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‘Peões’ volta a ser exibido ao Grande ABC
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
10/05/2005 | 11:48
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Duas pessoas que tiveram suas histórias profundamente ligadas ao movimento operário brasileiro ainda não se reencontraram com o passado. Luiz Inácio Lula da Silva e Marisa Letícia não viram os documentários Peões, que resgata a história de anônimos que integraram as massas operárias nas greves de 1979 e 1980, e Entreatos, sobre os últimos 30 dias da campanha de Lula à Presidência. É bastante provável que eles não venham à região no meio desta e da próxima semana para ver a exibição dos dois filmes no Sesc Santo André, pelo projeto Tela à Vista, em cartaz no teatro da unidade (capacidade 303 lugares).

Peões será exibido nesta quarta-feira, às 19h30. Entreatos, no próximo dia 18, no mesmo horário. Ambos têm entrada franca (r. Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1250).

O público da região terá mais essas duas oportunidades de ver os dois filmes que têm uma forte ligação com a história do movimento operário e, por razões históricas, com o Grande ABC. Peões não é um filme político. O diretor Eduardo Coutinho conversa com metalúrgicos, que tiveram seus rostos registrados em fotos e imagens daquele período, mas que não subiam em palanques.

Sindicalistas e ex-metalúrgicos ajudaram o diretor a localizar essas pessoas a partir de fotos e outros documentários sobre as greves. Coutinho sempre deixou evidente que não queria fazer história política ou burocracia partidária. Unanimemente chamado de maior documentarista brasileiro, Coutinho manifesta em Peões sua linguagem particular: partir de uma generalidade histórica para o particular, procurar a individualidade e o acaso em uma entrevista.

Com isso, ele faz do entrevistado não um objeto do documentário, mas sujeito, que dialoga e se expressa. Coutinho investe na transformação a partir da fala de um indivíduo. Não lhe interessa o sujeito coletivo, uma classe social ou categoria profissional, embora parta sempre dessa generalidade. Lula, portanto, não lhe interessa, mas sim o meio onde ele surgiu. Coutinho interliga a grande história – as greves e o movimento sindical – com a pequena história de homens e mulheres comuns, excluindo os sindicalistas que se tornaram políticos ou assumiram postos em secretarias municipais na região. “Os anônimos não têm nada a perder”, disse Coutinho, à época do lançamento.

Um dos entrevistados é Antonio Ferrasoli, que dá seu depoimento no filme como um “coração solitário”. Operário aposentado, morreu em janeiro deste ano, aos 79 anos. Ele viu Peões na estréia em novembro de 2004 – e Entreatos, em dezembro – e, na ocasião, afirmou ao Diário: “Gostei da fala de todos no filme, tudo é verdade. Imagine ver as pessoas saindo das massas grevistas para a tela de cinema?”. Outro entrevistado é Geraldo Aniceto de Souza, o último tanto na ordem das filmagens como entre os que entram em cena. É dele a fala que encerra o filme, “Você já foi peão?”, dirigida ao diretor – e por conseqüência, ao espectador. É um exemplo do acaso que o documentarista espera em suas entrevistas. “Ser peão é uma condição que seguramente a maioria do público não sabe o que é. Talvez só no Grande ABC, onde é natural que haja operários na platéia, mas no resto do país não se tem a mínima idéia”, diz Coutinho.

Na próxima quarta-feira é a vez de Entreatos, documentário de João Moreira Salles. Os dois filmes foram produzidos juntos – a intenção inicial era fazer um único longa – e a interligação está expressa no título. Entreatos mostra o momento de um homem entre um ato e outro, entre ser líder operário e ser o futuro presidente da República. O filme é cinema direto – a câmera ligada registra o que as pessoas vão falando ao redor. Numa dessas ocasiões, numa viagem entre Macapá e Belém – muito desse material deve figurar nos extras em DVD – Lula desenvolve uma teoria sobre a singularidade do PT ser um partido que fez um operário se tornar um dirigente político e não proletarizou estudantes universitários ou intelectuais, como fazem as esquerdas européias. Discussões à vista.



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