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Paulinho diz que foi traído e deixa PSDB

Vereador de Santo André critica parceria do partido com a candidatura de Raimundo Salles

Por Beto Silva
do Diário do Grande ABC
01/07/2012 | 07:00
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O vereador de Santo André Paulinho Serra entrega amanhã, à Justiça Eleitoral e à executiva municipal, pedido de desfiliação do PSDB, após seis anos na agremiação. A informação foi dada ontem, em entrevista exclusiva ao Diário. O parlamentar diz que foi traído e que está decepcionado com o rumo do partido nas eleições de outubro. A sigla enterrou projeto de candidatura própria, que seria encabeçado por ele, para indicar o vice de Raimundo Salles, candidato ao Paço pelo PDT. Antes, porém, negociou participar da dobrada com a chapa de reeleição do prefeito Aidan Ravin (PTB). O petebista, no entanto, não deu resposta ao tucanato local. A reação de Paulinho é semelhante à recusa de Luiza Erundina (PSB) à parceria que faria à candidatura de Fernando Hadadd (PT) na Capital, após o petista aperecer ao lado de Paulo Maluf (PP). Com o parlamentar, outras 20 pessoas deixarão o PSDB andreense nos próximos dias. A consequência, na avaliação de Paulinho, será perda da representatividade da legenda na Câmara - hoje com três vereadores. "É o partido que mais encolherá no dia 7 de outubro", analisa, ao criticar ainda o projeto de Salles. "O PSDB se apequenou para ser coadjuvante de uma candidatura também coadjuvante." O vereador, que não disputa a reeleição (apesar de seu nome estar na chapa tucana homologada ontem), decide até o fim do mês qual campanha que apoiará - se a de Aidan ou a do petista Carlos Grana, pois exclui a do pedetista - e após as eleições qual legenda defenderá.

 

DIÁRIO - Definidas as chapas, qual avaliação que o sr. faz do quadro eleitoral e da posição do seu partido, o PSDB?

PAULINHO SERRA - Na minha avaliação, não faz o menor sentido o PSDB em Santo André ir com o Salles. É um erro político grave. Inclusive deixo o partido para não causar nenhum constrangimento. Tenho pelo PSDB uma mistura de sentimentos de gratidão e decepção, porque tínhamos construção legítima (de candidatura própria), viável e ela foi ignorada por uma parte do partido no âmbito municipal, que não tem nenhuma representatividade social nem eleitoral. Infelizmente, o PSDB se apequenou para ser coadjuvante de uma candidatura também coadjuvante.

 

DIÁRIO - O sr. acredita que a decisão de eliminar a possibilidade de candidatura foi pessoal de alguém do partido, de um pequeno grupo...

PAULINHO - Sim, mas não faço política desse jeito. Faço com proposta, de maneira séria, baseada em ideias novas para a cidade, com debate com a sociedade civil. Nada disso houve nessa decisão do PSDB. O que houve foram deliberações pessoais, regadas de imaturidade e o partido vai pagar um preço caro por tudo isso. O que eu lamento profundamente.

 

DIÁRIO - Então o maior erro foi não ter dado continuidade ao projeto de voo solo?

PAULINHO - O próprio presidente estadual, Pedro Tobias, a quem eu agradeço a consideração, tardiamente acabou reconhecendo isso, que o PSDB errou. E utilizou até um termo pesado, disse que foi um estupro da nossa candidatura, para ter uma ideia da violência do que aconteceu. Não com Paulinho Serra, mas com todo o grupo que nos acompanhava nesse projeto.

 

DIÁRIO - Quando o sr. entrega a desfiliação? E quantas pessoas do grupo vão junto?

PAULINHO - Entrego amanhã, juntamente com várias lideranças do partido. Em torno de 20, todas que acreditavam no projeto. A ex-vereadora Heleni de Paiva, o ex-vereador Fernando Gomes, outros pré-candidatos ao Legislativo, enfim, é um grupo significativo, que vai continuar fazendo política. Podemos participar do processo de outras formas. Fica no PSDB a parte que não tem voto. A gente não vê em nenhum momento no PSDB debate de propostas, só debate de ocupação de cargo por cargo. Pediu vice para um (prefeito Aidan Ravin), não deu, pediu para outro (Salles). Por isso esse grupo deixou de acreditar nas pessoas que conduzem o partido. Política passa por fase de descrédito muito grande perante a população justamente por isso, porque cada um só vê o seu. Eu não faço assim, faço de forma nova, ética, coerente e transparente. Não vou compactuar com esse tipo de arranjo, com reviravoltas injustificadas.

 

DIÁRIO - De quem é a culpa por essa situação? Da coordenação regional (até então sob comando do deputado federal William Dib), do PSDB municipal...

PAULINHO - Houve erro na estratégia da coordenação, mas não acho que foi a principal culpada. O PSDB vai pagar preço caro por incompetência e inabilidade do diretório municipal. A coordenação retratou à executiva estadual o que a municipal pensava. A municipal nunca brigou pela candidatura própria. O engrandecimento do partido se dá com a candidatura.

DIÁRIO - Dá para mensurar o tamanho do prejuízo que o PSDB terá na eleição com esse esvaziamento?

PAULINHO - Com certeza perderá representatividade na Câmara. Temos três vereadores, eu fui o mais votado da cidade em 2008. E a perda da oportunidade de mostrar para a sociedade que éramos um partido diferente. Isso é o principal. Existe grande decepção no ar da sociedade que acreditava nas figuras do PSDB. É o partido que mais encolherá no dia 7 de outubro.

 

DIÁRIO - Quando o sr. fala que tem o grupo com maior potencial eleitoral do partido, qual foi o erro para não conseguir concretizar a candidatura?

PAULINHO - Acreditamos nas pessoas erradas e fomos traídos. O acordo era o diretório ser constituído com maioria do grupo que lá está hoje e que a candidatura própria seria defendida até o esgotamento. Estávamos cientes do risco de ocorrer intervenção política de instâncias superiores. Mas não poderiam acontecer todas as reviravoltas na municipal. Isso não estava combinado.

 

DIÁRIO - Como o sr. acha que a eleição fica agora?

PAULINHO - Vai polarizar entre o atual governo e Carlos Grana (candidato ao Paço pelo PT). Vai ser bastante disputado. Espero que seja sobre propostas, que é o que a cidade espera também. Tomara que o debate não vá para a baixaria. Será polarizada entre o que foi feito na gestão anterior do PT (de João Avamileno) e os quatro anos da gestão Aidan.

 

DIÁRIO - Por que o sr. tira o Salles do páreo?

PAULINHO - Porque não acredito que tenha representatividade na sociedade civil, nos formadores de opinião, nas ruas. Não representa o novo, sem proposta efetiva, sem grande produção, não tem construção social. É simplesmente uma ocupação de espaço. E a população está cada vez mais consciente de que esse tipo de candidatura só tem um propósito, que não é melhorar a vida das pessoas.

 

DIÁRIO - O fato de o vice de Salles, Ricardo Torres (presidente do diretório municipal do PSDB), não morar na cidade, deve causar problemas para a candidatura do pedetista?

PAULINHO - Acredito que sim. Vai se tornar uma discussão jurídica. Já tivemos o caso do Celso Russomanno (que teve registro de candidatura impugnado na eleição de 2000). E ainda que não seja ilegal, é um tanto quanto imoral.

 

DIÁRIO - No momento de avaliar os governos anterior e o atual, o que pode ser extraído de positivo e negativo de cada um?

PAULINHO - O governo petista tinha mais planejamento, mais organização, setores que o governo atual peca muito. Hoje faltam projetos. Nunca se teve tanto dinheiro disponível pelo BNDES, pelo BID, pelo PAC para projetos. E Santo André deu uma parada no tempo. A gente compara com cidades vizinhas... mesmo com o governo do Estado, que é uma cidade parceira, foi uma das que menos recebeu (verbas não constitucionais). Nesses quesitos, o governo petista tinha mais qualidades. Mas não é só isso. O governo atual tem se esforçado em revitalizar algumas áreas, trazer algumas melhorias, mas não saíram do papel ainda. É a população que vai julgar. Tem de haver planejamento, implementação e manutenção de resultados. Não dá para começar a implementar alguma coisa sem o planejamento. Foi isso, por exemplo, que aconteceu no Semasa (caso de suposta extorsão de empresários para venda de licenças ambientais). O combate à corrupção tem de ser de maneira austera. O grande mal deste País é a impunidade. Na questão política, é a grande chaga do sistema. Esses erros terão de ser corrigidos.

 

DIÁRIO - Em qual palanque o Paulinho Serra estará na eleição? E qual seu futuro político?

PAULINHO - Não serei candidato a vereador, até porque me comprometi com o grupo (porque seria candidato a prefeito). Eu cumpro com meus compromissos. Todo esse grupo de pré-candidatos a vereador, que acreditava na candidatura a prefeito, não terá Paulinho Serra como concorrente. Serei um grande apoiador de quem ficar. Vou participar ativamente dessa eleição. Vamos avaliar os programas de governo que serão apresentados e vamos tomar decisão coletiva. E vamos participar do processo. Terei lado. A única via descartada é a do Salles, por não ser uma construção legítima. Foi a reboque, com restos de outras construções que não foram efetivadas. Quanto ao futuro, não estamos nos despedindo da política. É apenas um até breve.

 

DIÁRIO - Já tem novo partido em mente?

PAULINHO - Vamos esperar passar as eleições, o futuro da cidade para os próximos quatro anos já estará definido e, a partir daí, construiremos novo projeto partidário, numa sigla que tenha objetivos claros e projetos consistentes. Até o fim do ano vamos embarcar numa outra agremiação, que não tenha ódio. Queremos fazer política com ousadia e alegria.

 

DIÁRIO - O plano é sair a deputado em 2014?

PAULINHO - Já temos um grupo, que pode ser anexado a um outro grupo. Temos nossas idéias, propostas. E podemos ter sucesso ou não na eleição deste ano. Depende muito do resultado eleitoral. Não vamos abandonar o projeto (de ser prefeito). Estamos apenas postergando. E isso passa pela eleição de 2014. Mas vamos analisar com bastante calma e tranquilidade, porque tem bastante coisa para acontecer ainda. O sonho permanece. Entrei na política com o intuito de contribuir para uma cidade melhor. Resgatar boas práticas administrativas, como as do saudoso prefeito Celso Daniel (morto em 2002).

 

DIÁRIO - É um passo para trás a decisão que o sr. toma agora?

PAULINHO - Não. É a manutenção do compromisso que tenho com esse grupo. Muita gente duvidava que eu não sairia a vereador se não fosse candidato a prefeito. Eu tenho palavra. É apenas um projeto diferente do que imaginávamos ser o ideal. Vamos colocar nossas idéias de uma outra forma, num outro palanque.

 

DIÁRIO - Quando o sr. escolherá o lado?

PAULINHO - Vou dar uma acalmada agora. Depois reunirei o grupo. Até o fim do mês decidiremos.

 

DIÁRIO - Sabe que o PSDB pode pedir sua cadeira na Câmara. Como vai encarar isso?

PAULINHO - Estou muito tranquilo. A lei eleitoral é clara quando fala de perseguição. A declaração do presidente estadual de que minha candidatura foi estuprada é clara. Se pedirem meu mandato vou me defender, não há problema. Houve perseguição e mudança do ideológico partidário.




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