Setecidades Titulo São Bernardo
A outra face do Rudge Ramos
Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
06/11/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Rudge Ramos, São Bernardo, um bairro de contrastes. Pujante e tradicional, área próxima ao agito da Universidade Anhanguera nem parece fazer parte do mesmo âmbito. Paralelas a Avenida Dr. Rudge Ramos, algumas vias como as ruas São Francisco, Carneiro Leão e Santa Madalena caracterizam-se pelo isolamento e abandono por parte do poder público.

As inundações acompanham quem ali vive toda vez que chove e o lamaçal deixa rastros quando a chuva cessa, como mostrou o Diário, na edição de sexta-feira. As águas vêm do Ribeirão dos Couros e do Ribeirão dos Meninos. O mato farto envolve as casas e comércios que resistem.

“Aqui era uma vila, mas foi desapropriada por causa das enchentes. Só os imóveis que estão de frente para a avenida (Doutor Rudge Ramos) ficaram”, conta a proprietária de um bar na Rua São Francisco, Maria Aparecida Profirio, 58 anos, residente no local há 38. “Se ganhasse de real o que tem de enchente, estava milionária”, brinca ela, que já perdeu móveis e mercadorias de seu estabelecimento por diversas vezes. Desde a tempestade de quinta-feira, ela mantêm caixas de bebida em cima do balcão, com medo de que chova novamente. “Tudo que molha nessa água tem que jogar fora.”

O matagal e a sujeira integram a frustração. “Se não varrer a rua, ninguém vem. Só sabem cobrar imposto”, fala Maria. “Por ser próximo do Centro do Rudge Ramos (aqui) é um pedaço esquecido”, lamenta.

Próximo dali, na Rua Carneiro Leão, a residência do casal Rosa Borges de Oliveira, 68, e Epifânio Mendes de Oliveira, 80, destaca-se solitária em meio à um brejo. Até a garagem da casa transformou-se em um.

Os dois nasceram no estado do Piauí, onde casaram e formaram família. Há 35 anos estão nessa parte do Rudge Ramos. “Fomos embora de lá porque estávamos passando fome. Aqui conseguimos emprego”, relata o homem.

A escadaria que dá acesso ao imóvel é o que o salva das enchentes. “A água já chegou a subir até o oitavo degrau”, lembra Oliveira. Mas isso não isenta o casal de problemas. O matagal que está por todos os lados tem ratos, insetos e até cobra. A lama pós chuva impede a locomoção. “Quem está dentro de casa tem que ficar dentro e quem está fora, tem que continuar fora. Não dá para passar”, comenta Rosa. Na quinta-feira, munida com uma enxada, ela tentou abrir passagem para ajudar o filho à chegar em casa após um dia de trabalho.

“Aqui é abandonado. A gente é pobre, mas é gente”, salienta Rosa. Sem um olhar do governo municipal, o jeito encontrado para conviver com a situação é adaptar-se à ela. “Já me acostumei. A gente sofre, mas aqui consegui o pão de cada dia, com a graça de Deus”, diz a mulher.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas diariamente, Maria, Rosa, Epifânio e outras pessoas que construíram e constroem suas histórias nesse pedaço à parte do bairro Rudge Ramos, não querem deixar o local. Lá eles têm tranquilidade, o cantinho deles, o ganha pão, só falta atenção.

Procurada pelo Diário para informar se há previsão de alguma melhoria para a área, a Prefeitura de São Bernardo não retornou até o fechamento desta edição.




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