão está toda errada, por que o poema tinha de ser o certo?

Todos o kerem
O presidente prometeu um ministro “terrivelmente evangélico” no STF, depois prometeu alguém que tomasse Tubaína com ele. Acertou: Kassio Nunes talvez nunca tenha tomado Tubaína, mas vai tomar. E, se precisar, vai misturar com diet Dolly e licor de ovos. Vejamos as características de sua excelência: liberou aquele famoso cardápio de lagostas e vinhos premiados, o que o torna credor de alguma simpatia no Supremo; não concorda com o cumprimento da pena após decisão em segunda instância, o que lhe traz a simpatia do PT, de boa parte dos parlamentares, daquele senador que gosta tanto de dinheiro que mantém com ele relações profundas; sua mulher já foi funcionária de senadores do PT; diz ter simpatias pelo chavismo. Talvez até possa cumprir a ordem de Bolsonaro, de comprar arroz na Venezuela. Só é criticado pelos lavajatistas e pela ala mais radical do bolsonarismo – mas os filhos do presidente iriam brigar com quem se opõe à prisão em segunda instância?

Bolsonaro acertou em cheio: Kassio é um retrato do Brasil de hoje.

O rigor implacável da Lei
Tão logo acharam aquele rolo de cédulas no cofrinho do senador, o País se alvoroçou: o ministro Barroso decidiu afastá-lo do mandato, mesmo sabendo só o esconderijo do dinheiro, sem investigar sua origem; falou-se em reunir o comitê de ética do Senado. Na prática, o afastamento do mandato pelo STF ficou para lá, a comissão de ética não se moveu, o senador pediu licença por 121 dias. Este colunista até achou que sua excelência iria mesmo precisar de algum tempo de recuperação para sentar-se de novo na cadeira, mas a licença era só para dar posse ao suplente, por coincidência seu filho. Graças ao papai, tem bom salário, nomeações à vontade – coisa fina.

Família acima de tudo
Não é só o senador Chicofrinho Rodrigues que mistura cargo com família. O suplente de Alcolumbre, presidente do Senado, é o irmão José Samuel. O senador Ciro Nogueira tem a mãe, Eliane, na suplência. O senador Eduardo Braga, a mulher, Sandra. O Senado aprovou emenda constitucional que proíbe parentes na suplência. Mas sabe como é, né? O rigor implacável da lei não é para os amigos. A emenda está parada há uns sete anos na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Para que mexer no que agrada a todos?

Fato fake
O ministro Ricardo Salles e o general Luiz Ramos fizeram as pazes. Mas não é para levar a sério. Um cairá fora. O general tem apoio do Centrão, mas o ministro Salles é apoiado pelo olavismo e pelos filhos do presidente.

Problema 1 – Goiânia
O ex-governador Maguito Vilela, MDB, candidato a prefeito de Goiânia, com boas chances, tem quadro sério de coronavírus, com pulmões atingidos. Foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Problema 2 – Jayme Lerner
Ex-prefeito de Curitiba, com administração internacionalmente elogiada, ex-governador cujo trabalho se transformou em lenda, Jayme Lerner está no hospital, recuperando-se de cirurgia de apendicite realizada no domingo. A cirurgia foi bem-sucedida, mas Lerner, 83 anos, só descansa quando está internado. Atualmente, dedica-se à campanha de seu amigo e assessor Gerson Guelmann, que colaborou em suas principais obras, e que pela primeira vez disputa uma eleição. A propósito, dá vontade de ser curitibano para votar em Guelmann, por ele mesmo e em homenagem a Jayme Lerner. 




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