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Primeiro ano do estatuto foi de divulgação
Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
01/01/2005 | 19:42
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Segundo especialistas que lidam com a questão no Grande ABC, o grande mérito do Estatuto do Idoso até agora foi o de mostrar que o desafio vai além dos bailes, aulas de ginástica e jogos de bocha. "O primeiro ano é mais de divulgação dos direitos. Já esperávamos isso. A partir do momento que os idosos passaram a exigir o que lhes garante a lei, a falta de estrutura das cidades para atendê-los foi escancarada", avalia a assistente social Wanda Regina Marques. Ela coordena há oito anos o Centro de Referência do Idoso de Diadema, que atende diariamente 600 pessoas, entre atividades de lazer, assessoria jurídica, encaminhamentos médicos e cursos de geração de renda.

Falta de médicos especializados na rede pública é um dos principais indicativos dessa realidade. No Grande ABC, o déficit é gritante. Nas sete cidades, só trabalham 24 geriatras. A região tem 190 mil pessoas com mais de 60 anos, de acordo com o censo de 2000 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

"Está na hora de o mito do país jovem cair por terra. Estamos envelhecendo. Os dados do próprio governo mostram isso. É preciso encarar a velhice de frente, com mais dignidade e iniciativa, sem rodeios", diz a assistente social de Diadema. Os brasileiros envelhecem cada vez mais rápido, revela a pesquisa do IBGE, porque a expectativa de vida aumentou e a taxa de natalidade, diminuiu. Hoje, o país tem 5% de seus habitantes com mais de 65 anos. Daqui a 15 anos, a porcentagem deve chegar aos 18%. E a agilidade dos governos em ampliar políticas específicas não caminha na mesma velocidade.

Em São Bernardo, que também conta com um Centro de Referência do Idoso, suprir a carência de atendimento médico especializado é meta da Prefeitura. "Precisamos evoluir no atendimento geriátrico. O idoso já tem atendimento preferencial na rede, mas sabemos que isso não basta", disse o secretário da Sedesc (Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania), Hermes Tomazoni.

O estatuto determina que a internação em asilos ou casas de repouso sejam evitadas ao máximo. Mas há casos em que a convivência pacífica com a família se tornou inviável, e o idoso não tem condições físicas ou financeiras para se manter noutro lugar.

Em Diadema não há fila de espera nos asilos conveniados. "Mas, se não investirmos em políticas de inclusão familiar e na abertura de novas vagas, podemos sofrer com o problema", afirma a coordenadora do CRI da cidade, Regina Marques. Em São Bernardo, os casos de pessoas mais carentes são priorizados. As 80 vagas disponíveis em asilos não são suficientes, admite Tomazoni, da Sedesc. "Em 2005, pretendemos ampliar a Casa-Dia, onde o idoso fica durante o dia e volta para família à tarde. Hoje, atendemos 50 e o objetivo é chegar a 300."

Há mais de um ano, a Prefeitura de Santo André anunciou a criação de uma república para idosos, uma casa onde vivem pessoas com mais de 65 anos em condições de custear as próprias necessidades. A iniciativa não passa de uma boa idéia que não saiu do papel. "Enfrentamos problemas jurídicos. Já temos a casa, a Prefeitura vai cedê-la. Vamos começar com seis idosos. Mas ainda não sabemos quando exatamente", explica a socióloga Marisa Rodrigues, diretora do Departamento dos Direitos da Cidadania de Santo André.




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