Política Titulo Entrevista da Semana
‘Região consegue reinventar seu perfil econômico’, diz vice-governador Rodrigo Garcia

Em entrevista exclusiva ao Diário, Garcia diz que Estado será indutor de crescimento da economia pós-pandemia

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
24/05/2021 | 07:00
Compartilhar notícia
André Henriques/DGABC


Vice-governador de São Paulo e secretário paulista de Governo, Rodrigo Garcia (PSDB) avalia que o Grande ABC tem condições de se reinventar economicamente diante da mudança do perfil nas últimas décadas, com redução da industrialização e fuga do setor automotivo. Em visita à sede do Diário, Garcia garante que o Estado será indutor de um crescimento da economia pós-pandemia, mas cita que o governo federal tem papel central nessa retomada, desde que coloque à frente reformas estruturantes. O novo tucano fala sobre a chegada ao PSDB e acerca do papel de figuras do tucanato do Grande ABC no processo eleitoral do ano que vem.

O que levou o Estado a escolher o BRT?
Desde o primeiro dia de governo tínhamos como prioridade a melhoria da mobilidade urbana na Grande São Paulo. O grande desafio era retomar obras paradas, principalmente as que tinham sido iniciadas no governo anterior e que por várias razões estavam paralisadas. Cito aqui a Linha 6 do Metrô, a Linha 17, a Linha 15. Todas essas obras estão retomadas hoje. O desafio era criar projeto de mobilidade que fosse factível e exequível, de curto prazo. Foi isso que trabalhamos junto com o prefeito Paulo Serra (PSDB, de Santo André, presidente do Consórcio Intermunicipal) e os demais da região no sentido de entender quais as condições do contrato da Linha 18, os valores atualizados e, de maneira objetiva, relatar que havia falta de financiamentos interno e externo, falta de condição imediata de executar aquilo. Não poderíamos perder tempo em atender o Grande ABC. Surgiram estudos para que pudéssemos ter alternativa que desse às pessoas não só conforto como agilidade de ter sistema que pudesse atender ao Grande ABC. Fizemos esses estudos rapidamente com a nossa equipe de mobilidade e surgiu o BRT-ABC como alternativa mais rápida e viável de atender à região. Trabalhamos com duas hipóteses na ocasião, de concorrência ou prorrogação de contrato. Vimos outra oportunidade de renovar o Corredor ABD na construção deste contrato. Conseguimos alcançar dois objetivos: melhorar o que tinha a boa avaliação, o corredor da Metra, e concluir a obra do BRT-ABC, que esperamos em até 24 meses estar entregue à população do Grande ABC. BRT traz toda modernidade de transporte, conforto e previsibilidade, que é o que as pessoas precisam para melhorar a qualidade de vida.

Especialistas em mobilidade urbana e moradores temem que, pelo trajeto escolhido, o BRT-ABC vai enfrentar problemas com as enchentes do Ribeirão dos Couros e Córrego dos Meninos, além de entraves semafóricos. Como essas questões serão sanadas?
Estamos cuidando da drenagem urbana. Provavelmente em junho o Piscinão Jaboticabal (estará em obras), demanda antiga aqui na região e que, de alguma maneira, resolve parte dos problemas. A drenagem é tudo interligada. Você tem um problema aqui e vê esse problema no Rio Paraná, no Rio Tietê. É um sistema só. O Jaboticabal vai dar alento grande em solução de drenagem no Grande ABC e vamos investir nessas obras. O BRT vai trazer mais conforto do que a projetada Linha 18. Nós temos hoje uma experiência de monotrilho no Estado e Brasil, a Linha 15, que, apesar de toda expertise do Metrô, registra várias dificuldades. Tivemos no ano passado um problema gravíssimo com os equipamentos da Bombardier (fabricante do monotrilho), que fez com que a linha parasse um período. Não é hábito do brasileiro parar o equipamento lá em cima, até colocar o trem correto na estação, até desembarcar as pessoas. É desafio. Não temos experiência de monotrilho em grandes cidades urbanas, a primeira é no Brasil. Foi projeto lá de trás, avaliado pelo governo anterior. Na nossa gestão, vamos seguir com o Metrô tradicional, sem fazer mais linhas de monotrilho. Do ponto de vista do conforto do passageiro e previsibilidade, o sistema semafórico será organizado com faixas exclusivas, com paradas e embarques dentro de estação, com catracas fora do ônibus. É um sistema muito moderno. A população vai ter impressão muito positiva do BRT-ABC da forma como está projetado.

Outro gargalo de mobilidade urbana da região é a Avenida dos Estados. O Estado tem em curso algum projeto para solução definitiva do problema?
Primeiramente quero cumprimentar as prefeituras, em especial a de Santo André, que fez investimentos na Avenida dos Estados, nesta fase 1. O Estado, em um segundo momento, foi parceiro. Nesta segunda ação, juntamente com o prefeito Paulo Serra, que vai iniciar as obras nos próximos dias. E tem a fase 3, para completar a parte de Santo André, que o Estado também vai ajudar. Vamos ajudar Mauá também. Em São Caetano a avenida está boa, passei por lá esses dias. O Estado vai se colocar à disposição para colaborar. Entendemos que é importante avenida de ligação do Grande ABC com a Capital.

O processo de vacinação tem sofrido solavancos e muitos falam em uma terceira onda da pandemia no País. O senhor acredita que isso vá acontecer?
São Paulo mais uma vez ajuda a salvar o Brasil na vacinação. Se não fosse a determinação do governador Doria e do Instituto Butantan, o Brasil estava muitos passos atrás na imunização. O Brasil chegou atrasado. A gente vê os Estados Unidos vacinando grande parte, concluindo o objetivo. O Brasil, engatinhando. Temos só 20% da população com a primeira dose aplicada. Por isso, o risco da terceira onda da pandemia. Enquanto o governo brasileiro não entender que China é parceiro estratégico, vamos sofrer como estamos. Lamento muito a postura do governo federal em relação a isso. Erraram no calendário, na estratégica, causando muitas mortes evitáveis na pandemia. Acho pequeno o risco de terceira onda, mas existe. Estamos em um patamar muito alto, com 10 mil pessoas internadas em leito de UTI. No pico da primeira onda tínhamos 6.000 em média. A rede de saúde mais do que triplicou nesses meses de pandemia. Mas a população precisa continuar consciente do uso de máscara, do distanciamento social, para que evitemos a terceira onda. O atraso na vacinação deixa a gente em alerta.

O perfil econômico do Grande ABC passa por profunda transformação nas últimas décadas. Empresas de peso, como a Ford, têm saído da região. Como o Estado observa essa mudança?
Seja no Grande ABC, seja no mundo, a economia se transforma e isso acelerou com a pandemia. No passado a região teve sustentação econômica pela indústria automobilística, que naturalmente trouxe recursos para as cidades, renda per capita paras pessoas e qualificação de mão de obra. Tudo tem de ser reaproveitado em novo modelo pelo qual estamos passando. Não tenho dúvida de que o Grande ABC tem capacidade de se reinventar, sendo polo de atração ao Estado.

Como o Estado pode ser indutor desta mudança?
Dialogando. Com a região, sociedade civil organizada e fazendo planejamento de desenvolvimento econômico nos próximos anos. Seja pelo papel universitário, que é bem consolidado aqui, seja pelos institutos de pesquisas. O Grande ABC seguirá sendo polo de atração de novos investimentos. Não aqueles que estávamos acostumados, mas outros para manter a renda per capita alta.

O que projetar na economia do Estado com o pós-pandemia de Covid-19?
Temos desafios grandes. Brasil entrou na pandemia com muitas dificuldades. Se a gente lembrar, em 2019, o País cresceu menos de 1%. Foi uma década perdida e um início de nova década com a pandemia. Atrapalhou o desenvolvimento brasileiro. O governo federal não fez as reformas que deveria fazer. Espero uma retomada econômica pós-pandemia, o que é natural. Mas sem reformas estruturantes ela não será do tamanho necessário para diminuir o desemprego no Brasil. Hoje estamos na pior combinação econômica que existe: o desemprego alto com inflação alta, que tem a pior métrica histórica desde quando o Plano Real foi instalado no Brasil. É muito grave. É estagnação econômica. O Brasil precisa ter estratégias claras de retomada econômica. Aqui em São Paulo, ao que cabe o governo, estamos fazendo. O governador João Doria vai anunciar nos próximos dias um programa de retomada com investimento direto do Estado. A reforma fiscal que fizemos permite que a gente possa investir mais de R$ 20 bilhões. Também temos programa de ativação do microempreendedor individual por meio do banco do povo. Mas o governo federal tem papel central na economia, cabe a ele as principais medidas de ativação econômica. Por mais que São Paulo faça junto das prefeituras, sem mudanças estruturais em Brasília a economia brasileira continuará em dificuldade mesmo depois da pandemia. A pandemia deixa uma crise econômica no mundo e se o Brasil não souber rapidamente fazer uma retomada vamos continuar sofrendo. O preço será alto.

O senhor recentemente se filiou ao PSDB com discurso de aceitar as regras do tucanato. Acredita ter tempo de construir um projeto em 2022 ao governo do Estado de consenso, sem realização de prévias?
Fiquei muito honrado com o convite, que chamei de convocação do governador Doria, do saudoso prefeito Bruno Covas e de tantos outros amigos. Me sinto efetivamente em casa no PSDB. Fiquei durante 27 anos no DEM, mas sempre parceiro do PSDB no Estado. Sempre convivendo no mesmo território. Continuo no mesmo lado, agora na social-democracia. Que vai ser fundamental para o desenvolvimento do Brasil nos próximos anos. Não fiz condição para me filiar. Não pedi absolutamente nada a não ser a boa acolhida no partido. O partido vai discutir e avaliar, no momento certo, as condições colocadas no Estado. (Haverá também a) Decisão do governador João Doria de concorrer à Presidência da República e, com esses fatos concretos, (o PSDB) tomará a decisão. PSDB é partido social-democrata, que tem democracia interna, que é partido parlamentarista, coisas que comungo. Por isso me filiei.

Figuras do PSDB do Grande ABC têm seus nomes cotados para participação ativa do processo eleitoral estadual no ano que vem. Qual peso eles terão?
O Grande ABC tem papel muito importante. Tem a figura do Paulo Serra, a do Orlando Morando (PSDB, prefeito de São Bernardo), são prefeitos das maiores cidades do Grande ABC e são meus comandantes dentro do partido. Sou cristão novo, entrei agora, vou olhar os tucanos de mais alta plumagem. Eles terão papel decisivo. Essa trajetória, seja do Paulinho, que conheço desde a época de vereador, ou a do Orlando, que conheço desde a época de deputado, e de outras figuras centrais do partido, com história, vai ser importante para qualquer decisão.

RAIO X
Nome: Rodrigo Garcia
Estado civil: casado e pai de três filhos
Idade: 47 anos
Local de nascimento: Tanabi, Interior de São Paulo
Formação: direito
Hobby: pilotar motos e ir para fazenda
Local predileto: minha casa ou fazenda, acompanhado da minha família e um bom churrasco
Livro que recomenda: Livre Para Escolher, de Milton e Rose Friedman, ou qualquer um de Yuval Harari
Artista que marcou sua vida: difícil escolher. Mas não me canso de ver quadros da Tarsila do Amaral no Palácio dos Bandeirantes
Profissão: político e gestor público
Onde trabalha: Estado de São Paulo




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;