Setecidades Titulo Acordo Ortográfico
'Não vamos começar a falar chinês'
Por Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
06/10/2008 | 07:05
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Não há motivo para desespero nem preocupação, garante o superintendente-executivo do Museu da Língua Portuguesa, Antônio Carlos Sartini. Segundo o especialista, ninguém vai começar a falar chinês por causa do novo acordo ortográfico. "Já passamos por uma série de reformas. Olha, me lembro que minha avó, que morreu há três anos com 95, ainda escrevia farmácia com ‘ph', mas isso nunca foi motivo de desentendimento entre nós. Todo mundo entendia quando ela deixava um bilhete para a gente", disse.

A correção das palavras inclusas nas novas regras, porém, terá de ser feita com conhecimento, sem pressa, dentro do prazo estabelecido, até 2012. Em entrevista ao Diário, Sartini revela que já providencia todas as alterações necessárias para adaptar o museu ao acordo. Dentro de um ano, os visitantes já devem notar a diferença. "O idioma é um organismo vivo", afirmou.

DIÁRIO - Como o Museu da Língua Portuguesa, principal fonte de conhecimento sobre a linguagem no Brasil hoje, será afetado com as novas regras ortográficas?

ANTÔNIO CARLOS SARTINI - Com certeza, o museu fará a adaptação de toda a sua exposição permanente, como os textos de apresentação aos visitantes. Já estamos contratando profissionais competentes para verificar todas as palavras e textos dentro do museu.

DIÁRIO - Qual será o prazo para este processo no museu ser finalizado?

SARTINI - Depois que terminarmos o levantamento, teremos de montar um projeto para levantar os custos. Isso, é claro, não é feito da noite para o dia, há uma quantidade muito grande de palavras. Mas acredito que dentro de um ano o museu estará todo adaptado à nova ortografia. Além disso, o museu pretende também organizar ainda neste semestre e manter no próximo, cursos práticos para nossos usuários e professores. A idéia é mostrar exatamente aonde vão ocorrer as alterações e quais são os motivos. Por fim, estamos negociando uma cartilha para que as pessoas possam consultar, se surgir alguma dúvida.

DIÁRIO - Toda essa programação planejada pelo museu significa que o acordo vai ‘pegar'? Você acha que as normas serão utilizadas?

SARTINI - Já passamos por uma série de reformas. Não podemos imaginar, porém, que uma lei, um acordo possa vingar da noite para o dia. Não é porque alguém resolveu que o trema, por exemplo, será extinto que todo mundo deixará de escrever imediatamente palavras sem o trema. Os mais antigos vão demorar mais para assimilar a reforma. Os que estão sendo alfabetizados nem notarão a diferença. Isso não deve causar desespero nem preocupação.

DIÁRIO - A adaptação é possível para os mais velhos?

SARTINI - Olha, me lembro que minha avó, que morreu há três anos com 95, ainda escrevia farmácia com ‘ph', mas isso nunca foi motivo de desentendimento entre ela e os netos. Todo mundo entendia quando ela deixava um bilhete dizendo para a gente ir à farmácia comprar alguma coisa. O acordo, como se diz, ‘vai pegar' porque as pessoas da minha geração, por exemplo - tenho 48 anos - vão ter informações para se adaptarem. Não vamos começar a falar chinês por causa disso. Isso faz parte do idioma, que é um organismo vivo que sofre mudanças constantes.

DIÁRIO - A internet é um desses elementos de mudança, com termos estrangeiros adaptados ao português. Isso atrapalha a língua?

SARTINI - Não. Essas mudanças, trazidas pela juventude ou por organismos oficiais, só provam que a língua é um instrumento dinâmico. O processo é absolutamente normal e as pessoas hoje têm muita capacidade de atualização, pela própria internet.

DIÁRIO - Essas mudanças serão retratadas pelo museu?

SARTINI - Seria interessante montarmos uma ala com todas as reformas ortográficas sofridas pelo nosso idioma no Brasil. Esta tem uma coisa muito importante que é a volta, para nosso alfabeto, do ‘k', ‘y' e ‘w'. É uma sugestão.




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