Interditada até a conclusão de laudo pericial pelo Instituto de Criminalística da Polícia Civil, a creche Francisco Diassis Gomes Teixeira, no Parque Esmeralda, em São Bernardo, passou por nova perícia ontem. Há seis dias, Reynan de Moraes Nascimento Cruz, 1 ano e 2 meses, morreu após ser atingido na cabeça por reboco que se desprendeu de viga de concreto.

A obra, segundo a Prefeitura, foi executada pela H. Guedes Engenharia e iniciada em 2009. Em fevereiro deste ano, foi entregue aos moradores da região do Alvarenga, uma das mais populosas e carentes do município - no mesmo terreno funciona Escola Municipal de Educação Básica, que oferece Ensino Fundamental e Educação Infantil. Antes das duas unidades escolares, o local abrigava galpão de uma empresa, de acordo com moradores.

O entra e sai de carros foi intenso por toda a manhã de ontem no estacionamento da creche, a partir das 10h. Primeiramente chegou veículo da Consladel. Depois, chegaram representantes da H.Guedes e da administração municipal. Também técnicos do Instituto Falcão Bauer da Qualidade integraram a comissão.

Os técnicos entraram na creche por volta das 11h45. Não houve permissão para que o Diário acompanhasse a perícia. Do lado de fora da escola, a equipe tentou falar com os representantes da H.Guedes e da Falcão Bauer, mas sem sucesso. Nenhuma pergunta foi respondida.

Por dentro da escola, os técnicos chegaram ao local do acidente. Alguns subiram pela escada e vistoriaram o telhado, divisa com a parte do reboco que se desprendeu do concreto pintado na cor laranja. Outros fotografavam e faziam a medição, conforme o Diário registrou. Enquanto isso, funcionárias aproveitavam para retirar cobertores, mamadeiras e pertences das crianças de dentro da creche interditada.

Procurada à tarde, a H.Gudes, mais uma vez, limitou-se a dizer que "somente irá se manifestar após os laudos periciais". A assessoria de comunicação da Falcão Bauer informou apenas que assina um termo de confidencialidade com todos os clientes. "Não temos informações que podem ser transmitidas à imprensa."

A Prefeitura de São Bernardo informou que "foi aberta sindicância administrativa" para acompanhar o caso. E que "o Instituto Falcão Bauer foi contratado" pelo governo para apuração dos fatos.

CREA

Técnicos do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo foram ao local, exatamente no dia seguinte ao acidente. A diretoria da escola foi notificada pelo Crea-SP para apresentar a documentação da empresa contratada, bem como as anotações de responsabilidade técnica para o serviço contratado. O órgão aguarda os laudos periciais da Polícia Civil e da Defesa Civil para "verificar se houve algum tipo de imperícia por parte da empresa responsável pela obra".

Direção faz reunião com pais hoje para tirar dúvidas

A direção da creche do Parque Esmeralda, em São Bernardo, realiza hoje pela manhã a primeira reunião com os pais, após o acidente que vitimou uma das 160 crianças matriculadas na unidade municipal.

"Fiquei triste. É claro que abala qualquer pessoa, mas não vejo como fatalidade, como disseram. Mas sim uma irresponsabilidade de quem executou a obra", afirmou Antonio Marcos Ferreira de Araújo, 28 anos, pai de criança de 3 anos que estuda na escola.

Muitas mães foram ontem levar seus filhos para a creche, mas tiveram de retornar para casa. Foi o caso de Cintia da Silva, moradora no Parque das Garças, mãe de criança de 3 anos. "Fiquei arrasada com a morte do menino", afirmou. Ela trabalha em lanchonete, mas disse que deixaria o filho com a sogra.

No portão, um recado avisava sobre a reunião de hoje com os pais, além de outro que informava não haver aula na creche no dia 12 (ontem). A dona de casa Rosângela Maria de Alcântara, mãe de menino de 2 anos e 5 meses, disse ter ficado "apavorada". As aulas na rede vão até o dia 23 - a Prefeitura deve readequar alguns alunos.