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PCC faz rebelião a hora que quer
Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
29/03/2006 | 08:20
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Uma rebelião de cerca de 20 horas no recém-inaugurado CDP (Centro de Detenção Provisória) de Diadema coloca a região no mapa de ações orquestradas pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) pela segunda semana seguida. Ao mesmo tempo que oito agentes penitenciários permaneciam reféns em Diadema, outras três rebeliões ocorriam em unidades prisionais do Estado segunda-feira e terça-feira. As revoltas sincronizadas começaram praticamente no mesmo horário, após ordens de membros da facção criminosa. A insólita reivindicação da troca dos uniformes dos presos, de amarelo para bege, mais parece uma provocação do PCC ao frágil sistema penitenciário do Estado. Só neste ano, foram 12 rebeliões (quando há reféns) e 19 motins nas unidades prisionais administradas pela SAP (Secretaria de Estado da Administração Penitenciária).

“É tudo nosso.” A frase, bordão das duas rebeliões no CDP de Mauá na semana passada, também podia ser ouvida a todo momento na unidade de Diadema. A rebelião começou às 17h de terça-feira. Na hora da revista para bóia, como é chamada a refeição nas detenções, presos renderam os agentes penitenciários com facas. Muitos correram. Outros oito não conseguiram escapar. Dentro das celas, assistiam a tudo sem ser incomodados. O aviso dado pelos presos era de que esperavam ordens da torre, um alto membro do PCC que comandava as ações de outra unidade prisional via celular.

A unidade de Diadema, inaugurada em novembro de 2005, é um dos casos raros de CDPs abaixo de sua capacidade de lotação. No prédio de 576 vagas, estavam terça-feira 383. Todos os amotinados couberam no terceiro andar, penúltimo do prédio. A meta era atingir o topo, onde fica o pátio de sol. Mas, no caminho entre a visibilidade proporcionada pelas câmeras acopladas aos helicópteros das emissoras de TV, estavam os agentes penitenciários da torre, armados com espingardas calibre 12.

Os tiros ecoavam toda vez que os detentos subiam ao andar. “Sai, ladrão”, gritavam os agentes, antes de disparar. Uma parede do prédio ficou cheia de furos. “Tínhamos ordens de atirar. Eles de destruir a cadeia. Isso nós conseguimos impedir”, afirmou um dos agentes que estava na torre. A disputa do território continuou durante toda a rebelião.

Na confusão, um agente passou mal por volta das 20h de segunda-feira. “Eles perguntaram se eu tinha problemas do coração. Eu respondi: ‘Se não tinha, estou tendo agora‘. Aí eu fui solto”, relata o funcionário, refém outras quatro vezes em rebeliões em outros locais, que pediu para não ter o nome revelado. O nervosismo também predominava do lado de fora do CDP. Dezenas de mulheres, parentes de presos, gritavam, choravam e rezavam sem parar.

Às 13h45, terminava a rebelião. Menos de uma hora antes, um carcereiro era liberado pelos presos na Cadeia Pública de Tatuí, interior do Estado. A situação havia sido revolvida em revolta no CDP de Osasco às 13h30: quatro agentes-reféns foram liberados sem ferimentos. Às 14h, a rebelião seria controlada na unidade de Pinheiros: outros três funcionários também saíram ilesos.

Soltos os sete reféns de Diadema, era a vez de a Tropa de Choque entrar em ação. Pelo menos três ônibus entraram no CDP no fim da tarde de terça-feira para fazer a revista das celas. O saldo da operação não foi divulgado pela Polícia Militar e nem pela SAP. Os danos causados ao prédio são classificados como “de pequena monta”. Nenhum preso ficou ferido, segundo a SAP.

A secretaria cogita a possibilidade de que as revoltas tenham sido orquestradas por alguma facção criminosa. Nos últimos dias 20 e 21, ocorreram pelo menos seis rebeliões, duas delas em Mauá. Além da troca da cor dos uniformes, os presos participantes das revoltas de terça-feira pediam maior número de visitantes por pessoa. Funcionários do CDP e policiais, comentando as numerosas revoltas desta e da outra semana e os pedidos extravagantes, brincavam com o nome da secretaria reponsável pelos presídios. A sigla SAP era traduzida como ‘serviço de atendimento aos presos‘. (Colaborou Gabriel Batista)



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