A cultura da soja no Brasil prepara-se
para dar mais um salto, conquistando sua última fronteira: a
Amazônia. Melhores condiçoes de logística para o escoamento do
grao estao estimulando a instalaçao da cultura na regiao. O
maior impulso à cultura foi dado pela hidrovia Porto Velho (RO)-
Itacoatiara (AM). Criada para escoar a produçao de soja no
Noroeste do Mato Grosso, a hidrovia viabilizou o trânsito de
graos pelo rio Amazonas até o Atlântico.
Outro trunfo para a produçao de soja está na construçao da
rodovia Cuiabá-Santarém. Concluída, a estrada se converterá em
um grande corredor de exportaçao de soja do centro do Mato
Grosso, beneficiando também regioes do Pará.
O potencial da regiao nao escapou aos olhos do Grupo Maggi,
maior produtor de soja no Brasil. O grupo está financiando
pesadamente pesquisas de cultivares adequadas para diferentes
regioes da Amazônia. As pesquisas vêm sendo realizadas com a
Fundaçao Mato Grosso e Embrapa, em sete pólos da regiao.
Santarém é uma das regioes com grande potencial, na
avaliaçao de Luiz Antônio Pagot, diretor da Ermasa, a Companhia
de Navegaçao do Grupo Maggi. A cidade possui um porto com calado
que possibilita a atracaçao de grandes navios. Do ponto de vista
agronômico, a terra também pode abrigar a soja, com algumas
correçoes.
A Ermasa está começando a construir um terminal graneleiro
em Santarém. O terminal terá capacidade para 75 mil toneladas e
já deve operar no ano 2.000. Outras grandes empresas da soja já
enviaram cartas de compromisso para a Companhia de Docas do
Pará: Cargill, ADM, Carolina, Erjack e Olvepar.
O potencial agronômico da regiao se traduz, por exemplo, no
teor de fósforo no solo. "Há cerca de 29 partes por milhao
(PPM) nas terras da regiao e a soja já se torna produtiva com 7
PPM", afirma o agrônomo Eloi Elias do Prado, um dos
coordenadores do projeto da soja da Embrapa/Fundaçao MT.
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O alto teor do nutriente permite que um programa adequado de
adubaçao economize em fertilizantes sem exaurir a terra. O solo
de Santarém é ácido, precisando de correçao de calcáreo. No
entanto, a regiao possui minas de calcáreo e o Fundo de
Desenvolvimento Rural do Pará vai financiar uma fábrica do
produto no município.
Além de abrigar uma área de testes para 28 cultivares, a
cidade colhe a primeira safra comercial este ano. Sao 850
hectares, plantados pelo produtor Francisco Quincó, que contou
com o auxílio do Grupo Maggi no financiamento de adubo em
condiçao de receber a safra em Itacoatiara.
A pesquisa realizada na Amazônia desenvolveu cinco
cultivares que já sao plantadas em Rondônia e Maranhao e poderao
ser implantadas em Santarém. "Sao cultivares que devem garantir
uma produtividade de pelo menos 50 sacas por hectare", diz
Prado. "Porém, só em 3 anos teremos uma avaliaçao precisa das
cultivares e manejo adequados ao município." As duas variedades
plantadas por Quincó, adaptadas ao cerrado, deverao ter um
rendimento inferior. "Se tudo correr bem, ele vai empatar o
capital investido", afirma. A disponibilidade de terra em
Santarém é outro trunfo do município. A regiao tem atualmente 420 mil
hectares de áreas degradadas, das quais 120 mil hectares sao
agricultáveis. Em todo Oeste do Pará, estima-se que apenas 3 mil
hectares sao utilizados.