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Vizinhança põe fogo em apartamento de soldado
Por Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
06/07/2005 | 07:55
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O triplo homicídio que vitimou a faxineira Tereza Rodrigues Faria, 50 anos, e seus dois filhos causou a revolta dos moradores vizinhos, que ficaram indignados com a brutalidade policial.

A ira da vizinhança foi direcionada ao apartamento onde morava o soldado Sebastião Farias Pinto, localizado no segundo andar do conjunto habitacional Diadema da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). Segundo familiares dos mortos e moradores, ele foi o responsável por incitar uma briga com uma das vítimas e chamar reforço policial.

Na manhã desta terça, às 9h30, um grupo de moradores invadiu o prédio onde o soldado Pinto morava com a mulher e uma filha havia dois meses, arrombou a porta e ateou fogo no local. Não havia ninguém no apartamento desde a noite do crime.

O Corpo de Bombeiros foi chamado e apagou o fogo. Ficaram danificados a sala, o quarto e o banheiro, além de alguns utensílios domésticos. O soldado Pinto compareceu até o 2º DP de Diadema, onde a ocorrência foi registrada, e disse que teve um prejuízo de aproximadamente R$ 4 mil.

De acordo com o boletim de ocorrência, o soldado estava trabalhando quando soube do atentado a seu apartamento. Ele prestou depoimento e foi embora. Segundo a delegacia, como o soldado não está sendo acusado de cometer a chacina, não havia motivo para detê-lo.

O boletim de ocorrência diz que o incêndio foi provocado por represália da vizinhança, visto que o soldado estava envolvido nas circurstâncias da chacina. Ninguém foi preso ou detido para averiguação por causa do incêndio.

O porta-voz da Corregedoria da Polícia Militar, capitão Marcelino Fernandes, afirmou que o soldado terá suas armas apreendidas e também será investigado. Ele é acusado por moradores da favela de disparar para o alto em estado de embriaguez, antes de chamar o reforço policial que culminou na chacina.

Truculência – Os moradores do Jardim Portinari afirmam que não é a primeira vez que PMs agem com brutalidade no local, embora nunca tenham presenciado as cenas bárbaras que viram na noite de segunda-feira.

"Aqui acontecem espancamentos e falta de respeito quase todos os dias. Só porque moramos em uma área pobre, a Polícia Militar acha que pode tratar a gente como animais", disse o mecânico G.A.G., 35 anos, que mora há 20 anos no bairro.

O muro localizado na esquina da rua Vitor Meireles e Viela Campo I, ao lado de onde ocorreu a chacina, serve como ponto de encontro dos jovens e outros moradores do bairro.

"Muitas vezes estamos apenas conversando aqui, numa boa, e chegam os policiais e começam a nos revistar. Sempre tem um tapa na orelha ou um soco no estômago. Querem encontrar uma arma ou alguma droga com a gente de qualquer jeito, para levar alguém para a cadeia", disse o ajudante geral D.A.S.S., 24 anos. "Já estamos acostumados com a falta de respeito e truculência dos policiais, já se tornou uma coisa até normal. Mas agora foi demais. Nunca pensei que um sargento pudesse fazer a matança que nós presenciamos. Acho que ele deve ter algum problema mental", acrescentou o ajudante geral.

"No começo do ano, em janeiro, estava conversando com mais três amigos perto do muro, quando chegaram uns PMs do 24º Batalhão. Depois de me revistar inteiro, um deles me disse que eu deveria estar com alguma droga. Ele me deu uns tapas no rosto e chutes na minha perna. Meus amigos nada puderam fazer", disse o motoboy E.A., 23 anos.




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