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Mulher morre à espera de
socorro em PS de Mauá

Parentes acusam os funcionários de negligência e registram
caso no 3º DP; Prefeitura não se manifestou sobre o assunto

Maíra Sanches
Do Diário do Grande ABC
02/10/2012 | 07:00
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A dona de casa Abigail Alves da Silva, 53 anos, morreu na tarde de domingo enquanto esperava por atendimento no Pronto-Socorro São João, em Mauá, localizado na Avenida Barão de Mauá. A informação foi repassada pela família, que acusa os funcionários da unidade de negligência. A Prefeitura não se manifestou sobre o assunto.

Segundo parentes, a moradora do Jardim Itapeva deu entrada no posto de Saúde às 15h e morreu uma hora e meia depois nos braços do irmão, enquanto aguardava o chamado do médico. A usuária apresentava sintomas como dores no peito, na cabeça, tontura e tinha pressão arterial baixa. A vítima era saudável e apenas tomava remédio para bronquite.

Ao chegar na unidade, acompanhada de três parentes, ela teve de aguardar para fazer o cadastro. "Foram 20 minutos até fazer a ficha, mais meia hora para passar pela triagem e depois que mediram a pressão ela só aguentou mais 20 minutos até cair ao chão e agonizar. Depois, tentaram reanimar, mas é óbvio que não daria mais tempo", explicou a sobrinha da vítima, Alana de Prado, 25.

Parentes informaram que apenas um médico fazia atendimento de urgência na tarde de domingo. A sala de espera estava lotada. Todos acusam a equipe médica, de enfermagem e até funcionários da recepção de terem omitido socorro. "Foi uma sequência de erros", disse outra sobrinha, Gisele da Silva, 26. A vítima deixa duas filhas e marido.

Depois que a morte foi confirmada pelo médico, identificado como Wilson de Souza Coelho, parentes se exaltaram. Todos passaram mal, a mãe da vítima ajoelhou-se e a pressão arterial do marido disparou. "Já morreu, já foi. Agora vão parar o PS por causa disso?", teria dito uma das funcionárias, em sinal de deboche à situação.

Emocionado, o irmão Rubens Alves da Silva, 47, lembrou que Abigail havia reclamado do tempo de espera e não suportava as dores. "Ela só disse que não aguentava mais e caiu."

Quem estava por perto tentou ajudar. A dona de casa Daniela Moreira, 34, levou a filha para atendimento no mesmo dia e testemunhou a cena. "Ela esperou muito tempo. De repente, ficou branca. Fui procurar as enfermeiras e médicos e não encontrei ninguém."

No atestado de óbito da vítima a causa da morte consta como infarto agudo do miocárdio. Domingo à noite, o irmão registrou boletim de ocorrência no 3º DP (Vila São João) por omissão de socorro.

REPERCUSSÃO

Ontem à tarde,  equipe do Diário esteve na unidade para conversar com funcionários envolvidos no caso, mas a coordenação  não se pronunciou. A equipe que trabalhou no domingo não estava presente.

Segundo pacientes que aguardavam na sala de espera, a unidade tinha apenas um médico, que estaria com conjuntivite. Houve princípio de confusão quando os usuários souberam da presença da reportagem do Diário no local. Pelo menos seis pessoas formalizaram queixas sobre a frequente falta de médicos e a longa espera por atendimento.

Atendimento médico imediato aumentaria chance de sobrevida

O cardiologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC, José Luis Aviz, afirma que cerca de 60% dos casos de infartos acontecem sem que a pessoa apresente sintomas. Era o caso da vítima Abigail Alves da Silva, 53, moradora do Jardim Itapeva, em Mauá.

Segundo especialista, o socorro imediato em casos semelhantes pode significar a sobrevida do paciente. "Se ela esperou todo esse tempo, teria uma chance de sobreviver se houvesse socorro imediato. A triagem é simples.

Se há suspeita de dor no coração, é preciso fazer o direcionamento para exame de eletrocardiograma. Quanto mais tempo perde-se na espera, maior risco de morte e de ocorrer problemas futuros", explica.

A arritmia cardíaca pode acontecer sem que o paciente perceba. Por isso, há necessidade de passar pelo exame para medir as frequências. A abordagem recomendada é estabilização imediata do paciente até transferência para hospital que faça exames mais minuciosos e diagnóstico final.

O incidente de domingo à tarde aconteceu a 500 metros das obras da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Jardim Maringá. O equipamento está há 18 meses com as obras paralisadas. A dona de casa será enterrada hoje, às 8h, no Cemitério Santa Lídia, em Mauá.




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