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Grande ABC tem 230 novos carros em circulação por dia

O aumento da frota de veículos tem como diferencial uma participação cada vez maior das motocicletas

William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
17/07/2008 | 07:02
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O Grande ABC viu a entrada em circulação de 230 novos veículos por dia, em média, nos últimos 12 meses, quando o percentual de crescimento da região foi de 7,36% e o total de novos veículos foi de 84.108. O aumento da frota tem com o diferencial uma participação cada vez maior das motocicletas, que tiveram acréscimo de 23.832 novas unidades em um ano.

Em toda a Região Metropolitana de São Paulo, cerca de 1.000 veículos novos entram em circulação por dia, exatamente a mesma quantidade daqueles que deixam as ruas no período de um ano - não há levantamento específico sobre os retirados na região. A diferença gritante entre a frota que chega às ruas e a quantidade de veículos que vai embora, se reflete nos constantes congestionamentos que afligem os motoristas e tiram o sono dos responsáveis pelo tráfego.

As sete cidades do Grande ABC contam hoje com 1,22 milhão de veículos. Há três anos, eram 1,02 milhão. Um crescimento de cerca de 20%, com aproximadamente 200 mil automóveis, motocicletas, ônibus e caminhões a mais.

O município com ampliação mais ostensiva é também aquele com menor população. Rio Grande da Serra viu a pequena frota ter aumento de quase 39% em três anos, praticamente o dobro da média regional. Em comparação com 2005, as vias estreitas da cidade receberam outros 2.300 veículos.

Na outra ponta da tabela, São Caetano permanece como o mais motorizado do Grande ABC, com quase um veículo por habitante. Em compensação, a frota aumentou num ritmo bem menor do que os vizinhos - 11,80%, nos últimos três anos.

A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) aponta uma série de facilidades como propulsora das vendas. Economia estável, aumento do trabalho formal, oferta de crédito na praça, prazos elásticos e baixa inadimplência têm cooperado com quem pretende comprar um veículo. O crescimento acentuado na região se verifica justamente nas cidades com menor renda média, as principais beneficiárias neste processo.

Os especialistas são unânimes em dizer que a solução para absorver o aumento da frota passa por questões diversas à construção de novas vias de tráfego. Alguns afirmam que pistas livres seriam até um convite a quem ainda não tem um carro ou motocicleta, gerando mais congestionamentos e poluição ambiental. O investimento em transporte público de qualidade e uso racional do espaço público estão entre as propostas apresentadas.

A integração de medidas para o trânsito é indicada por especialistas para a região. Entretanto, ações que envolvam as sete prefeituras do Grande ABC são raras. Uma das opções citadas pelas administrações em outras ocasiões para minimizar o caos no trânsito regional, o rodízio de veículos, sequer saiu do campo das idéias.

As prefeituras também têm participação nos lucros das empresas, com o recolhimento de impostos. Porém, ficam com todo o ônus, como manutenção de ruas e atendimento às vítimas do trânsito.

A mesma indústria automobilística que gera empregos e renda no Grande ABC espera repetir nos próximos 15 anos a produção alcançada no último meio século. Serão mais 40 milhões de veículos, que deverão ampliar de forma significativa a participação do carro no uso do espaço público.

É preciso reflexão antes de se colaborar com esse crescimento, na opinião de Cristina Baddini, especialista em trânsito. "A indústria criou o conceito equivocado de que se precisa ter o carro do ano e quem arca com isso é o poder público."

Região planeja soluções para mobilidade no futuro

As administrações da região já imaginam soluções para o futuro da mobilidade, e elas não passam necessariamente por investimento em obras viárias. A importância do Rodoanel e construção de avenidas e viadutos é destacada por todos, mas a mudança na mentalidade dos condutores é ponto-chave.

O consultor da Secretaria de Transportes e Vias Públicas de São Bernardo, Laerte Francisco Pinto, aponta para o compartilhamento do espaço entre pedestres e veículos como saída plausível. "No Brasil, o comportamento atual é segregacionista. O condutor passa por cima de quem está a pé, se for o caso."

O secretário de Obras e Serviços de Santo André, Ricardo Kondratovic, diz que a Prefeitura tem trabalhado em questões pontuais, como desvio de tráfego para áreas periféricas. Porém, não descarta outra soluções. "Temos projetos de mobilidade que incluem até mesmo a construção de ciclovias", explica.

Já o diretor de Trânsito de Diadema, José Eduardo Rosário Santos, estima que a cidade ainda consiga absorver por algum tempo o aumento no volume de tráfego.

Motos alavancam crescimento da frota

A participação das motos foi fundamental para o acréscimo de veículos nos últimos anos. Em 2005, elas representavam 9,33% da frota no Grande ABC. A fatia cresceu em um terço desde então, atingindo 12,7% de tudo o que circula pelas ruas da região.

A multiplicação das motocicletas ocorreu em velocidade três vezes maior do que a dos carros. As mais de 60 mil motos que entraram em circulação nos últimos 36 meses representam um crescimento de 63,13%, deixando bem para trás o aumento de automóveis - 19,88%.

Entre as sete cidades, Diadema lidera o ranking com 21,25% da frota alimentada por ciclomotores, bem superior à média regional. Em Rio Grande Serra, foi estrondoso o aumento na última década: eram apenas 79 unidades em 1997; hoje são 1.356.

A preferência por se locomover em duas rodas deve causar impacto significativo nas políticas públicas de mobilidade.

A especialista Cristina Baddini critica a opção levantando as questões relativas ao meio ambiente e aos custos provocados por acidentes. "Não é um caminho interessante para as cidades", explica.

Diretor-executivo da Abraciclo (Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares), Moacir Paes defende o seu quinhão. "Seguimos um programa de controle de emissões baseado em padrões europeus. Quanto aos acidentes, temos deficiências na formação de condutores de forma geral, não é algo exclusivamente relacionado aos motociclistas", explica .




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