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Vitoriosa, transplantada deixa UTI
Adriana Gomes
Do Diário do Grande ABC
14/11/2005 | 07:51
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“Eu fui ajudada e agora outras pessoas poderão ser ajudadas.” Essa foi a primeira frase dita pela transplantada Eliane Jimenes no domingo, ao sair da UTI do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Em entrevista exclusiva ao Diário, a farmacêutica de São Bernardo falou dos seus planos no quarto para o qual foi transferida, após quase três semanas de UTI, dois transplantes de fígado e diversas cirurgias que precisaram ser feitas devido a intercorrências clínicas que, por pouco, não a levaram para a morte.

Eliane, 39 anos, que chegou a ser desenganada pela equipe médica do hospital, surpreende a todos pela recuperação e abre definitivamente as portas para a mudança do critério para transplante de órgãos, que hoje é basicamente cronológico no Brasil, diferente do que ocorre em outros países, que priorizam o fator da gravidade. Depois de permanecer desacordada por quase 20 dias, ela ficou emocionada por saber que sua história comoveu todo o país e levantou a discussão dos problemas nas filas de transplantes, encabeçada principalmente por seu marido, o comerciante Vagner Jimenes, 40.

“Agora, vou tentar me restabelecer e ajudar ao próximo”, diz Eliane, confiante. A previsão é de que a alta do hospital se dê em cerca de 20 dias, mas a moradora do Grande ABC pensa mais positivo. “Daqui a 15 dias quero sair daqui com toda disposição.”

Se não tivesse conseguido a liminar da juíza Fátima Douverny, do Fórum de São Bernardo, e não fosse providenciada imediatamente a internação – visto que o governo do Estado cassava imediatamente até então todas as liminares que quebravam a ordem cronológica –, Eliane estaria morta. A afirmação é do marido Vagner, que pode ser facilmente comprovada pelos laudos clínicos da saúde de Eliane antes dos transplantes recentes, de sua condição aparente e de sua colocação na fila do transplante – 635ºlugar.

– “Após o primeiro transplante malsucedido, os médicos vieram me dizer que o quadro era gravíssimo e irreversível. Os rins dela pararam de funcionar, os pulmões estavam ruins, ela teve edema cerebral. A condição era a pior possível. Fui então dizer à minha filha (Gabriela, 14 anos) que Deus já tinha dado a chance de vida que poderia dar à mãe dela. Mas a menina chorou muito e não aceitou. Então, eu decidi que também não aceitaria. Montamos uma corrente de fé (Vagner, amigos e família) e oramos sem parar, uma noite inteira. Eu disse aos médicos que um novo órgão surgiria na manhã seguinte. Eles ficaram pasmos quando surgiu”, conta o comerciante Vagner Jimenes, afirmando que viveu momentos de superação do limite da fé.

Além do novo órgão, os médicos ainda diziam que Eliane precisava que um dos pulmões estivesse funcionando perfeitamente para que a paciente pudesse resistir ao segundo transplante consecutivo. E também com relação a isso ela foi contemplada. Parte da própria equipe médica do hospital Oswaldo Cruz fala agora em “milagre”, contrariando a postura cética dos profissionais da medicina.

Visita – Eliane e a família receberam domingo no hospital a visita de Laudinir Pirineto, 49 anos, candidato ao transplante que está em primeiro lugar na fila para pacientes com sangue do tipo O. Ele havia questionado o método da família de Eliane Jimenes quando do início da polêmica provocada pela liminar que garantiu a ela o transplante. Agora, sensibilizado com a causa, ele foi ao hospital e abraçou Vagner Jimenes. “Não fui eu que procurei a imprensa para falar”, desculpou-se.




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