Política Titulo Segurança Pública
Protógenes sugere política do Rio para São Paulo
Cynthia Tavares
Do Diário do Grande ABC
17/12/2012 | 07:00
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Deputado federal e delegado da Polícia, Protógenes Queiroz (PCdoB) afirmou que a crise na Segurança Pública de São Paulo será resolvida somente com ações de cidadania nas comunidades e citou como exemplo a política adotada pelo Rio de Janeiro. "Ao construir uma ação de cidadania, o Estado se fez presente e se fez valer da população voltar a acreditar nas ações estaduais", declarou Protógenes. O deputado disse que, hoje, a população sente medo das forças policiais. A onda de violência entre setembro e novembro causou cerca de 140 mortes em todo território paulista. "A população tem que ver na figura do agente de Segurança o protetor e não o ameaçador da vida", considerou. Apesar de sempre ter trabalhado investigando o crime organizado, o delegado da PF admitiu que o Estado precisa buscar ajuda da União. Protógenes ganhou notoriedade ao comandar a Operação Satiagraha, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas e o ex-prefeito da Capital Celso Pitta.

 

DIÁRIO -Por que o senhor defende as ações de Segurança Pública tomadas no Rio de Janeiro e afirma que São Paulo deveria seguir o exemplo?

PROTÓGENES QUEIROZ - O Rio de Janeiro nos trouxe uma realidade e um resultado. A realidade que nos colocou foi de enfrentamento. Assim como o Estado de São Paulo se fazer respeitar ou da comunidade respeitar a intervenção no combate ao crime. A política (de Segurança) foi desastrosa em outros Estados da federação. Coloco o Rio como exemplo porque houve interação do governo estadual com o federal. Precisamos modificar o tipo de tratamento no combate à violência, drogas e organizações criminosas. O resultado foi de mudar essa política. A mudança trouxe resultado positivo. Ao construir uma ação de cidadania, o estado carioca se fez presente e se fez valer da população voltar a acreditar nas ações do Estado.

 

DIÁRIO - Hoje há um descrédito dos paulistas na política de Segurança?[/23.TXT_PERG]

PROTÓGENES - O carro de Polícia toma tiro na favela de São Paulo. Quando você vai com veículo de órgão público a população também não acredita que chegamos ali para ajudar.

 

DIÁRIO - A população sente medo da Polícia?

PROTÓGENES - Esta é a reação natural do confronto. A população tem que ver na figura do agente de segurança o protetor e não o ameaçador da vida. Essa política tem que ser refeita com ações de cidadania.

 

DIÁRIO -Quais atividades podem ser feitas?

PROTÓGENES - Identificando quem não tem certidão de nascimento, conceder carteira de identidade, carteira de trabalho. Dar treinamento para que as pessoas procurem o primeiro emprego. Construir mais escolas. Tenho percorrido as favelas do Estado e tenho constatado ausência dessas coisas. Nas penitenciárias, você tem o mesmo cenário.

 

DIÁRIO -Qual penitenciária o senhor visitou?

PROTÓGENES - Guarulhos. São 5.000 presos: 3.000 no (regime) fechado e 2.000 no (regime) semiaberto. 90% deles são analfabetos ou semianalfabetos. A faixa etária da maioria é entre 18 e 25 anos. Qual a opção que essas pessoas têm? O tráfico de drogas e a pequena criminalidade como homicídios, roubos e sequestro relâmpago são o resultado de sobrevivência. Na favela as pessoas moram em condições suburbanas, sem ter cama para dormir, sem comida, não sabe ler e não sabe escrever. De repente dão uma arma para essa pessoa, a única coisa que ele precisa aprender é apertar o gatilho.

 

DIÁRIO -A vida do indivíduo se torna o reflexo daquele meio?

PROTÓGENES - É uma questão de sobrevivência. Todos sabem que após a adolescência o tempo de vida é pequeno.Tem que escolher um tempo de vida e sobreviver dentro dessas comunidades etíopes. Pois elas são a verdadeira Etiópia. Como disse Caetano: ‘O Haiti é aqui'. Quem fala o contrário é mentiroso ou tem medo de ir lá.

 

DIÁRIO -São Paulo está sendo omisso na questão da Segurança?

PROTÓGENES - Totalmente omisso. O que me causa uma certa intranquilidade e preocupação. Os governantes se pronunciam de forma politiqueira. Dizem que está tudo sob controle e que o Estado está cumprindo seu papel. Não está. É só ir lá (na favela) e ver que não está. Nem as forças de segurança pública entendem que são proteção do cidadão. O secretário vai à Heliópolis porque houve uma chacina, prende meia dúzia, traz todo mundo no xadrez e fala que resolveu o problema. Se você vai para lá leva ação de cidadania primeiro e programas sociais. Há uma política na contramão da realidade que estamos vivendo. Tanto que fiz junto com a Polícia Civil uma manifestação no dia 15 de novembro na praça de pedágio da (Rodovia dos) Imigrantes. Aproveitamos o engarrafamento, imprimimos um documento com dicas de segurança: ao chegar em casa, não coloque o carro na garagem imediatamente, não use acessórios que possam despertar a cobiça. E foi muito bem recebido esse documento. Agora é uma contradição a Polícia Civil dando dicas de como a população se proteger, sendo que ela deveria proteger.

 

DIÁRIO -O senhor tem procurado interlocução com São Paulo?

PROTÓGENES - Estive com o governador (Geraldo Alckmin, PSDB) três vezes. Coloquei a disposição minha experiência, que não é tão grande, pois fiquei 15 anos na Polícia Federal combatendo a macrocriminalidade, que são mais complexos do que apresentado na crise da segurança pública de São Paulo. Todas as vezes o governador se mostrou receptivo, mas sempre ficou no plano passivo, da promessa.

 

DIÁRIO -Falta integração entre Estado e União?

PROTÓGENES - Falta agir, levar política de ação.

 

DIÁRIO - As comunidades tentam resolver o problema da criminalidade com ONGs (Organizações Não-Governamental). O incentivo dado pelos governos para o setor é suficiente?

PROTÓGENES - O que vejo de positivo é chegar na comunidade e vê-la resolver determinados problemas com auto-organização das ações. Chegar no Capão Redondo, periferia ativa e ver recursos de empresas internacionais investidos ali para melhoria. Ao perguntar quem é o gestor do empreendimento, vemos que são eles mesmos. O Estado não podia ser o mentor da ação social? Agora vai lá na periferia ativa e fala que o deputado vai trazer recurso. Eles negam, porque não acreditam mais no Estado. Para eles, os políticos só fazem visitas com intuito de usá-los.

 




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