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Noves fora, zero. Zero para todos

Na guerra entre polícias que assustou São Paulo, é inegável que os dois lados têm razão

Carlos Brickmann
19/10/2008 | 00:00
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Na guerra entre polícias que assustou São Paulo, é inegável que os dois lados têm razão. E também é inegável que os dois lados não têm razão.

Os salários da polícia paulista já não eram grande coisa, e desde o início da era tucana, há 14 anos, foram mais achatados. O Estado mais rico do Brasil é o que paga os piores salários. O pedido de aumento, portanto, é justo. Mas greve de policiais é difícil de engolir. E uma horda de homens pesadamente armados, ocupando viaturas de serviço, tentando cercar o Palácio do Governo, sob o comando de políticos em busca de votos, nem é greve: é rebelião. Inaceitável.

O governo também tem suas falhas: primeiro, há muito tempo convive com o achatamento do salário dos policiais, sem se mexer para corrigi-lo. A distorção é grotesca: como os promotores, como os juízes, os delegados fazem Direito, mais um curso específico - mas só recebem uma fração do que é pago às outras carreiras. Segundo, e mais grave, o governo demonstrou que não tem controle sobre sua polícia. Há muitos anos o comando supremo da segurança do Estado está fora das mãos de policiais civis ou militares; e agora ficou mais do que claro que a tropa não obedece ao comandante. Onde está a disciplina? Como é que o Estado entrega armas e equipamentos letais a pessoas cuja obediência é duvidosa?

Restabelecer a disciplina é o mais urgente, com a punição dos rebelados. Em seguida, reestruturar a polícia. Quase 200 mil homens mal pagos, armados e indisciplinados, sujeitos a políticos suspeitos, são um risco que não se pode correr.

COISA BRAVA
Parece incrível, mas o governo mudou o Plano Geral de Outorgas, para tornar possível a compra da Brasil Telecom pela Oi - que, embora fosse proibida por lei, já tinha até financiamento público acertado com o BNDES. É a primeira vez na história desse país em que um negócio ilegal é acertado e depois, com base no acordo entre comprador e vendedor, a lei é modificada para torná-lo legal.

VISÃO CURTA
O presidente Lula admira faraós e imperadores. Mas Édison Lobão, seu ministro de Minas e Energia, não volta tão longe: admira mesmo a ditadura militar. Mas Lobão não deve ser crucificado por lembrar com saudade o regime dos generais. Lobão gosta é de estar no governo, seja de baionetas, seja de pás e picaretas. Ele fica onde sempre esteve. E não tem culpa de que governo mude.

AGENDA DO HOMEM
É difícil, depois de assistir à demonstração de indisciplina policial, com o total apoio de centrais sindicais governistas, esquecer a frase do presidente Lula, há pouco dias: "Escrevem no seu caderninho que a Marta vai ganhar".

O SONHO DE LULA
Em Moçambique, o presidente Lula se queixou da duração dos mandatos presidenciais, que considera curtos. Na verdade, aliás, a menos que ele saiba algumas coisas que não sabemos, os mandatos são de quatro anos, mais curtos do que ele pensa. "O que eu quero dizer é o seguinte: é que o mandato de um presidente é de cinco anos. No tempo em que você tinha os faraós e os imperadores, aí as coisas aconteciam. E esta é uma inquietação que eu tenho." Há quem diga que esta é uma inquietação que aflige o presidente sempre que ele tem novas idéias sobre novas reeleições. O pior é considerá-las boas idéias.

FESTA ANTECIPADA
Luiz Marinho, candidato do PT à Prefeitura de São Bernardo, comemora a vitória sem se preocupar com essas bobagens de votação. No dia 22, quatro dias antes do segundo turno, faz a Festa da Vitória no clube noturno Gallery, em São Paulo, com convites à venda por R$ 10 mil. Quem quiser ajudá-lo a sentar-se na cadeira de prefeito antes da hora deve telefonar para 4330-6937.

VALE TUDO
A campanha em São Paulo está brava, a campanha em Belo Horizonte é feroz, a campanha em São Bernardo é uma guerra. Mas provavelmente a disputa mais suja do país é a que se trava no Rio. Eduardo Paes, candidato do governador Sérgio Cabral, já usou até o placar eletrônico do Maracanã para fazer propaganda ilegal. Agora, o Tribunal Regional Eleitoral apreendeu uma Kombi da campanha, com panfletos ilegais contra o adversário de Paes, o deputado Fernando Gabeira, do PV. Havia até material falso atribuído à Associação de Moradores do Morro São José da Pedra. E, em sua propaganda, Paes garante que, embora ele também tenha fumado maconha, seu adversário fumou mais do que ele.

MAIS UM POUCO!
Sentindo falta do noticiário do Congresso? Por causa do segundo turno, o trabalho continuará suspenso por pelo menos mais uma semana. Depois tudo continua igual, já que é preciso festejar a vitória, mas as férias deixam de ser oficiais.




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