Setecidades Titulo Abastecimento
Desperdício de água é
de 144 milhões de litros

Volume escoa pelo ralo diariamente por causa de mau uso,
muito além do consumo ideal de água preconizado pela ONU

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
05/12/2011 | 07:00
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Muito além do consumo ideal de água preconizado pela Organização das Nações Unidas - média de 110 litros por dia por habitante. Esta é a situação da região quando se fala em desperdício. Por dia, jogam-se pelos ralos 144,4 milhões de litros, sem contar a quantidade necessária para a sobrevivência. O volume seria suficiente para abastecer todas as residências de São Bernardo e Diadema, caso se fizesse o uso adequado.

No Grande ABC, são consumidos atualmente cerca de 425,2 milhões de litros de água por dia - média de 170 litros por habitante -, quando o ideal, conforme a ONU, seriam 280,6 milhões. São Caetano é campeã do desperdício. Cada morador usa, em média, 366 litros por dia, quando o ideal seria até 110. Em Mauá, o consumo médio é de 128 litros. Já na cidade de São Bernardo, cada morador usa 175 litros por dia. Em Santo André o consumo médio per capita diário está na casa dos 146 litros e, em Diadema, 155. Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra têm juntos consumo médio diário de 157 litros.

O mau uso da água pode ser observado em diversas atividades do dia a dia, como, por exemplo, lavar a calçada ou carro com mangueira e escovar os dentes com a torneira aberta, entre outros. As consequências quase sempre esbarram na falta do recurso, principalmente em locais com relevo acidentado, que geralmente necessitam de bombas para conduzir a água.

Com a chegada do verão, a tendência é que o consumo aumente em até 40%, segundo a Sabesp, responsável pelo abastecimento de água em São Bernardo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. O número preocupa, tendo em vista a quantidade de água disponível na Região Metropolitana: 201 mil litros por habitante por ano, número abaixo do considerado adequado pela ONU, que é de 2,5 milhões.

O Semasa, de Santo André, registra consumo até 8% maior no período mais quente do ano. Em Mauá, a Sama diz ser notório o aumento do volume de água usado, no entanto, não soube precisar o quanto. Já a Saned, de Diadema, informou que não há aumento expressivo na média de consumo neste período, enquanto em São Caetano, o DAE diz que não há problemas devido ao alto número de moradores que viaja nesta época.

O desperdício é uma questão comportamental, avalia o professor do curso de Gestão Ambiental da Metodista e consultor do Ministério do Meio Ambiente, Carlos Henrique Andrade de Oliveira. Segundo ele, o brasileiro ainda acredita que, por viver em um país tropical, com abundância de água em relação a outras partes do mundo, o recurso natural é infinito. "Há também aquela filosofia equivocada de que se estou pagando posso fazer uso da água como bem entendo", destaca.

Índice de perda do líquido chega a 35% no Grande ABC

Somado ao desperdício, há a taxa de perda de água, volume do recurso que se perde devido a vazamentos na rede hidráulica ou que não é faturado pelas companhias de distribuição. Na região, essa taxa é de 35%, o que indica que a cada 100 litros de água tratada, 35 não chegam ao consumidor final ou não são cobrados pelas empresas que prestam o serviço. O índice é bem superior ao de países desenvolvidos. No Japão, apenas 3% da água é perdida, enquanto no Reino Unido a porcentagem é de 5%.

São Bernardo é o município com maior taxa de perda, com cerca de 40%. Já Santo André e São Caetano apresentam as melhores médias: 26,5% e 24,88%, respectivamente. Em Diadema, o volume perdido é de 39,28%, enquanto em Mauá é de 38%.

Campanhas são arma para evitar volta do racionamento

Apesar do medo da população em relação ao conhecido racionamento de água, campanhas de conscientização quanto ao uso adequado do recurso natural não têm surtido efeito prático. Poucos são aqueles que adotaram em seu cotidiano as velhas dicas do tipo feche o registro do chuveiro enquanto se ensaboa ou use a vassoura para varrer a calçada ao invés da mangueira. No entanto, há necessidade de mudança no comportamento, pois a situação é preocupante.

O professor do curso de Gestão Ambiental da Metodista e consultor do Ministério do Meio Ambiente Carlos Henrique Andrade de Oliveira destaca que a Região Metropolitana tem pouca disponibilidade de água por estar no Planalto, onde nascem os rios e há menor volume de água. Além disso, é bastante populosa e tem alto nível de desperdício e taxa de perda, somados à ineficácia dos programas de recuperação dos mananciais. Por esses motivos, o especialista não descarta a necessidade de racionamento. "Se houver estiagem mais intensa, e as mudanças do clima estão levando a isso, teremos sérios problemas com o abastecimento de água", alerta.

A Sabesp, responsável pelo fornecimento em São Bernardo, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, mantém desde 1996 o Programa de Uso Racional de Água. Por meio de ação educativa, o projeto presta consultoria em escolas públicas para troca de equipamentos e identificação de vazamentos, além de realizar palestras.

Implementado em 1.714 escolas estaduais, houve queda no registro médio de consumo de 14% neste período. Em Santo André, o Semasa disse investir em campanhas de educação ambiental, intensificadas no período do calor, enquanto o DAE de São Caetano realiza ações permanentes em escolas e com a população sobre o uso racional da água no dia a dia.

A Saned lançou, em 2010, o Programa Educacional de Sensibilização, Redução e Perdas e Valorização da Água e em Mauá são realizadas anualmente as campanhas Verão e Dia Mundial da Água com materiais informativos, atividades lúdicas e recreativas.

TORNEIRAS SECAS

A região enfrentou períodos em que foi necessário racionamento de água. Em 2003, por exemplo, os níveis das represas chegaram a índices críticos e foi necessário o rodízio. Já em 2005, Santo André e Diadema passaram por problema semelhante quando a Sabesp reduziu o volume de água enviada aos dois municípios.




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